Em uma recente entrevista concedida à Folha de São Paulo, o marqueteiro da campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT), João Santana, destacou um aspecto interessante destas eleições: as lendas construídas pela oposição e pela mídia sobre a então candidata governista. Segundo Santana, oposição e alguns setores da mídia “construíram quatro lendas eleitorais: que Lula não transferia voto, que Dilma ia ser péssima na TV, que Dilma ia ser um desastre nos debates e que Dilma, a qualquer momento, iria provocar uma gafe irremediável nas entrevistas. Nada disso ocorreu, muito pelo contrário”.
O marqueteiro prossegue, destacando que “construíram, pelo menos, quatro lendas biográficas: que Dilma tinha um passado obscuro na luta armada, que era uma pessoa de currículo inconsistente, que teve um mau desempenho no governo Lula, e que o fato de ter tido câncer seria fatal para a candidatura. Nada disso se confirmou. E construíram lendas políticas. As principais eram que Dilma não uniria o PT, não teria jogo de cintura para as negociações políticas e que não saberia dialogar com a base aliada. Outra vez, tudo foi por terra”.
As eleições passaram, mas a vitória de Dilma, a despeito de todas as lendas “furadas” que foram alimentadas pela oposição e parte da mídia, não foi suficiente para aplacar o exercício de futurologia praticado nas redações dos grandes jornais. Isto porque, se antes, durante a campanha, a futurologia dos grandes grupos de imprensa apontava para dificuldades eleitorais da então candidata, agora, essas mesmas redações apostam que, uma vez eleita, Dilma terá grandes dificuldades na área econômica.
Futurologia com guerra cambial
A bola da vez, neste sentido, diz respeito à questão da valorização do real frente ao dólar, que vem sendo apontada pela grande imprensa e por economistas nada isentos como “a” grande dificuldade que Dilma terá que enfrentar em seu primeiro ano de governo. A reunião do G-20 (grupo formado pelas 20 maiores economias do mundo) nesta semana veio colocar ainda mais combustível neste debate, ampliando ainda mais o côro pessimista dos que acham que o governo Dilma será amplamente prejudicado pela guerra cambial que se desenrola no cenário externo.
Ainda na semana passada, a revista Época trouxe como capa uma matéria intitulada O vento vai soprar a favor de Dilma?, na qual faz um exercício de futurologia barata que “revela” um cenário menos animador para Dilma do que aquele encontrado por Lula no início do seu mandato. Ao longo desta semana, por sua vez, pipocaram editoriais e análises traçando cenários dos mais nebulosos para o primeiro ano de governo da nova Presidente.
Segundo a revista Época, “uma das principais razões para o sucesso do governo Lula foi um cenário internacional extremamente favorável”, emendando logo em seguida que “há muitos sinais de que Dilma – e, com ela, a nação inteira – pode não ter a mesma sorte”. Cabe aqui a questão: até que ponto esta avaliação é coerente? Ou melhor: até que ponto este tipo de colocação não passa de uma mera manifestação da torcida do contra? Ora, a reflexão sobre as questões lançadas me fazem lembrar de algo que aprendi ainda na época da faculdade de Economia, com o professor João Sayad, que na época também era Secretário das Finanças da Prefeitura de São Paulo, na gestão Marta Suplicy (PT).
O professor Sayad nos ensinava que é preciso saber separar o homem do seu tempo. Ou seja, há que se ter a racionalidade de avaliar o que é mérito do homem e o que é mérito do seu tempo. Esse ensinamento é trazido para o centro do debate justamente para entender a primeira afirmação feita pela revista Época: a de que uma das principais razões do sucesso do governo Lula foi o cenário internacional extremamente favorável. Ao que tudo indica, a lição de João Sayad não é conhecida (ou caso seja, é oportunamente ignorada) na redação da revista Época.
Mérito do projeto político de Lula e Dilma
Naturalmente, o governo Lula encontrou um cenário internacional favorável, mas até aí dizer que isto foi um dos principais ingredientes para o seu sucesso soa como um exagero premeditado. Devemos lembrar que, logo no seu primeiro de governo, Lula não teve um cenário externo dos mais auspiciosos, já que em 2003 o preço do petróleo no mercado internacional sofreu um expressivo aumento por conta da invasão norte-americana no Iraque. Não é preciso ser um gênio da Economia para saber que o efeito de altas no petróleo sobre a inflação interna. Pois bem, e o governo Lula saiu-se muito bem para conter maiores repiques inflacionários no mercado interno.
