Cardápio do boteko

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Com baixa aprovação de García, centro-direita avança na sucessão presidencial do Peru

Faltando menos de 100 dias para as eleições presidenciais no Peru, marcadas para o próximo dia 10 de abril, os principais candidatos à sucessão do Presidente Alan García seguem embolados de acordo com as recentes sondagens de intenção de votos. Em meio a sucessivos escândalos de corrupção em torno do atual governo e com a popularidade de García em níveis cada vez menor, não obstante ao crescimento acentuado do PIB (Produto Interno Bruto) peruano, a condução da economia e as propostas de combate à corrupção têm pautado a disputa eleitoral no país latino-americano.

De acordo com o chefe do Departamento de Ciência Política da Universidade Católica de Lima, Martín Tanaka, “mais de 60% dos peruanos não têm idéia do que significa esquerda e direita. Além da volatilidade do voto, as referências ideológicas diminuíram muito, praticamente sumiram. A porcentagem que se identifica como de esquerda ou direita está no centro do país, mais politizado”. Diante desta constatação, o embate eleitoral se dá menos na esfera ideológica e mais no campo do pragmatismo político. Como avalia Tanaka, “os eleitores estão interessados nos temas de segurança, combate à corrupção e pobreza etc, e ao mesmo tempo, há muitas críticas ao funcionamento das instituições”.

Ou seja, os eleitores tendem a votar no candidato que oferece saídas para os problemas mais críticos do país, independentemente de seu campo político-ideológico. Se fizermos um retrospecto dos últimos governos do Peru, poderemos constatar uma alternância entre esquerda e direita no poder. O primeiro governo de Alan García (1985-1990), por exemplo, de tendência centro-esquerda foi sucedido por Alberto Fujimori (1990-2000), de extrema direita. Após a renúncia de Fujimori e o governo provisório de Valentín Paniagua, ascendeu ao poder o centrista Alejandro Toledo (2001-2006), que fez um governo seguindo a lógica do neoliberalismo. Por fim, Alan García retorna ao poder em 2006 graças a um programa que prometia geração de empregos e fim das privatizações.

Com baixa aprovação, Alan García não deve fazer sucessor
O governo de Alan García, contudo, encontra-se em um de seus piores momentos, com a aprovação do Presidente em apenas 32%, segundo levantamento Ipsos-Apoyo divulgado em dezembro de 2010. De acordo com esta mesma pesquisa, entre os motivos que justificam a expressiva desaprovação do governo por 63% dos peruanos, podem ser destacados: inflação (citado por 47%), não-cumprimento das promessas de campanha (para 39%), corrupção do governo (citado por 37%), desemprego (lembrado por 36%), má condução da economia (citado por 34%) e ausência de políticas para reduzir a pobreza (apontado por 32%). Assim, economia e corrupção são os dois grandes problemas apontados pelos habitantes do Peru em relação ao governo Alan García.

Em novembro de 2008, escutas telefônicas revelaram um esquema de favorecimento em licitações públicas e concessões de lotes de petróleo. O escândalo envolvia membros do gabinete ministerial de Alan García e empresários peruanos, representados por um ex-ministro do primeiro governo de García (1985-1990) e por um ex-advogado do Presidente peruano. Para se ter uma idéia da dimensão desses escândalos, basta dizer que nesses quase cinco anos, García trocou seis vezes o responsável pelo Ministério do Interior, sendo que pelo menos quatro nomes foram substituídos por denúncias de corrupção. E pior: as acusações de corrupção perseguem Alan García desde o seu primeiro mandato, nos anos 80.

Com a popularidade do Presidente em baixa, não é difícil entender porque a candidata governista Mercedes Aráoz, que passou por três Ministérios no governo García (Comércio Exterior e Turismo; Produção; e, mais recentemente, Economia e Finanças), não emplaca nas pesquisas de intenção de voto. Segundo levantamento Ipsos-Apoyo realizado em dezembro, Mercedes Aráoz tem apenas 5% das intenções de voto, bem abaixo de seus principais adversários. Não obstante a esse cenário, o Partido Aprista Peruano (APRA) aposta no crescimento de Aráoz sobretudo no interior e entre os eleitores de baixa renda. A partir desta terça-feira, 4, ex-Ministra da Economia iniciará uma série de comícios por essas regiões, a fim de conquistar essa parcela do eleitorado e impulsionar sua candidatura.


Centro e direita estão fortalecidos no processo eleitoral
Se as coisas não estão muito bem para o governo, o que acaba respingando na candidatura da situação, o contrário acontece com as candidaturas da oposição. Para se ter uma idéia, enquanto Mercedes Aráoz amarga a lanterna da disputa presidencial, a oposição de centro e de direita está na outra ponta, liderando com folga e disputando entre si a sucessão de Alan García. Segundo o levantamento Ipsos-Apoyo de dezembro, o ex-prefeito de Lima, Luis Castañeda (Partido Solidariedade Nacional), aparece com 23% das intenções de voto, empatado com o ex-Presidente do Peru, Alejandro Toledo (Peru Possível). Apoiando a candidatura de Castañeda estão os setores da direita não alinhados ao fujimorismo, ao passo que Toledo reúne em torno de si os setores de centro, o que lhe dá um certo favoritismo na disputa.

É interessante notar ainda a tendência de crescimento contínuo de Alejandro Toledo ao longo das recentes pesquisas de intenções de voto. Em apenas quatro meses, Toledo cresceu 9 pontos percentuais, ao passo que Castañeda, até então favorito, oscilou apenas 3 pontos percentuais para cima. Vale lembrar que nesse levantamento a margem de erro é de 2,8 pontos percentuais, o que nos permite dizer que quem cresceu com certeza, para além da margem de erro, foi o ex-Presidente Toledo. Além disso, dentre os candidatos à sucessão do Presidente Alan García, o que apresenta a menor rejeição é Alejandro Toledo. Essa menor rejeição tende a ser um aspecto muito positivo, que pode impulsionar ainda mais a candidatura de Toledo na reta final das eleições presidenciais.

Na zona do empate técnico com Castañeda e Toledo está uma estreante na disputa presidencial: a filha do ex-Presidente Alberto Fujimori e ex-congressista, Keiko Fujimori (Força 2011). Com um programa de extrema direita, Keiko, que desde 2005 é líder dos fujimoristas, aparece nas pesquisas com 20% das intenções de voto. Embora a filha do ex-Presidente Fujimori apareça com boa pontuação nas sondagens eleitorais, analistas revelam que é muito pouco provável sua vitória nas urnas, uma vez que sua rejeição é bastante elevada. Em quarto lugar, por sua vez, aparece o esquerdista Ollanta Humala, com 11% das intenções de voto. Humala é candidato do Partido Nacionalista Peruano e, em 2006, foi ao segundo turno com Alan García, onde atingiu 47% dos votos. Assim como Keiko Fujimori, Ollanta Humala possui elevada rejeição.

Com a intensificação da campanha eleitoral a partir desta semana, o debate deve ficar ainda mais acirrado entre os pleiteantes à sucessão de Alan García. Enquanto os governistas seguirão na defesa dos investimentos feitos por García em programas sociais, tentando, assim, impulsionar a candidata Mercedes Aráoz, a oposição continuará trazendo para o centro do debate questões ligadas ao combate à corrupção e também ao manejo da economia, que são considerados os pontos fracos do atual governo peruano. Ao que tudo indica, os próximos meses serão de intenso debate no vizinho latino-americano.

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