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sábado, 20 de março de 2010

Iraque: o país 7 anos depois da invasão norte-americana - Parte 2


Poucos dias depois do discurso de Bush, o Iraque aceita que os inspetores da ONU regressem ao país. Contudo, a Casa Branca, que desde 1998 vinha exigindo o retorno dos inspetores, passa nesse momento a dificultar o processo, sinalizando já sua real intenção em invadir o Iraque. Em novembro de 2002, a ONU publica uma nova resolução, alertando o governo iraquiano de que esta seria sua última chance de permitir a entrada dos inspetores e de que teria que arcar com graves conseqüências se não cumprisse o acordo.

E um aspecto interessante dessa resolução: ao invés de exigir que os inspetores comprovassem a existência de armas de destruição em massa no Iraque, ela imputou o ônus da prova ao governo de Saddam Hussein, que tinha, dessa forma que demonstrar o contrário. Ainda assim, Saddam Hussein concorda e no final de novembro uma equipe de inspetores da ONU retorna ao Iraque. Na primeira quinzena de dezembro, o governo iraquiano entrega um relatório de mais de 12 mil páginas, demonstrando a não existência de armas de destruição em massa.

O teatro bélico e a preparação para a ocupação
Assim que o relatório foi entregue, Estados Unidos e Grã Bretanha questionaram sua veracidade, apesar do trabalho dos inspetores já sinalizar para a não existência das supostas armas químicas e biológicas em território iraquiano. O ano de 2003 começa, dessa forma, com os Estados Unidos já montando seu teatro bélico, ampliando o número de soldados na região, que já chegavam a 100 mil. No final de janeiro, o chefe dos inspetores, Hans Blix, declarou ao Conselho de Segurança da ONU que o governo iraquiano não estava cooperando como devia e que ainda existiam armas de destruição em massa no pais.

O relatório de Blix, contudo, era questionado pelo presidente da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohammed El-Baradei, que garantia que o Iraque não possuía nenhum tipo de arma atômica. Os argumentos de Bush para a invasão ganhavam, porém, cada vez mais força. Em março de 2003, Hans Blix apresenta um novo relatório, dizendo que até aquele momento não havia sido encontradas armas de destruição em massa no Iraque, sendo necessário, contudo, o prosseguimento dos trabalhos.

As declarações de Blix não convenceram a Casa Branca e, poucos dias depois, o presidente Bush sinalizou que as tentativas diplomáticas estavam esgotadas e que ele mobilizaria um conjunto de países aliados para a invasão do Iraque e destruição das armas químicas e biológicas, bem como mísseis de longo alcance. Assim, no dia 20 de março, tem início a invasão aliada no Iraque, com o nome de “Operation Iraq Freedom” (Operação Liberdade do Iraque).

A invasão e a tomada de Bagdá
As tropas aliadas invadiram o Iraque com um contingente de aproximadamente 180 mil homens, dos quais a esmagadora maioria eram norte-americanos e britânicos. O exército aliado era imensamente superior ao exército iraquiano, de forma que em poucos dias, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha conseguiram tomar Bagdá. A ocupação da capital iraquiana e sede do governo ficou mundialmente notabilizada pela derrubada da estátua de Saddam Hussein por parte do exército aliado.

Em meados de abril, a última cidade iraquiana a oferecer resistência foi tomada e no dia 15 de abril foi anunciado o fim da primeira etapa da guerra. O saldo de perdas humanas foi extremamente cruel nesse período: cerca de 9 mil combatentes iraquianos caíram e quase 7,5 mil civis iraquianos morreram nessa primeira fase da guerra, sobretudo devido aos ataques aéreos ao território iraquiano. Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha estabeleceram, após esse período, um Governo Provisório, que exerceria as funções executivas, legislativas e judiciárias até a instalação de um governo democrático no Iraque.

Governo Provisório e captura de Saddam Hussein
Oficialmente, o Governo Provisório – chamado de APC (Autoridade Provisória da Coligação) – foi instituído em 21 de abril de 2003, sendo nomeado um antigo oficial do exército norte-americano, Jay Garner, para ocupar seu posto máximo. A duração de Garner à frente da APC foi breve, sendo este substituído por Paul Bremer, também indicado por Bush, e que ficou até o estabelecimento do governo democrático no Iraque, em julho de 2004.



O período de transição foi marcado por várias insurreições em todo território iraquiano, especialmente por setores da população favoráveis a Saddam Hussein e que estavam descontentes com a invasão das tropas aliadas. Aproveitando-se do conhecimento do território, os iraquianos insurgentes iniciaram uma série de guerrilhas contra as tropas norte-americanas e britânicas, valendo-se também de morteiros, ataques suicidas, mísseis e dispositivos explosivos improvisados.

A despeito de toda essa crise no território iraquiano, Bush determina que as tropas aliadas permaneceriam ali e inicia uma operação de caça aos líderes do antigo governo, sobretudo Saddam Hussein. Para Bush, se Saddam Hussein fosse capturado, os conflitos na região tenderiam a diminuir, já que os revoltosos perderiam sua causa de luta. A partir de julho de 2003, iniciou-se a captura de membros do antigo governo de Saddam Hussein e também de seus familiares.

Em 13 de dezembro de 2003, as forças aliadas capturam Saddam Hussein, em um esconderijo perto de sua cidade natal. Mais uma cena que marcou o conflito na região: o principal líder do Oriente Médio havia sido capturado pelos soldados norte-americanos em um buraco, com uma aparência bem diferente daquela do antigo chefe do Estado iraquiano. A Casa Branca comemora, mas no Iraque o cenário continua desolador.

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