Mais recentemente, em 2008, quando o mundo inteiro passava pela maior crise do capitalismo desde 1929, mais uma vez o governo Lula mostrou uma habilidade enorme ao adotar medidas anti-cíclicas que garantiram que o Brasil fosse o último país a entrar na crise e o primeiro a sair dela. Aqui retomamos a lição do professor Sayad: o êxito obtido pelo governo Lula decorre muito mais do mérito do seu projeto político do que propriamente do mérito do seu tempo. Fosse verdade que o governo Lula foi exitoso tão somente pelo cenário externo, seria plausível então imaginar que durante a crise o país também entrasse em colapso, como outras economias.
E não foi isto que aconteceu, o que corrobora a tese defendida por este blog de que o sucesso do governo deveu-se, sobretudo, ao projeto político adotado pelo mesmo, do qual Dilma é a legítima herdeira. Em 2008, os mesmos jornais e revistas que hoje dizem que Dilma enfrentará grandes dificuldades em seu primeiro ano de governo foram os que, nos seus exercícios de futurologia, previram um grande tsunami econômico para o Brasil no ano seguinte. Erraram daquela vez, erraram ao longo deste processo eleitoral e errarão novamente na sua torcida do contra. O projeto até aqui capitaneado por Lula e que a partir de janeiro será levado adiante por Dilma garantirá um crescimento vigoroso para a economia brasileira, com mais geração de empregos, inflação sob controle e maior renda para os brasileiros.
Que fique claro aqui: a intenção deste blog não é fechar os olhos ao problema real da guerra cambial que vem se verificando no cenário externo e que pode ter sim impactos negativos sobre a economia brasileira. Longe disso. A questão é que mais uma vez a grande imprensa super-dimensiona a questão, se esquecendo de forma proposital que o Brasil não depende somente das exportações, já que nos últimos anos foi capaz de criar um mercado interno de consumo robusto. Além disso, a equipe econômica já vem tomando medidas bastante plausíveis no sentido de conter uma maior valorização do real frente à moeda norte-americana.
Assim, de nada adianta parte da grande imprensa seguir com seus fatídicos exercícios de futurologia barata. Assim como falharam em momentos anteriores, irão falhar nesse momento, pois Dilma representa um projeto sólido de desenvolvimento, iniciado por Lula e que foi muito exitoso nos últimos anos, não obstante às intempéries da economia global no período.
O marqueteiro prossegue, destacando que “construíram, pelo menos, quatro lendas biográficas: que Dilma tinha um passado obscuro na luta armada, que era uma pessoa de currículo inconsistente, que teve um mau desempenho no governo Lula, e que o fato de ter tido câncer seria fatal para a candidatura. Nada disso se confirmou. E construíram lendas políticas. As principais eram que Dilma não uniria o PT, não teria jogo de cintura para as negociações políticas e que não saberia dialogar com a base aliada. Outra vez, tudo foi por terra”.
As eleições passaram, mas a vitória de Dilma, a despeito de todas as lendas “furadas” que foram alimentadas pela oposição e parte da mídia, não foi suficiente para aplacar o exercício de futurologia praticado nas redações dos grandes jornais. Isto porque, se antes, durante a campanha, a futurologia dos grandes grupos de imprensa apontava para dificuldades eleitorais da então candidata, agora, essas mesmas redações apostam que, uma vez eleita, Dilma terá grandes dificuldades na área econômica.
Futurologia com guerra cambial
A bola da vez, neste sentido, diz respeito à questão da valorização do real frente ao dólar, que vem sendo apontada pela grande imprensa e por economistas nada isentos como “a” grande dificuldade que Dilma terá que enfrentar em seu primeiro ano de governo. A reunião do G-20 (grupo formado pelas 20 maiores economias do mundo) nesta semana veio colocar ainda mais combustível neste debate, ampliando ainda mais o côro pessimista dos que acham que o governo Dilma será amplamente prejudicado pela guerra cambial que se desenrola no cenário externo.
Ainda na semana passada, a revista Época trouxe como capa uma matéria intitulada O vento vai soprar a favor de Dilma?, na qual faz um exercício de futurologia barata que “revela” um cenário menos animador para Dilma do que aquele encontrado por Lula no início do seu mandato. Ao longo desta semana, por sua vez, pipocaram editoriais e análises traçando cenários dos mais nebulosos para o primeiro ano de governo da nova Presidente.
