Cardápio do boteko

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Sobre tucanos e dossiês: quando vale o ditado de que o feitiço volta contra o feiticeiro

Criada com o claro objetivo de desestabilizar a campanha da pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, à Presidência da República e reverter o quadro favorável à ex-ministra, a farsa do suposto “dossiê”, inflada pelos demo-tucanos e setores da grande imprensa durante toda a semana passada, caminha para o seu desfecho, corroborando a velha máxima popular de que às vezes “o feitiço se volta contra o feiticeiro”. Neste sentido, destacamos três pontos que, ao que tudo indica, mostram que a tentativa do PSDB e de seus aliados de atacar o campo governista com mais esse factóide não passou de um tiro no próprio pé. Vejamos:

01. Jornalista liga produção de dossiê a deputado do PSDB: o jornalista Amaury Ribeiro Júnior, que participou em abril do encontro entre o delegado aposentado da Polícia Federal, Onézimo de Sousa, com Luiz Lanzetta (dono da Lanza, que cuidava da assessoria de imprensa de Dilma), negou, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo publicada nesta segunda-feira, 7, que tenha sido feito algum tipo de pedido por parte da campanha de Dilma para que Onézimo fizesse um dossiê contra Serra. Segundo Amaury, na ocasião o delegado da Polícia Federal relatou que pessoas ligadas ao deputado federal Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) estariam elaborando um dossiê contra pessoas do PMDB, a fim de usa-lo ao longo da campanha.

O jornalista ainda relatou na entrevista que “quando o Serra assumiu o Ministério da Saúde, ele montou --com o pretexto de investigar laboratórios-- uma central de espionagem, que era formado por quem? É só você ver quem estava cadastrado. Era um agente do SNI, o ‘agente Jardim’, que até pouco tempo estava no gabinete [de Itagiba na Câmara], um ex-delegado... Isso quem falou foi o próprio Onézimo. Ele chegou nessa reunião [e disse]: ‘Pô, vocês estão atrasados, porque essa equipe está trabalhando há dois anos’. ‘Fazendo o quê?’ ‘Ah, eles estão levantando dossiê contra o pessoal, esse povo do Itagiba está levantando 300 dossiês contra pessoas do PMDB, e quem do PMDB não votasse com o PSDB, estão fazendo chantagem, estão chantageando’”.

Amaury Ribeiro seguiu dizendo que “ele [Onézimo] disse que esse grupo do Itagiba, depois de vasculhar a vida do Aécio Neves e da Dilma e não ter encontrado nada contra, eles estavam desesperados. E disse que tem uns 500 dossiês contra o pessoal do PMDB. Essa é a verdade”. Sobre as denúncias do delegado aposentado da Polícia Federal, feitas à revista Veja, o jornalista disparou: “O que está parecendo agora é uma retaliação. Ele está falando isso agora como uma retaliação porque ele não foi contratado. [...] Agora, sendo um cara araponga, ele tem que provar. Eu tenho como provar que não rolou esse papo na conversa. Ele vai se dar mal, porque vou processá-lo. Porque tenho como provar tudo que se passou naquela conversa”.

Perguntando pela Folha sobre como ele poderia provar que as acusações de Onézimo eram mentirosas, Amaury Ribeiro afirmou que poderia fornecer “detalhes, diálogo por diálogo. Eu tenho como provar tudo o que foi falado. Agora, eu fui [à reunião] porque conheço outra pessoa, um amigo dele. Ele [Sousa] trabalhou na inteligência do Itagiba, no Ministério da Saúde, que o Serra montou”. As declarações do jornalista Amaury Ribeiro caem como uma bomba para os tucanos, uma vez que reafirma que a fabricação de supostos “dossiês” não estava partindo da campanha de Dilma, mas sim da campanha de Serra, sendo orquestrados pelo tucano Marcelo Itagiba, homem de confiança do ex-governador de São Paulo.

02. PT protocola interpelação judicial contra Serra: na tarde desta segunda-feira, cumprindo anúncio feito na sexta-feira, o PT protocolou uma ação de interpelação judicial contra Serra, pelas declarações dadas pelo pré-candidato durante a semana passada, responsabilizando Dilma pelo episódio. Durante um evento na Associação Comercial de São Paulo, na última quinta-feira, 3, o ex-governador de São Paulo declarou que “a principal responsabilidade desse dossiê é da candidata Dilma. Não tenho dúvidas”. Segundo o documento entregue à Justiça pelos advogados do PT, “as declarações citadas merecem explicações, vez que imputam ao partido demandante [PT] determinadas práticas que, a depender do sentido das expressões utilizadas, podem revelar sérias e graves ofensas à sua honra e à de seus filiados”.

Abaixo as sete perguntas feitas pelo documento do PT para Serra:

a) O demandado [Serra] confirma ser o autor da afirmação "o PT tem tradição na produção de dossiês" mencionada nas matérias citadas?

b) O que o demandado entende por "dossiê"?

c) O demandado confirma ser o autor da afirmação: "A principal responsabilidade desse dossiê é da candidata Dilma. Não tenho dúvidas, assim como o principal responsável pelo dossiê dos aloprados foi o Aloizio Mercadante e como a principal responsabilidade por dossiês em 2002 foi do Ricardo Berzoini" mencionada nas matérias citadas?

d) A referência à "responsabilidade" dos filiados ao partido demandante [PT] teve o sentido de imputar a eles a efetiva autoria direta --material ou intelectual-- de supostos dossiês?

e) O demandado confirma ter mencionado a repórteres que o partido demandante "teria formado um "bunker" com o objetivo de colher denúncias e informações contra os adversários" e que "o ex-presidente petista Ricardo Berzoini faria parte desse grupo" como noticiado nos periódicos mencionados?

f) O que o demandado entende por bunker?

g) Qual o objetivo do demandado ao prestar as declarações citadas nos itens a, b e f?

03. Folha admite que efeito do “dossiê” na campanha foi nulo: o colunista Fernando Rodrigues, da Folha de São Paulo admitiu que o efeito da farsa do suposto dossiê contra Serra foi praticamente nulo, já que o quadro traçado em meados de maio, antes da divulgação das denúncias, manteve-se inalterado essa semana, conforme mostrado pela pesquisa Ibope. Ou seja, a própria grande imprensa, a serviço dos demo-tucanos, admite que a jogada de tentar atingir a campanha de Dilma por meio dessas falsas acusações foi frustrada.

Contudo, há que se dizer que, ficando comprovadas as denúncias do jornalista Amaury Ribeiro, que transcrevemos anteriormente, o efeito da farsa do “dossiê” não deverá ser mais nulo; contudo, ao invés de prejudicar a campanha petista, as denúncias deverão prejudicar a campanha tucana. Ou seja: a oposição mais uma vez deu um tiro no próprio pé, fazendo valer o ditado popular de que o “feitiço volta contra o feiticeiro”. Agora resta saber se Serra responderá à interpelação judicial feita pelo PT na Justiça, pois uma recusa do pré-candidato pode complicar ainda mais a sua situação. E fica a pergunta: será que os tucanos vão continuar insistindo na fabricação de factóides e “falsos dossiês” ou aceitarão o desafio de fazer um debate sério, centrado em idéias e projetos? A conferir.

Leia também:

Sobre tucanos e dossiês: como o marketing político explica a patética farsa da oposição

Falando de compotas e dossiês

Nenhum comentário:

Postar um comentário