Saia justa talvez seja pouco para se referir à situação delicada em que ficou a Casa Branca após a revelação, neste domingo, 28, pela imprensa internacional, de mais de 250 mil comunicados secretos do Departamento de Estado endereçado às embaixadas norte-americanas solicitando o mais variado tipo de informações. Essa rede de “espionagem informal” que vem sendo desenvolvida pelos Estados Unidos nos últimos dois anos recebeu a denominação de “cablegate”, uma referência à forma através da qual as solicitações chegavam às diversas embaixadas dos Estados Unidos espalhadas no mundo – telegramas assinalados como “secretos” ou “confidenciais”.
Os documentos foram vazados pelo site WikiLeaks e estão sendo divulgados, aos poucos, por cinco grandes períodicos: o El País, da Espanha, o Le Monde, da França, o The Guardian, da Inglaterra, o The New York Times, dos Estados Unidos e a revista Der Spiegel, da Alemanha. De acordo com o El País esses documentos “coletam comentários e informações elaboradas por funcionários norte-americanos, com um linguajar muito franco, sobre personalidades de todo o mundo, revelam conteúdos de entrevistas de pessoas do mais alto nível, descobrem atividades de espionagem até então desconhecidas e dados fornecidos por diversas fontes em conversas com embaixadores norte-americanos”.
ONU é alvo de espionagem do Tio Sam
Nem a ONU (Organização das Nações Unidas) escapou da “curiosidade” do Departamento de Estado norte-americano. Para se ter uma idéia, um dos documentos apresentados pelo El País refere-se a uma lista, datada de julho de 2009, enviada pelo Departamento de Estado aos funcionários de 38 embaixadas e missões especiais requisitando os mais variados tipos de informações sobre a ONU. Requisita-se, por exemplo, informações detalhadas sobre o Secretário-Geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-Moon: quais são seus planos e intenções e como é o trabalho cotidiano de sua assessoria. Mas não é somente do Secretário-Geral da ONU que o Departamento de Estado queria deter informações.
Neste mesmo documento, eram solicitados dados sobre os funcionários e representantes da ONU vinculados a países como Sudão, Afeganistão, Somália, Irã e Coréia do Norte. De acordo com o El País, as informações solicitadas pelo Departamento de Estado “estendem-se ao âmbito pessoal ao perguntar sobre as rotinas dos funcionários da Secretaria Geral da ONU ou de qualquer outro interlocutor que seja importante: são pedidas a numeração de cartões de crédito, passaporte, telefones, e-mails, URL acessadas, programa de trabalho e aparência física”. Além das questões pessoais, o Departamento de Estado selecionava, por embaixada, assuntos de interesses dos Estados Unidos para serem investigados pelos funcionários norte-americanos.
O El País lista quais são as informações solicitadas pelo Departamento de Estado norte-americano aos funcionários das embaixadas, segundo o documento ao qual o jornal teve acesso:
-“Planos, intenções, objetivos e atividades palestinadas relacionadas com as políticas dos Estados Unidos sobre o processo de paz e o anti-terrorismo”;
-“Informação biográfica, biométrica e financeira sobre os líderes palestinos e do Hamás, incluindo aí os movimentos de juventude dentro e fora de Gaza e Cisjordânia”;
-“Planos e atividades concretas do Reino Unido, França, Alemanha e Rússia a respeito das políticas da OIEA (Organização Internacional de Energia Atômica)”;
-“Planos e intenções dos líderes e países mais influentes da ONU, especialmente Rússia e China, sobre direitos humanos no Irã, sanções ao Irã, fornecimento de armas iranianas ao Hamáz e Hezbolá, e sobre as candidaturas que o Irã apóia para ocupar postos-chave na ONU”.
Informações dos mais variados tipos
Segundo reportagem do El País neste domingo, “o solicitado [pelo Departamento de Estado] a algumas embaixadas é quase uma ficha policial”. Parece brincadeira, mas é a mais pura realidade. Os Estados Unidos chegaram ao ponto de solicitar, segundo os documentos revelados, informações biológicas e físicas sobre os candidatos a Presidente do Paraguai nas eleições de 2008. Dentre as informações solicitadas aos funcionários da embaixada norte-americana em Assunção sobre os quatro principais postulantes à Presidência do Paraguai estavam: dados biométricos, impressões digitais, fotografias, scanners da íris e DNA! Além desse tipo de informação, a Casa Branca também solicitou informações sobre as relações do Paraguai com os países vizinhos.
