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domingo, 6 de junho de 2010

Ibope: dinâmica regional do voto reforça cenário favorável para Dilma

A análise do corte regional das pesquisas de intenção de voto nos dá subsídios para compreendermos a tendência geral apresentada pelas candidaturas a partir de seus desempenhos locais. Neste sentido, a mais recente pesquisa de intenção de votos para a Presidência da República, do Ibope, mostrou um empate entre a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, e o pré-candidato tucano, José Serra, com 37% cada um, vindo em sintonia com os levantamentos de outros institutos, como Datafolha, Vox Populi e CNT/Sensus. Na análise dinâmica, o Ibope confirmou a tendência de crescimento gradual da petista em contraponto ao recuo gradativo do tucano.

Quando observamos os dados regionais do Ibope, constatamos que Dilma lidera nas regiões Nordeste e Norte/Centro-Oeste, enquanto Serra segue na frente no Sudeste e no Sul. No Nordeste, a petista tem 47% das intenções de voto, contra 27% do ex-governador de São Paulo, enquanto no Norte Dilma abre vantagem com 43% das intenções de voto, contra 31% do ex-governador de São Paulo. Já na região Sul, Serra tem ampla vantagem, com 46% das intenções de voto, contra 26% da petista, enquanto no Sudeste, maior colégio eleitoral do país, a diferença é menor, com o tucano registrando 41% das intenções de voto e Dilma aparecendo com 33%.

Vale destacar que, ao analisarmos a participação de cada região no total do eleitorado brasileiro, verificamos que o Sudeste responde por 43,5% do eleitorado total do país, enquanto o Nordeste vem em seguida, com 27,1%. As regiões Norte e Centro-Oeste, juntas, somam 14,3% do eleitorado, enquanto a região Sul tem 15,0%, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Assim, considerando o peso de cada região e a tendência de cada um dos principais pré-candidatos à Presidência da República por região, podemos constatar, a partir dos dados do Ibope, três movimentos que explicam o atual cenário eleitoral:

01. Redução da vantagem de Serra no Sudeste: uma análise dinâmica das intenções de voto dos eleitores do Sudeste nos dois principais pré-candidatos à Presidência da República mostra um cenário muito favorável para Dilma, já que cada vez mais ela vem se aproximando de Serra, que ainda lidera na região, diminuindo, assim, a vantagem do tucano. Para se ter uma idéia, de acordo com os números do Ibope, em fevereiro a vantagem do tucano era de 22 pontos percentuais (46% a 24%), sendo reduzida gradativamente e caindo para apenas 8 pontos percentuais (41% a 33%) de acordo com o mais recente levantamento, divulgado no sábado, 5.

Comparando a pesquisa de junho com a de fevereiro, notamos um recuo de 5 pontos percentuais de Serra, frente a um avanço de 9 pontos percentuais de Dilma dentre o eleitorado do Sudeste. Podemos depreender, a partir daí, que houve um aumento do percentual de intenção de votos em Dilma nos quatro estados da região, sendo que no Rio de Janeiro (terceiro maior colégio eleitoral do país), Dilma abriu uma vantagem de 17 pontos percentuais sobre Serra, de acordo com pesquisa do Ibope divulgada na última semana. Neste levantamento feito entre os eleitores do estado do Rio, a petista alcançou 44% das intenções de voto, contra 27% de Serra. Um levantamento do instituto Sensus, também divulgado esta semana, mostrou que em Minas, segundo maior colégio eleitoral do país, a ex-ministra também cresceu forte e já está empatada com o ex-governador de São Paulo.



Considerando que o estado de São Paulo responde por 51,2% do eleitorado da região Sudeste, enquanto Minas responde por 24,7% e o Rio por 19,8%, podemos concluir que a redução da vantagem de Serra no Sudeste para apenas 8 pontos percentuais não resulta apenas da liderança da petista no Rio e do empate entre a ex-ministra e o ex-governador de São Paulo em Minas Gerais. Matematicamente podemos verificar que essa significativa redução da vantagem de Serra no Sudeste passa necessariamente também por um forte crescimento de Dilma em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país e tradicional reduto tucano. Embora Serra ainda mantenha a dianteira no estado, os números do Ibope nos mostram que essa vantagem do tucano vem caindo no seu próprio reduto eleitoral, de forma que no somatório da região Dilma vem ganhando forte espaço e ampliando seu cenário de favoritismo.

02. Ampliação da vantagem de Dilma no Nordeste: outro movimento que podemos destacar na análise dinâmica das intenções de voto medidas pelo Ibope é a ampliação da vantagem de Dilma na região Nordeste, confirmando o que já era esperando desde o início da pré-campanha, já que ali a popularidade do governo Lula atinge níveis ainda acima da média nacional, que é elevada. Enquanto em fevereiro, o Ibope constatou que tanto a ex-ministra quanto o ex-governador de São Paulo tinham 35% das intenções de voto, no levantamento de junho a diferença entre os dois é de 20 pontos percentuais a favor de Dilma (47% contra 27% de Serra).