Segundo a revista Época, “uma das principais razões para o sucesso do governo Lula foi um cenário internacional extremamente favorável”, emendando logo em seguida que “há muitos sinais de que Dilma – e, com ela, a nação inteira – pode não ter a mesma sorte”. Cabe aqui a questão: até que ponto esta avaliação é coerente? Ou melhor: até que ponto este tipo de colocação não passa de uma mera manifestação da torcida do contra? Ora, a reflexão sobre as questões lançadas me fazem lembrar de algo que aprendi ainda na época da faculdade de Economia, com o professor João Sayad, que na época também era Secretário das Finanças da Prefeitura de São Paulo, na gestão Marta Suplicy (PT).
O professor Sayad nos ensinava que é preciso saber separar o homem do seu tempo. Ou seja, há que se ter a racionalidade de avaliar o que é mérito do homem e o que é mérito do seu tempo. Esse ensinamento é trazido para o centro do debate justamente para entender a primeira afirmação feita pela revista Época: a de que uma das principais razões do sucesso do governo Lula foi o cenário internacional extremamente favorável. Ao que tudo indica, a lição de João Sayad não é conhecida (ou caso seja, é oportunamente ignorada) na redação da revista Época.
Mérito do projeto político de Lula e Dilma
Naturalmente, o governo Lula encontrou um cenário internacional favorável, mas até aí dizer que isto foi um dos principais ingredientes para o seu sucesso soa como um exagero premeditado. Devemos lembrar que, logo no seu primeiro de governo, Lula não teve um cenário externo dos mais auspiciosos, já que em 2003 o preço do petróleo no mercado internacional sofreu um expressivo aumento por conta da invasão norte-americana no Iraque. Não é preciso ser um gênio da Economia para saber que o efeito de altas no petróleo sobre a inflação interna. Pois bem, e o governo Lula saiu-se muito bem para conter maiores repiques inflacionários no mercado interno.
Mais recentemente, em 2008, quando o mundo inteiro passava pela maior crise do capitalismo desde 1929, mais uma vez o governo Lula mostrou uma habilidade enorme ao adotar medidas anti-cíclicas que garantiram que o Brasil fosse o último país a entrar na crise e o primeiro a sair dela. Aqui retomamos a lição do professor Sayad: o êxito obtido pelo governo Lula decorre muito mais do mérito do seu projeto político do que propriamente do mérito do seu tempo. Fosse verdade que o governo Lula foi exitoso tão somente pelo cenário externo, seria plausível então imaginar que durante a crise o país também entrasse em colapso, como outras economias.
E não foi isto que aconteceu, o que corrobora a tese defendida por este blog de que o sucesso do governo deveu-se, sobretudo, ao projeto político adotado pelo mesmo, do qual Dilma é a legítima herdeira. Em 2008, os mesmos jornais e revistas que hoje dizem que Dilma enfrentará grandes dificuldades em seu primeiro ano de governo foram os que, nos seus exercícios de futurologia, previram um grande tsunami econômico para o Brasil no ano seguinte. Erraram daquela vez, erraram ao longo deste processo eleitoral e errarão novamente na sua torcida do contra. O projeto até aqui capitaneado por Lula e que a partir de janeiro será levado adiante por Dilma garantirá um crescimento vigoroso para a economia brasileira, com mais geração de empregos, inflação sob controle e maior renda para os brasileiros.
Que fique claro aqui: a intenção deste blog não é fechar os olhos ao problema real da guerra cambial que vem se verificando no cenário externo e que pode ter sim impactos negativos sobre a economia brasileira. Longe disso. A questão é que mais uma vez a grande imprensa super-dimensiona a questão, se esquecendo de forma proposital que o Brasil não depende somente das exportações, já que nos últimos anos foi capaz de criar um mercado interno de consumo robusto. Além disso, a equipe econômica já vem tomando medidas bastante plausíveis no sentido de conter uma maior valorização do real frente à moeda norte-americana.
Assim, de nada adianta parte da grande imprensa seguir com seus fatídicos exercícios de futurologia barata. Assim como falharam em momentos anteriores, irão falhar nesse momento, pois Dilma representa um projeto sólido de desenvolvimento, iniciado por Lula e que foi muito exitoso nos últimos anos, não obstante às intempéries da economia global no período.
Nenhum comentário:
Postar um comentário