É interessante notar que, por vezes, um olhar externo sobre uma questão na qual nos debruçamos exaustivamente para entender pode revelar um traço que não conseguíamos enxergar. Na última quinta-feira, 17, o jornal britânico The Guardian trouxe uma análise muito apropriada do discurso adotado pelo candidato tucano à sucessão presidencial brasileira, José Serra, sobre a política externa adotada pelo Brasil durante o governo Lula. Nesta disputa, vale lembrar que a política externa tem sido um dos pontos de divergência entre a candidatura da oposição e a candidatura governista de Dilma Rousseff.
O artigo do The Guardian constrói um retrospecto dos mais recentes posicionamentos de Serra sobre questões relativas à política externa, como as críticas à Bolívia e também à postura do Brasil na questão do programa nuclear iraniano. Resgatando a infeliz frase na qual o presidenciável tucano diz que o governo boliviano é cúmplice do tráfico de drogas, a matéria também destaca que Serra tem atacado “os esforços de mediação do Brasil e as relações com o Irã, além de ter anunciado que iria enfraquecer o Mercosul, o bloco comercial da região sul-americana”. As críticas da oposição à Venezuela também foram lembradas na excelente reportagem do periódico britânico.
Segundo o artigo, “a direita brasileira também tem sido hostil à Venezuela, com senadores do grupo tentando impedir sua participação no Mercosul há mais de três anos e juntando-se a campanhas de propaganda norte-americana contra o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Assim como em os Estados Unidos, a grande mídia brasileira tem apresentado uma caricatura da Venezuela e do governo Chávez, com alguma influência na opinião pública. Serra tem evitado até agora atacar a Venezuela, talvez porque ele sabe que Chávez poderia revidar duro e empurrar essas questões de política externa para uma visibilidade maior do que ele pode desejar para a sua campanha”.
Visão política de Serra alinhada aos Republicanos dos EUA
Tomando como ponto de partida esta postura crítica do tucano à política externa do governo Lula, o The Guardian lança a seguinte questão: “José Serra não é um político de direita por natureza: como ministro da Saúde, levantou-se contra poderosas empresas farmacêuticas estrangeiras apoiadas pelos Estados Unidos a fim de garantir preços mais baixos para medicamentos genéricos essenciais. Então, por que ele e seu partido promovem tal visão de política externa alinhada à direita estrangeira?”. Tão logo é apresentada a questão, o artigo do jornal britânico emenda a resposta, que soa a todos de maneira bastante óbvia: “a resposta mais provável é que a economia tem se saído muito melhor durante os oito anos de governo Lula do que durante os oito anos anteriores do PSDB, incluindo aí o crescimento do país”.
“Com o maior aumento real do salário mínimo, uma expansão do programa Bolsa Família para os pobres e um crédito imobiliário para os consumidores de baixa renda, não será tão fácil para Serra fazer campanha contra Dilma e o Partido dos Trabalhadores adotando como centro as questões econômicas”, avalia o jornal. E eis que nesse ponto o economista Mark Weisbrot, responsável pelo brilhante artigo, faz uma associação que é certeira: “Os republicanos nos Estados Unidos há muito têm procurado atrair eleitores indecisos a partir de questões não relacionadas à economia, incluindo aí a idéia de que seu partido possuía uma visão mais ‘agressiva’ de política externa”.
No caso da abordagem do Partido Republicano dos Estados Unidos, o jornal britânico avalia que “foi a melhor estratégia possível para a maior parte das últimas quatro décadas, e, claro, quando a recessão finalmente passou a chamar a atenção dos eleitores sobre questões econômicas, em 2008, eles perderam “. Ou seja, assim como para os republicanos, nos Estados Unidos, não era vantajoso focar questões econômicas, uma vez que até 2008 a economia norte-americana ia aparentemente muito bem, o candidato tucano José Serra também não tira proveito de focar o debate em aspectos da economia, uma vez que o Brasil vive um dos melhores períodos de sua História nesta área.