“A Secretaria de Estado indaga sobre a corrupção do governo, lavagem de dinheiro, as relações do Paraguai com Cuba, Venezuela, China, Taiwan e Rússia, a existência de petróleo na região do Chaco paraguaio e o narcotráfico”, diz a reportagem do El País. Percebe-se, recorrentemente nos documentos revelados, uma preocupação muito grande dos Estados Unidos com relação ao tipo de vinculo diplomático dos mais diversos países com nações como Venezuela, Cuba, China, Rússia e Coréias. Além disso, existe um interesse muito grande, expresso nestes documentos, em saber informações sobre áreas de conflito iminente, como no caso das Coréias e do próprio Irã. A questão é que essas informações requisitadas pela Casa Branca ultrapassam os limites da diplomacia e entram em terrenos nada convencionais.
Daí a preocupação dos Estados Unidos após a revelação desses diversos documentos, que aos poucos estão sendo publicados pelos jornais mencionados. De acordo com o El País, ao tomar conhecimento do vazamento desses documentos, a Secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, entrou rapidamente em contato com governos mais próximos e de maior interesse dos Estados Unidos para “fornecer algum tipo de justificativa”. Hillary, na prática, quer se antecipar e produzir uma espécie de “vacina” em países de maior interesse da Casa Branca a fim de não haja um azedamento das relações destes com os Estados Unidos. Exatamente por isto, dissemos no início deste texto que “saia justa” talvez seja pouco para se referir à posição em que os Estados Unidos se encontram agora.
Pelo teor das reportagens nos veículos citados, esses documentos vazados trazem informações até mesmo de caráter íntimo de várias lideranças políticas mundiais e revelam os bastidores – inclusive os mais obscuros – da diplomacia norte-americana. Nem é preciso dizer aqui o estrago que esse tipo de revelação pode causar nas relações políticas e comerciais dos Estados Unidos com o resto do mundo. Para um país que está lutando para superar os efeitos da crise de 2008, esse tipo de acontecimento, de fato, não é nada interessante! Acompanhemos, de perto, o desenrolar dessa interessante – e polêmica – história ao longo dos próximos dias.
Os documentos foram vazados pelo site WikiLeaks e estão sendo divulgados, aos poucos, por cinco grandes períodicos: o El País, da Espanha, o Le Monde, da França, o The Guardian, da Inglaterra, o The New York Times, dos Estados Unidos e a revista Der Spiegel, da Alemanha. De acordo com o El País esses documentos “coletam comentários e informações elaboradas por funcionários norte-americanos, com um linguajar muito franco, sobre personalidades de todo o mundo, revelam conteúdos de entrevistas de pessoas do mais alto nível, descobrem atividades de espionagem até então desconhecidas e dados fornecidos por diversas fontes em conversas com embaixadores norte-americanos”.
ONU é alvo de espionagem do Tio Sam
Nem a ONU (Organização das Nações Unidas) escapou da “curiosidade” do Departamento de Estado norte-americano. Para se ter uma idéia, um dos documentos apresentados pelo El País refere-se a uma lista, datada de julho de 2009, enviada pelo Departamento de Estado aos funcionários de 38 embaixadas e missões especiais requisitando os mais variados tipos de informações sobre a ONU. Requisita-se, por exemplo, informações detalhadas sobre o Secretário-Geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-Moon: quais são seus planos e intenções e como é o trabalho cotidiano de sua assessoria. Mas não é somente do Secretário-Geral da ONU que o Departamento de Estado queria deter informações.
Neste mesmo documento, eram solicitados dados sobre os funcionários e representantes da ONU vinculados a países como Sudão, Afeganistão, Somália, Irã e Coréia do Norte. De acordo com o El País, as informações solicitadas pelo Departamento de Estado “estendem-se ao âmbito pessoal ao perguntar sobre as rotinas dos funcionários da Secretaria Geral da ONU ou de qualquer outro interlocutor que seja importante: são pedidas a numeração de cartões de crédito, passaporte, telefones, e-mails, URL acessadas, programa de trabalho e aparência física”. Além das questões pessoais, o Departamento de Estado selecionava, por embaixada, assuntos de interesses dos Estados Unidos para serem investigados pelos funcionários norte-americanos.
