Cardápio do boteko

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Que rumo tomará Kassab?

Após ver frustrada sua tentativa de capitanear uma fusão do DEM com o PMDB, o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab tem se movimentado para trocar sua atual legenda por outra, possivelmente da base aliada de Dilma. Pelo menos esta é a informação que tem repercutido na grande imprensa nos últimos dias: de acordo com jornais como Folha de São Paulo, Estadão e O Globo, Kassab estaria avaliando uma possível troca do DEM pelo PMDB ou ainda pelo PSB. Como o prefeito ainda não deu nenhuma declaração oficial sobre essa possível troca, os boatos ganham ainda mais força.

Por mais que pareça estranho Kassab trocar um partido declaradamente de oposição por um da base governista, a movimentação, se confirmada, não deve causar espanto. Afinal de contas, o prefeito da maior cidade do país procura desde já garantir seu espaço na arena política para futuras disputas eleitorais, como a de 2014. Ora, é fato que se continuar no DEM, Kassab terá chances remotas de sair candidato ao governo do Estado de São Paulo nas próximas eleições (lembrando que em 2012, ele não poderá concorrer à reeleição para a Prefeitura de São Paulo), uma vez que o seu atual partido é aliado quase que natural do PSDB no estado.

Diante dessa constatação, o prefeito tinha duas soluções possíveis: 1) ou quebraria essa “aliança natural” do DEM com o PSDB em São Paulo fundindo sua atual sigla com o PMDB, para aí sim ter condições reais de lançar uma candidatura competitiva à de Geraldo Alckmin (candidato natural à reeleição ao Palácio dos Bandeirantes em 2014) ou 2) deixaria o DEM e ingressaria em um partido onde pudesse construir uma candidatura competitiva. Como a primeira hipótese foi amplamente rejeitada por caciques do DEM, como o ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, e o deputado federal e 1º vice-Presidente da legenda, Ronaldo Caiado, resta a Kassab a 2ª opção.

Ida para o PMDB é hipótese plausível
Neste contexto, os grandes jornais já estão dando como certa a migração do prefeito para o PMDB, que é a segunda maior força da base governista. A hipótese não é tão absurda assim, especialmente se considerarmos o fato de que, com o afastamento de Orestes Quércia da cena política, por conta de problemas de saúde, criou-se uma lacuna no PMDB paulista. E como a arena política é permeada por disputas de espaços, ocupar essa lacuna deixada pelo quercismo em São Paulo parece ser uma movimentação muito interessante para Gilberto Kassab. Nesta altura, o leitor poderia questionar: mas essa lacuna não seria naturalmente ocupada por Michel Temer?

De fato, Temer naturalmente ocuparia (de bom grado, diga-se de passagem) esta lacuna deixada por Quércia, sendo inclusive uma boa oportunidade para reconduzir o PMDB paulista (arredio à postura do PMDB nacional) de volta à base aliada do governo federal. Mas daí, não podemos deixar de lembrar que, como vice-Presidente eleito da República, Temer não é mais uma figura propriamente do PMDB paulista e sim do PMDB nacional. Logo, não convém que gaste seu tempo cuidando de articulações políticas estaduais, ainda que estas sejam em um estado com o peso eleitoral que tem São Paulo. E é aí que está a grande oportunidade de Kassab.

Com Quércia afastado e Temer cuidando de articulações nacionais, o prefeito de São Paulo poderia capitanear um processo de rearticulação política do PMDB paulista. E aí o caminho mais factível seria o de rearticular o partido em São Paulo afastando-o do PSDB, movimento para o qual teria carta branca de Temer. É lógico que não interessa a Kassab que o PMDB continue alinhado ao PSDB no estado de São Paulo: afinal de contas, esse alinhamento poderia colocar tudo a perder no que se refere às suas pretensões de disputar o Palácio dos Bandeirantes em 2014. Por isso, para desespero da ala quercista, a melhor saída seria conduzir o PMDB paulista a uma aproximação com o governo federal.

E há que se ter o cuidado aqui para não se confundir as coisas, como propositalmente tem feito os grandes jornalões. Confirmado um cenário em que tenhamos a migração de Kassab para o PMDB e, feito isto, o protagonismo do prefeito na aproximação do PMDB paulista com a base aliada do governo federal, isto não quer dizer que haja uma aliança de Kassab com o PT em nível estadual. São duas arenas de disputa bastante distintas e, tal como se desenha o cenário atualmente, é muito pouco provável que Kassab, no PMDB, venha se aliar com o PT na sucessão do Palácio dos Bandeirantes. A razão é simples: PT e PMDB disputariam, neste caso, o posto de 2ª força política na arena eleitoral, contra o PSDB.

Como o PT é hoje a 2ª força política no Estado de São Paulo, não interessaria ao partido abrir mão de uma candidatura própria para apoiar uma eventual candidatura de Kassab pelo PMDB ao Palácio dos Bandeirantes em 2014. Dada a atual conjuntura, seria um movimento político muito nonsense. De qualquer forma, nenhuma afirmação pode ser dada como certa, uma vez que a arena política é altamente dinâmica e alterações de conjuntura podem ocorrer em um espaço muito curto de tempo. Neste caso, estamos vislumbrando um cenário consideravelmente longo – são mais quatro anos até as eleições de 2014.

Migração para o PSB é boato infundado
Se uma migração de Kassab para o PMDB parece ser plenamente factível, o mesmo não podemos dizer em relação à transferência do prefeito para o PSB, como alguns jornais têm especulado. A razão é muito simples: ao contrário do PMDB, não há lacuna deixada por lideranças no PSB de São Paulo. O argumento apresentado por alguns de que o governador reeleito de Pernambuco, Eduardo Campos, poderia confiar a Kassab, se este migrasse para o PSB, a rearticulação do partido no Sudeste e Sul é um tanto quanto absurdo. Isto porque o partido tem nomes tão fortes quanto o de Kassab para capitanear este tipo de processo.

Basta lembrarmos do recém-eleito deputado federal Gabriel Chalita, que, apesar de ser “cristão novo” no PSB (Chalita chegou ao partido em 2009, após deixar o PSDB), já tem uma posição de destaque no partido. Nas eleições de outubro deste ano, Chalita foi o segundo deputado federal mais votado em São Paulo, tendo a vantagem de ser um nome que dialoga bem com todas as forças políticas. E além de Chalita, o PSB tem outros nomes muito fortes em São Paulo, como Márcio França e Luíza Erundina. Logo, não faz sentido pensar que Kassab teria algum tipo de protagonismo no PSB paulista, fato que nos leva a descartar por completo a hipótese de migração do prefeito para o partido.

O que se percebe é que cada vez mais torna-se iminente a migração de Kassab do DEM para o PMDB, pois o prefeito não quer perder tempo nem espaço na arena política. Embora as cartas não estejam de todo na mesa, os ruídos de bastidores já permitem concluir qual será o desfecho do jogo! Afinal de contas, seja no carteado ou na política, não parece ser a sorte o elemento decisivo para a vitória, mas sim a estratégia e a racionalidade.

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