Segundo o The Guardian, “o PSDB pode estar caminhando em uma linha muito tênue. Houve uma grande transformação histórica na América Latina, e especialmente na América do Sul, na última década. A região tornou-se muito mais independente dos Estados Unidos, e foi claramente beneficiada por esta mudança enorme, que marcou época. Embora exista uma parte poderosa da elite brasileira e da grande mídia que se sente desconfortável com essas mudanças, e prefere tornar as coisas de volta para um aconchegante relacionamento com Washington, isso é arriscado. O PSDB não quer ser percebido como estando do lado errado da transição histórica”.
Sobre a questão da Bolívia, o artigo acerta em cheio quando diz que “a maioria dos eleitores que o PSDB está tentando alcançar, provavelmente, entende que não faz sentido nenhum associar a Bolívia ao comércio ilegal de drogas no Brasil. O governo de Evo Morales tem lutado contra o tráfico de drogas com mais esforço e menos corrupção do que seus antecessores; há uma clara distinção para o governo de Morales entre a coca, que é um estimulante legal que faz parte da cultura da Bolívia há séculos, e a cocaína. Tente convencer os norte-americanos a abrirem mão de seu café”. E acrescenta: “se o Brasil quer reduzir o tráfico de drogas vai encontrar na Bolívia um importante parceiro”.
Em relação às críticas de Serra sobre a atuação da diplomacia brasileira no caso iraniano, o The Guardian vai ao ponto: “não está claro que os ataques de Serra sobre os esforços diplomáticos de Lula no Oriente Médio serão mais bem sucedidos. O acordo de troca de combustível nuclear que o Brasil e a Turquia negociaram com o Irã no mês passado foi um avanço histórico na diplomacia internacional”. Segundo o jornal, “o resultado final é que o Brasil ajudou a preservar um espaço para uma solução negociada num momento em que a administração Obama está cedendo à pressão da direita no Congresso norte-americano, que quer que ele abandone essa estratégia, ampliando, assim, as chances de um confronto militar”.
De uma forma lúcida e coerente, o artigo do The Guardian contesta esse alinhamento do discurso de Serra às posições da direita norte-americana, sentenciando que “o Brasil não é os Estados Unidos. Lula e seu ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, têm feito um grande esforço para tentar impedir uma guerra horrível, desnecessária no Oriente Médio; além de se esforçarem para ampliar os benefícios de solidariedade, independência e integração regional na América do Sul. Esta mensagem positiva é mais eficiente para ganhar votos no Brasil”.
O artigo do The Guardian constrói um retrospecto dos mais recentes posicionamentos de Serra sobre questões relativas à política externa, como as críticas à Bolívia e também à postura do Brasil na questão do programa nuclear iraniano. Resgatando a infeliz frase na qual o presidenciável tucano diz que o governo boliviano é cúmplice do tráfico de drogas, a matéria também destaca que Serra tem atacado “os esforços de mediação do Brasil e as relações com o Irã, além de ter anunciado que iria enfraquecer o Mercosul, o bloco comercial da região sul-americana”. As críticas da oposição à Venezuela também foram lembradas na excelente reportagem do periódico britânico.
Segundo o artigo, “a direita brasileira também tem sido hostil à Venezuela, com senadores do grupo tentando impedir sua participação no Mercosul há mais de três anos e juntando-se a campanhas de propaganda norte-americana contra o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Assim como em os Estados Unidos, a grande mídia brasileira tem apresentado uma caricatura da Venezuela e do governo Chávez, com alguma influência na opinião pública. Serra tem evitado até agora atacar a Venezuela, talvez porque ele sabe que Chávez poderia revidar duro e empurrar essas questões de política externa para uma visibilidade maior do que ele pode desejar para a sua campanha”.
Visão política de Serra alinhada aos Republicanos dos EUA
Tomando como ponto de partida esta postura crítica do tucano à política externa do governo Lula, o The Guardian lança a seguinte questão: “José Serra não é um político de direita por natureza: como ministro da Saúde, levantou-se contra poderosas empresas farmacêuticas estrangeiras apoiadas pelos Estados Unidos a fim de garantir preços mais baixos para medicamentos genéricos essenciais. Então, por que ele e seu partido promovem tal visão de política externa alinhada à direita estrangeira?”. Tão logo é apresentada a questão, o artigo do jornal britânico emenda a resposta, que soa a todos de maneira bastante óbvia: “a resposta mais provável é que a economia tem se saído muito melhor durante os oito anos de governo Lula do que durante os oito anos anteriores do PSDB, incluindo aí o crescimento do país”.
