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terça-feira, 29 de junho de 2010

Em artigo para o Financial Times, Lula destaca avanços do "novo Brasil" e aponta desafios

O periódico britânico Financial Times publicou, no início desta semana, uma série de reportagens sobre o que ele chamou de “Novo Brasil”, destacando os avanços registrados em nosso país ao longo dos últimos anos nas mais diversas áreas e enumerando também os desafios que nosso país terá que enfrentar nos próximos anos. O Financial Times também traz uma matéria especial sobre o processo eleitoral brasileiro, na qual traça o perfil dos dois principais postulantes à sucessão do presidente Lula – a candidata governista Dilma Rousseff (PT) e o candidato da oposição, o tucano José Serra.

O jornal diz, em uma das matérias, que “se existe uma figura que personifica o ‘novo Brasil’, certamente é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, destacando que “seu carisma e popularidade são o símbolo perfeito da exuberância e confiança das crescentes classes de consumo do Brasil”. Tamanho é o reconhecimento do jornal em relação ao papel de Lula neste processo de transformação pelo qual o Brasil tem passado, que um dos artigos que compõem a série de reportagens foi escrito pelo próprio presidente Lula. Abaixo, transcrevemos o artigo, intitulado ”O destino de uma nação”:

“Quando olho para trás em meus sete anos como presidente do Brasil, tenho grande motivo para me orgulhar das conquistas do meu Governo. Nesse tempo, trouxemos de volta o crescimento para uma economia que esteve por muito tempo estagnada, tirando dezenas de milhões de pessoas da pobreza absoluta, criando mais de 14 milhões de empregos formais e aumentando a renda dos trabalhadores. Hoje, a maioria dos brasileiros são membros da classe média. Nosso mercado interno também cresceu excepcionalmente, o que foi crucial para proteger o Brasil dos piores efeitos da crise financeira global.

Fizemos isto mantendo a inflação sob controle, reduzindo a relação entre a dívida e o Produto Interno Bruto e reconstruindo as funções reguladoras do Estado brasileiro. Colocamos em marcha um processo poderoso para melhorar a nossa infra-estrutura - em energia, habitação e bem estar social - através do Programa de Aceleração do Crescimento. Como parte deste, estamos eliminando os gargalos que afetavam a nossa competitividade no passado - o que é muitas vezes chamado de "custo Brasil".

Eu sou o primeiro presidente do Brasil sem um diploma universitário, mas o meu governo construiu a maioria das universidades federais e garantiu que suas portas se abrissem para centenas de milhares de jovens pobres. O Brasil tem sido também capaz de reduzir substancialmente a sua vulnerabilidade a choques externos. Nós não somos mais devedores, mas nos tornamos credores internacionais. Há uma pequena ironia pelo fato de que o líder sindical, que já gritou nas ruas "fora FMI!", tenha se tornado o presidente que pagou as dívidas do Brasil para essa mesma instituição - e acabou emprestando-lhe US$ 14 bilhões.

É particularmente gratificante ter conduzido essas mudanças junto ao fortalecimento da democracia. As duras críticas que tenho enfrentado por parte da oposição e de setores da mídia são o testemunho da saúde da democracia do Brasil. Já perto do final do meu segundo mandato como presidente, o que me deixa particularmente orgulhoso é o lugar que o Brasil vem ocupando no mundo ao longo dos últimos anos, juntamente com outras nações emergentes. Com estas nações, estamos criando as bases de uma nova economia internacional e uma nova geografia política. Com elas, temos tentado construir um mundo mais justo em termos sociais e econômicos - livre da fome e da miséria, respeitando os direitos humanos e capazes de enfrentar a ameaça do aquecimento global.

Mas os sucessos que o meu governo tem conseguido não podem obscurecer os enormes desafios que ainda temos pela frente. Mais importante, ainda temos uma quantidade significativa de pobreza em nosso país. A criação de oportunidades para os nossos jovens, em particular, deve ser um objetivo central, pois é fundamental para o futuro que estamos construindo para o Brasil. Para fazer isso, devemos tratar de questões como a forma de melhorar o nosso sistema de ensino, como encontrar formas eficazes de lidar com drogas e violência e como oferecer aos nossos jovens opções reais em termos de trabalho, lazer e cultura.

Algumas destas iniciativas serão decisivas na construção de uma economia que é cada vez mais baseada no conhecimento. Os grandes avanços que temos feito no campo da ciência - que nos colocou entre os melhores do mundo nesta área - devem continuar sendo traduzidos em avanços tecnológicos. Mas também existem déficits políticos que têm que ser enfrentados. A reforma do Estado brasileiro, que já começou, deve continuar e ser aprofundada, junto com a reforma tributária. A reforma do nosso sistema político e eleitoral não pode mais esperar – pois isto poderia comprometer a continuidade dos avanços que temos desfrutado nos últimos anos.

Depois que deixar a presidência eu quero continuar a contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Em nível internacional, pretendo concentrar minha atenção sobre as iniciativas em benefício dos países da América Latina, do Caribe e do continente africano. O Brasil tem muita experiência que pode compartilhar. Nós não podemos ser uma ilha de prosperidade cercada por um mar de pobreza e injustiça social. Eu quero continuar os esforços que meu governo tem feito para a criação de um mundo multilateral e multipolar que esteja livre da fome e da pobreza. Um mundo em que a paz já não é uma utopia, mas uma possibilidade concreta”.

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