O El País lista quais são as informações solicitadas pelo Departamento de Estado norte-americano aos funcionários das embaixadas, segundo o documento ao qual o jornal teve acesso:
-“Planos, intenções, objetivos e atividades palestinadas relacionadas com as políticas dos Estados Unidos sobre o processo de paz e o anti-terrorismo”;
-“Informação biográfica, biométrica e financeira sobre os líderes palestinos e do Hamás, incluindo aí os movimentos de juventude dentro e fora de Gaza e Cisjordânia”;
-“Planos e atividades concretas do Reino Unido, França, Alemanha e Rússia a respeito das políticas da OIEA (Organização Internacional de Energia Atômica)”;
-“Planos e intenções dos líderes e países mais influentes da ONU, especialmente Rússia e China, sobre direitos humanos no Irã, sanções ao Irã, fornecimento de armas iranianas ao Hamáz e Hezbolá, e sobre as candidaturas que o Irã apóia para ocupar postos-chave na ONU”.
Informações dos mais variados tipos
Segundo reportagem do El País neste domingo, “o solicitado [pelo Departamento de Estado] a algumas embaixadas é quase uma ficha policial”. Parece brincadeira, mas é a mais pura realidade. Os Estados Unidos chegaram ao ponto de solicitar, segundo os documentos revelados, informações biológicas e físicas sobre os candidatos a Presidente do Paraguai nas eleições de 2008. Dentre as informações solicitadas aos funcionários da embaixada norte-americana em Assunção sobre os quatro principais postulantes à Presidência do Paraguai estavam: dados biométricos, impressões digitais, fotografias, scanners da íris e DNA! Além desse tipo de informação, a Casa Branca também solicitou informações sobre as relações do Paraguai com os países vizinhos.
“A Secretaria de Estado indaga sobre a corrupção do governo, lavagem de dinheiro, as relações do Paraguai com Cuba, Venezuela, China, Taiwan e Rússia, a existência de petróleo na região do Chaco paraguaio e o narcotráfico”, diz a reportagem do El País. Percebe-se, recorrentemente nos documentos revelados, uma preocupação muito grande dos Estados Unidos com relação ao tipo de vinculo diplomático dos mais diversos países com nações como Venezuela, Cuba, China, Rússia e Coréias. Além disso, existe um interesse muito grande, expresso nestes documentos, em saber informações sobre áreas de conflito iminente, como no caso das Coréias e do próprio Irã. A questão é que essas informações requisitadas pela Casa Branca ultrapassam os limites da diplomacia e entram em terrenos nada convencionais.
Daí a preocupação dos Estados Unidos após a revelação desses diversos documentos, que aos poucos estão sendo publicados pelos jornais mencionados. De acordo com o El País, ao tomar conhecimento do vazamento desses documentos, a Secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, entrou rapidamente em contato com governos mais próximos e de maior interesse dos Estados Unidos para “fornecer algum tipo de justificativa”. Hillary, na prática, quer se antecipar e produzir uma espécie de “vacina” em países de maior interesse da Casa Branca a fim de não haja um azedamento das relações destes com os Estados Unidos. Exatamente por isto, dissemos no início deste texto que “saia justa” talvez seja pouco para se referir à posição em que os Estados Unidos se encontram agora.
Pelo teor das reportagens nos veículos citados, esses documentos vazados trazem informações até mesmo de caráter íntimo de várias lideranças políticas mundiais e revelam os bastidores – inclusive os mais obscuros – da diplomacia norte-americana. Nem é preciso dizer aqui o estrago que esse tipo de revelação pode causar nas relações políticas e comerciais dos Estados Unidos com o resto do mundo. Para um país que está lutando para superar os efeitos da crise de 2008, esse tipo de acontecimento, de fato, não é nada interessante! Acompanhemos, de perto, o desenrolar dessa interessante – e polêmica – história ao longo dos próximos dias.
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