“Com o maior aumento real do salário mínimo, uma expansão do programa Bolsa Família para os pobres e um crédito imobiliário para os consumidores de baixa renda, não será tão fácil para Serra fazer campanha contra Dilma e o Partido dos Trabalhadores adotando como centro as questões econômicas”, avalia o jornal. E eis que nesse ponto o economista Mark Weisbrot, responsável pelo brilhante artigo, faz uma associação que é certeira: “Os republicanos nos Estados Unidos há muito têm procurado atrair eleitores indecisos a partir de questões não relacionadas à economia, incluindo aí a idéia de que seu partido possuía uma visão mais ‘agressiva’ de política externa”.
No caso da abordagem do Partido Republicano dos Estados Unidos, o jornal britânico avalia que “foi a melhor estratégia possível para a maior parte das últimas quatro décadas, e, claro, quando a recessão finalmente passou a chamar a atenção dos eleitores sobre questões econômicas, em 2008, eles perderam “. Ou seja, assim como para os republicanos, nos Estados Unidos, não era vantajoso focar questões econômicas, uma vez que até 2008 a economia norte-americana ia aparentemente muito bem, o candidato tucano José Serra também não tira proveito de focar o debate em aspectos da economia, uma vez que o Brasil vive um dos melhores períodos de sua História nesta área.
Segundo o The Guardian, “o PSDB pode estar caminhando em uma linha muito tênue. Houve uma grande transformação histórica na América Latina, e especialmente na América do Sul, na última década. A região tornou-se muito mais independente dos Estados Unidos, e foi claramente beneficiada por esta mudança enorme, que marcou época. Embora exista uma parte poderosa da elite brasileira e da grande mídia que se sente desconfortável com essas mudanças, e prefere tornar as coisas de volta para um aconchegante relacionamento com Washington, isso é arriscado. O PSDB não quer ser percebido como estando do lado errado da transição histórica”.
Sobre a questão da Bolívia, o artigo acerta em cheio quando diz que “a maioria dos eleitores que o PSDB está tentando alcançar, provavelmente, entende que não faz sentido nenhum associar a Bolívia ao comércio ilegal de drogas no Brasil. O governo de Evo Morales tem lutado contra o tráfico de drogas com mais esforço e menos corrupção do que seus antecessores; há uma clara distinção para o governo de Morales entre a coca, que é um estimulante legal que faz parte da cultura da Bolívia há séculos, e a cocaína. Tente convencer os norte-americanos a abrirem mão de seu café”. E acrescenta: “se o Brasil quer reduzir o tráfico de drogas vai encontrar na Bolívia um importante parceiro”.
Em relação às críticas de Serra sobre a atuação da diplomacia brasileira no caso iraniano, o The Guardian vai ao ponto: “não está claro que os ataques de Serra sobre os esforços diplomáticos de Lula no Oriente Médio serão mais bem sucedidos. O acordo de troca de combustível nuclear que o Brasil e a Turquia negociaram com o Irã no mês passado foi um avanço histórico na diplomacia internacional”. Segundo o jornal, “o resultado final é que o Brasil ajudou a preservar um espaço para uma solução negociada num momento em que a administração Obama está cedendo à pressão da direita no Congresso norte-americano, que quer que ele abandone essa estratégia, ampliando, assim, as chances de um confronto militar”.
De uma forma lúcida e coerente, o artigo do The Guardian contesta esse alinhamento do discurso de Serra às posições da direita norte-americana, sentenciando que “o Brasil não é os Estados Unidos. Lula e seu ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, têm feito um grande esforço para tentar impedir uma guerra horrível, desnecessária no Oriente Médio; além de se esforçarem para ampliar os benefícios de solidariedade, independência e integração regional na América do Sul. Esta mensagem positiva é mais eficiente para ganhar votos no Brasil”.
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