O fato de as pesquisas tratarem de “retratos do momento” e o mais importante ser, por isso, a análise da tendência da intenção de voto nos diversos candidatos é ponto consensual dentre os analistas políticos. Partindo dessa premissa, a pesquisa CNI/Ibope, divulgada nesta quarta-feira, 17 de março, veio confirmar o cenário amplamente favorável para a pré-candidata do governo, Dilma Rousseff.
Na pesquisa estimulada, ou seja, naquela em que uma lista de nomes é apresentada aos entrevistados, Dilma aparece com 30% das intenções de voto, encostando em Serra, que tem 35%. Esses números por si só já revelam um cenário otimista para a pré-candidata do PT, visto que em dezembro de 2009, quando foi feito o último levantamento CNI/Ibope, Dilma contava com 17% das intenções de voto contra 38% de Serra. Ou seja, enquanto Dilma subiu 13 pontos percentuais, o tucano caiu 3 pontos.
Diante do quadro, a oposição já se apressa em pontuar argumentos para minimizar esse avanço significativo de Dilma nas pesquisas de intenções de voto. O primeiro desses argumentos é que o crescimento de Dilma está relacionado à maior exposição da ministra na mídia, já que tem aparecido bastante ao lado do presidente Lula na inauguração de obras e nos eventos oficiais. O segundo ponto, defendido principalmente pelo ex-prefeito do Rio, César Maia (DEM), é de que esse crescimento já era esperado, visto que o PT tem um patamar histórico de votos em torno dos 30%.
Um terceiro ponto, destacado pela oposição, é de que a tendência, a partir de abril, seja de que a intenção de votos na ministra se estabilize na casa dos 30%, visto que após o dia 2 do próximo mês, Dilma deverá se retirar do cargo de ministra-chefe da Casa Civil, atendendo agenda estipulada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Passemos a analisar esses três pontos destacados no discurso da oposição a partir das recentes pesquisas e fatos:
Serra tem maior exposição que Dilma
O primeiro ponto que devemos destacar é que Serra é um candidato mais conhecido do que Dilma. De acordo com os números apresentados pela pesquisa CNI/Ibope de março, 65% dos entrevistados declararam conhecer bem ou “mais o menos” o candidato tucano. Enquanto isso, o percentual de entrevistados que conhecem bem ou “mais ou menos” Dilma é de 44%.
Ou seja, este argumento de super-exposição da ministra apresentado pela oposição não confere, já que Serra é bastante conhecido no Brasil desde 1998, quando assumiu o ministério da Saúde no então governo FHC. Além do fato de que o noticiário durante o período de coleta dos dados da entrevista (6 e 10 de março) foi recheado por factóides criados pela mídia direitista e que supostamente poderiam repercutir negativamente na pré-candidatura de Dilma.
Mudança no perfil do eleitorado petista
A afirmação de que Dilma encontra-se no patamar histórico de votos do PT e por isso tende a se estabilizar é duplamente falaciosa. Isto porque houve uma mudança significativa no perfil do eleitorado petista, especialmente a partir de 2006. Desde o seu surgimento, em 1980, o PT ganhou a simpatia de setores da classe média (especialmente ligados à intelectualidade) e também dos setores sindicais. Contudo, não havia uma identificação das classes mais baixas com o PT, fato que explica inclusive os resultados eleitorais nos pleitos de 1989, 1994 e 1998.
A partir do primeiro mandato do presidente Lula (2002-2006), o desenvolvimento de programas sociais de transferência de renda passou a beneficiar decisivamente milhões de brasileiros considerados em situação de pobreza e de extrema pobreza. Já nas eleições de 2006, Lula foi reeleito com folga justamente devido ao voto desses milhões de brasileiros beneficiados pelos programas do governo federal. Ou seja, enquanto uma parcela da classe média se afastou do PT, setores mais populares tendem a se aproximar muito do Partido, em função da identificação com Lula.
Logo, hoje a base eleitoral do PT tende a ser consideravelmente maior do que no passado, quando o partido só contava com os votos de setores da classe média e por isso seu desempenho eleitoral ficava em torno dos 30%. A tendência é de que se firme um novo patamar histórico de intenções de votos no partido, bem maior do que esses 30% sugeridos pela oposição, exatamente em função da aglutinação das classes mais populares.
Capacidade de votos de Dilma é muito grande
Um outro aspecto revelado pela pesquisa CNI/Ibope é crucial para derrubar o discurso demo-tucano de que a candidatura de Dilma deve se estabilizar na casa dos 30%: de acordo com o levantamento, 53% dos entrevistados pretendem votar no candidato apoiado pelo presidente Lula. Contudo, a parcela de entrevistados que conhece a candidata de Lula é de 58%. Ou seja, uma parcela expressiva de 42% dos entrevistados ainda desconhece que Dilma é candidata de Lula, o que amplia consideravelmente a capacidade de votos da petista.
Sem contar que, se analisarmos os dados do Ibope segmentados por faixa de renda, notaremos que dentre os que ganham até 1 salário mínimo, apenas 28% conhecem bem ou “mais ou menos” Dilma. Isso nos traz uma revelação importante: que justamente nesse novo eleitorado petista, o conhecimento da ministra como candidata de Lula ainda é relativamente baixo e tende a ser ampliado com o início da campanha, em julho.
Para se ter uma idéia, no Nordeste e entre os que ganham até 1 salário mínimo, o peso da apoio de Lula atinge a expressiva marca dos 69%. Ou seja, a pesquisa CNI/Ibope confirma o cenário otimista para a candidatura governista, já apontado pelo Datafolha, e certamente deve tirar o sono da oposição nos próximos meses.
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