Considerando que uma boa parte dos eleitores do Nordeste ainda desconhece que Dilma é a candidata de Lula, o potencial de crescimento da petista na região ainda é bastante elevado, uma vez que à medida que sua imagem vai sendo colada à do presidente as suas intenções de voto tendem a ser ampliadas. É importante destacar que no Nordeste, os estados da Bahia, Pernambuco e Ceará são os maiores colégios eleitorais da região e Dilma tem ampla vantagem sobre o ex-governador de São Paulo em todos eles.

03. Virada de Dilma no Norte/Centro-Oeste: o terceiro movimento que identificamos nas tendências regionais de intenção de voto diz respeito à virada de Dilma sobre Serra nas regiões Norte/Centro-Oeste. Em fevereiro, o Ibope apurou que o tucano tinha uma vantagem de 5 pontos percentuais sobre a petista na região, sendo ampliada para 17 pontos percentuais em março deste ano. A partir daí, contudo, a tendência foi invertida e Serra entrou em uma trajetória declinante, enquanto Dilma passou a ascender gradativamente, de forma que na medição de abril, os dois estavam empatados.

No levantamento de junho, recém-divulgado, a ex-ministra acelerou a trajetória ascendente, enquanto o tucano caiu ainda mais, de forma que Dilma passou a ter uma boa vantagem de 12 pontos percentuais em relação ao seu principal adversário. Vale destacar que na região Sul o Ibope apurou uma pequena redução na vantagem de Serra. Contudo, não se pode dizer que isso configura uma tendência, pois a oscilação ocorreu dentro da margem de erro e de forma pontual, de forma que devemos aguardar novos levantamentos para checar se o movimento representa o início de uma tendência ou foi apenas algo momentâneo.

Com base nestas tendências, façamos alguns exercícios bem simplistas de matemática eleitoral em torno do cenário da disputa presidencial, a partir de cálculos elementares de média ponderada:

a) Cenário ultra-conservador: Supondo um quadro em que as intenções de voto de Dilma fiquem nos atuais patamares no Nordeste (47%), Sul (26%) e Norte/Centro-Oeste (43%), seria preciso que a pré-candidata do PT atingisse 64% dos votos totais na região Sudeste para que atingisse um total de 51% em todo o Brasil e ganhasse em primeiro turno. Isso significa um crescimento de 31 pontos percentuais em relação ao desempenho regional de Dilma neste recente levantamento do Ibope;

b) Cenário conservador: Em um cenário em que as intenções de voto em Dilma permaneçam nos atuais patamares no Sul (26%) e Norte/Centro-Oeste (43%), mas que houvesse um avanço para 55% no Nordeste, a petista teria que pontuar 59% no Sudeste (crescimento de 26 pontos percentuais frente ao atual patamar) para alcançar 51% no total de votos do país, vencendo, assim, em primeiro turno;

c) Cenário médio-conservador: Se mantivermos fixas as intenções de voto no Sul e Norte/Centro-Oeste, mas elevarmos o desempenho de Dilma no Nordeste para 60% dos votos totais, então ela precisaria de 56% (crescimento de 23 pontos percentuais em relação ao atual patamar) dos votos no Sudeste para vencer no primeiro turno;

d) Cenário médio-otimista: Considerando um cenário em que Dilma avançasse para 60% no Nordeste, 35% no Sul e 55% no Norte/Centro-Oeste , ela teria que atingir 47% (elevação de 14 pontos percentuais em relação ao atual patamar) das intenções de voto no Sudeste para alcançar os 51% dos votos totais no país.

e) Cenário otimista: Considerando um quadro em que Dilma avance para 65% no Nordeste, 35% no Sul e 60% no Norte/Centro-Oeste, ela teria que atingir 43% no Sudeste (crescimento de 10 pontos percentuais frente ao atual patamar) para alcançar os 51% dos votos totais do país;

Considerando que Dilma tem um potencial de crescimento muito grande em todas as regiões, sobretudo no Nordeste e no Norte/Centro-Oeste, o quadro é de favoritismo para a petista, como revelam os números do Ibope. O início da campanha, em 6 de julho, e, posteriormente, da propaganda eleitoral gratuita no rádio e TV devem alavancar ainda mais as intenções de voto em Dilma, ampliando sua vantagem em regiões onde ela já lidera enquanto nas regiões onde Serra ainda é o favorito, deve haver uma redução dessa vantagem do tucano ou ainda uma virada pró-Dilma.

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