Cardápio do boteko

sábado, 17 de abril de 2010

A farsa eleitoral atende pelo nome de Datafolha



Que a grande mídia e os setores conservadores da política nacional, a saber os demo-tucanos, sempre apostaram em uma ingenuidade coletiva do povo brasileiro não é mais novidade a ninguém. Contudo, a divulgação da pesquisa Datafolha, na madrugada deste sábado, 17, mostra que essa mesma imprensa – e seus institutos de pesquisa -, no afã de querer “enfiar a candidatura oposicionista goela abaixo dos eleitores”, tratam agora o povo brasileiro não mais como ingênuo, mas sim como burro.

Isso porque, segundo os números do Datafolha, a vantagem do pré-candidato tucano à Presidência da República, José Serra, sobre a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, cresceu para 10 pontos percentuais! No levantamento realizado no final de março, Serra aparecia com 36% das intenções de voto, contra 27% de Dilma. Agora, na pesquisa feita entre 15 e 16 de abril, os candidatos se movimentam dentro da margem de erro, com o tucano indo a 38% e a petista a 28%.

Outras pesquisas indicam aproximação entre Serra e Dilma
Nada a contestar não fosse o seguinte detalhe: somente a pesquisa do Datafolha mostra essa diferença gritante entre as intenções de voto de Serra e Dilma. Todos os outros institutos – Ibope, Vox Populi e Sensus – confirmam a tendência de aproximação da ex-ministra e do ex-governador de São Paulo, e não o contrário, como quer mostrar o Datafolha. No último levantamento do Ibope, por exemplo, realizado em março, o tucano aparecia com 35% e a petista com 30%, diferença, portanto, de 5 pontos percentuais.

Se traçarmos uma linha do tempo, veremos que, segundo a pesquisa Ibope, a diferença entre Serra e Dilma era de 20 pontos percentuais em setembro de 2009, indo a 21 pontos percentuais em dezembro e caindo para 5 pontos percentuais em março deste ano! Neste mesmo sentido, a pesquisa Vox Populi mostrava Serra na dianteira por 21 pontos percentuais em dezembro de 2009, diminuindo sua vantagem para 7 pontos percentuais em janeiro deste ano e chegando, em março, a uma vantagem de apenas 3 pontos percentuais sobre Dilma, o que configura empate técnico.

O levantamento do instituto Sensus corrobora a tendência verificada pelo Ibope e pelo Vox Populi: em janeiro deste ano, a diferença entre o tucano e a petista era de 4,5 pontos percentuais, caindo para 0,4 ponto percentual em pesquisa divulgada na terça-feira, 13 de abril, onde Serra aparece com 32,7% das intenções de voto e Dilma com 32,3%. Agora, o que nos cabe indagar aqui? Todos os institutos sérios de pesquisa do país mostram uma tendência de estagnação da candidatura tucana e uma tendência de vertiginoso crescimento da candidatura petista. Por que somente a pesquisa Datafolha mostra o contrário?

Distorção escancarada da realidade
Alguém poderia arriscar o seguinte palpite: trata-se de diferença metodológica. Realmente, os institutos de pesquisa têm metodologias diferentes para aferir a intenção de voto dos eleitores. Contudo, partimos da hipótese de que essas metodologias adotadas procuram reproduzir na pesquisa o cenário real, com a maior exatidão que for possível. Neste sentido, as pesquisas seriam mapas do comportamento do eleitorado. Por que então a diferença absurda entre o mapeamento do Datafolha em relação ao que foi mapeado pelos outros institutos?

Afinal de contas, por maiores que sejam as diferenças metodológicas, elas não explicam uma diferença absurda de 10 pontos percentuais entre os dois principais candidatos, enquanto todos os outros institutos apontam para uma diferença máxima de 5 pontos percentuais. E não é somente a questão da diferença estática entre a intenção de votos, mas principalmente da diferença dinâmica – ou seja, da tendência das intenções de voto. Quem está errado, então? Por que é claro que alguém aí nessa história está divulgando pesquisas erradas: serão o Ibope, o Vox Populi e o Sensus ou será o Datafolha? Certamente, é mais natural acreditar que apenas um está errando do que crer que três dos quatro principais institutos do país estejam apresentando pesquisas erradas.

Um outro argumento que alguém mais desavisado poderia assumir é de que a pesquisa Datafolha foi a primeira a ser feita depois do lançamento oficial da pré-candidatura de Serra, que ocorreu no sábado passado, dia 10. Ora, por maior que tenha sido a repercussão do evento tucano – e a grande mídia (Folha, Estadão, Globo) fez questão absoluta de dar ampla cobertura ao mesmo – ela não explica uma diferença de 10 pontos percentuais entre Serra e Dilma! O que explicaria então? Na visão deste blog, a explicação seria por metodologia estatística usada de maneira a induzir esse resultado, o que, em outras palavras, o que em outras palavras representa uma grande distorção da realidade!

É muito comum ouvirmos nas salas de aula de cursos de graduação em Economia, uma velha piada com ares de verdade: “estatística é a arte de torturar os dados para provar aquilo que você quer”. E de fato, parece ser esse o lema atual do Instituto Datafolha! Porque somente ele traduz em suas pesquisas retratos diferentes daqueles tirados por outros grandes institutos do país. Engraçado que assim que foi divulgada a pesquisa Sensus, mostrando empate entre Serra e Dilma, líderes tucanos duvidaram da veracidade da mesma, afirmando que “é estranho acreditar em pesquisa encomendada por sindicato”. Vendo o Datafolha, não se tem dúvida: é mais estranho ainda crer em pesquisa encomendada por um grupo jornalístico – a Folha – que está a serviço do demo-tucanato!

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