Cardápio do boteko

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A direita e a criminalização dos movimentos sociais



Não é mais novidade para ninguém o esforço dos setores conservadores, de direita, apoiados em parte da grande imprensa, como Folha de São Paulo, Estadão, Globo etc, de tentar criminalizar os movimentos sociais no Brasil. Neste sentido, esses segmentos procuram associar os movimentos sociais, especialmente o MST (Movimento dos Sem Terra), a uma forma de banditismo, desqualificando por completo suas bandeiras de luta e os tratando como criminosos, quando na realidade são as maiores vítimas do sistema.

As inverdades proclamadas pelos “barões do conservadorismo e da grande mídia” chegaram a tal ponto que na última quarta-feira, 14, durante uma audiência pública no Senado, a senadora da bancada ruralista Kátia Abreu (DEM-TO) comparou os movimentos sociais ao crime organizado! Como se não bastasse, a tal senadora, que também preside a CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária), ainda sugeriu ao presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, que a ajudasse na criação de um “plano nacional contra a invasão de terras”.

É dispensável dizer o quão absurda é essa idéia da senadora-ruralista, uma vez que ela tenta inverter a lógica das coisas ao colocar os latifundiários como vítimas e criminalizar os sem-terra, que estão lutando legitimamente por uma reforma agrária ampla no país. Depois de cinco séculos de exploração das terras no Brasil, a senadora ainda tem a audácia de dizer que esses latifundiários são “vítimas” dos sem-terra? Ou Kátia Abreu está agindo de profunda má-fé ou então a senadora não conhece nada da História de seu país.

Senadora do DEM compara MST ao crime organizado
A má-fé da senadora chega a tal ponto que ela compara o MST ao narcotráfico das grandes cidades. “Nós estamos há 13 anos a mercê do crime anunciado. Eu nunca vi um traficante anunciar que vai fazer um abril vermelho do tráfico de drogas. Eu nunca vi um traficante de animais anunciar que vai fazer um mês de tráfico no país. O crime organizado anda na escuridão. Mas, no campo brasileiro, estamos vendo o crime organizado ser implementado, aumentado e fortalecido sob as vestes do movimento social”, declarou a senadora.

Revoltante é pouco para expressar o sentimento que nasce ao se ler tamanha barbaridade, proferida por Kátia Abreu. Desde quando os militantes de movimentos sociais são criminosos? Que crime há em se lutar por um pedaço de terra que servirá ao sustento de milhões de famílias brasileiras? Qual o malefício existente em se combater o privilégio de grandes latifundiários que detém enormes pedaços de terras improdutivos? O que a senadora não entende – ou melhor, prefere não entender – é que a luta dos movimentos sociais, sobretudo dos sem-terra, é uma luta digna e legítima!

Aliás, Kátia Abreu “se esquece” que o “abril vermelho” organizado todos os anos pelo MST, desde 1997, é uma forma que o movimento encontrou de não deixar que a sociedade apague de sua memória o assassinato brutal de 19 trabalhadores rurais, ocorrida em 17 de abril de 1996, em Eldorado dos Carajás, no Pará. Agora, será que a senadora acha que esses trabalhadores rurais, que perderam suas vidas lutando pela terra, são bandidos? Quem é a vítima aqui nessa história: os latifundiários, seus jagunços ou esses trabalhadores que foram barbaramente assassinados!

A violência no campo cresce a cada dia sim. Isso é fato! Contudo, ela não cresce por conta da ação do MST – como gosta de noticiar aos quatro ventos a grande imprensa -, mas sim pela ação desses latifundiários, que contratam “capangas” para fazerem massacres de trabalhadores como aquele de Eldorado dos Carajás! E a situação só piora com a cegueira política de parlamentares como a senadora Kátia Abreu e outros tantos da bancada ruralista – ligados majoritariamente aos setores demo-tucanos – que, ao tratarem os movimentos sociais como criminosos, contribuem para uma maior desigualdade social no país.

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