Após vir à tona o chamado “Cablegate”, com o vazamento de documentos secretos da diplomacia norte-americana que mais se assemelham a relatórios de espionagem, cada país tem procurado descobrir quais as “impressões” dos representantes da Casa Branca a seu respeito. Ao contrário do que aconteceu com outros países, o Departamento de Estado norte-americano não solicitou, no caso do Brasil, informações de caráter privado sobre o integrantes do governo e o próprio Presidente Lula, pelo menos de acordo com os documentos revelados até o momento.
A temática geral dos relatórios dos funcionários das embaixadas norte-americanas no Brasil diz respeito ao comportamento do país em relação à cooperação com os Estados Unidos para atividades de contra-terrorismo. Os documentos vazados deixam claro, neste sentido, a verdadeira “obsessão” da Casa Branca por informações que possam auxiliar na identificação de agentes do terrorismo internacional que estejam porventura radicados, ou mesmo de passagem, pelo Brasil ou pela região da Tríplice Fronteira (Argentina-Brasil-Paraguai), como evidenciado em um dos relatórios.
Brasil não se alinha a obsessão dos EUA
A sensação que se tem após a leitura dos documentos é que, de fato, os Estados Unidos vêem tudo, ou pelo menos quase tudo, como uma ameaça de terrorismo em potencial. E para nossa sorte, o governo brasileiro não dá muito crédito (como fica claro nos vários documentos) a esta obsessão da Casa Branca por “caçar terroristas”. Segundo um relatório enviado ao Departamento de Estado norte-americano em janeiro de 2008, pelo embaixador Clifford Sobel, o governo brasileiro “continua resistente à opinião de que organizações terroristas ou extremistas têm presença ou estão realizando atividades no Brasil”.
De acordo com esse mesmo relatório de Sobel, “os mais altos níveis do governo brasileiro, particularmente o Ministério das Relações Exteriores, são extremamente resistentes à idéia de que os terroristas têm presença no Brasil - seja para arrecadar fundos, organizar a logística ou mesmo trânsito no país - e vigorosamente rejeitam quaisquer declarações implicando em contrário. Esta sensibilidade resulta, em parte, do seu medo de estigmatizar a comunidade muçulmana do Brasil (estimada, mas não confirmada, por algumas fontes em mais de um milhão) ou prejudicar a imagem do território como um destino turístico”.
É muito interessante notarmos que o próprio embaixador dos Estados Unidos no Brasil destaca essa resistência do nosso governo em compartilhar dessa obsessão compulsiva da Casa Branca pelo combate ao que eles chamam de terrorismo. Em outro ponto do relatório, o embaixador norte-americano avalia que essa postura do governo brasileiro destina-se a “evitar uma ligação estreita com aquilo que é entendido como uma guerra excessivamente agressiva dos EUA contra o terrorismo”. Os documentos deixam claro que essa resistência do Brasil à obsessão contra-terrorista dos Estados Unidos ocorre tanto no aspecto simbólico quanto concreto.
A temática geral dos relatórios dos funcionários das embaixadas norte-americanas no Brasil diz respeito ao comportamento do país em relação à cooperação com os Estados Unidos para atividades de contra-terrorismo. Os documentos vazados deixam claro, neste sentido, a verdadeira “obsessão” da Casa Branca por informações que possam auxiliar na identificação de agentes do terrorismo internacional que estejam porventura radicados, ou mesmo de passagem, pelo Brasil ou pela região da Tríplice Fronteira (Argentina-Brasil-Paraguai), como evidenciado em um dos relatórios.
Brasil não se alinha a obsessão dos EUA
A sensação que se tem após a leitura dos documentos é que, de fato, os Estados Unidos vêem tudo, ou pelo menos quase tudo, como uma ameaça de terrorismo em potencial. E para nossa sorte, o governo brasileiro não dá muito crédito (como fica claro nos vários documentos) a esta obsessão da Casa Branca por “caçar terroristas”. Segundo um relatório enviado ao Departamento de Estado norte-americano em janeiro de 2008, pelo embaixador Clifford Sobel, o governo brasileiro “continua resistente à opinião de que organizações terroristas ou extremistas têm presença ou estão realizando atividades no Brasil”.
De acordo com esse mesmo relatório de Sobel, “os mais altos níveis do governo brasileiro, particularmente o Ministério das Relações Exteriores, são extremamente resistentes à idéia de que os terroristas têm presença no Brasil - seja para arrecadar fundos, organizar a logística ou mesmo trânsito no país - e vigorosamente rejeitam quaisquer declarações implicando em contrário. Esta sensibilidade resulta, em parte, do seu medo de estigmatizar a comunidade muçulmana do Brasil (estimada, mas não confirmada, por algumas fontes em mais de um milhão) ou prejudicar a imagem do território como um destino turístico”.
É muito interessante notarmos que o próprio embaixador dos Estados Unidos no Brasil destaca essa resistência do nosso governo em compartilhar dessa obsessão compulsiva da Casa Branca pelo combate ao que eles chamam de terrorismo. Em outro ponto do relatório, o embaixador norte-americano avalia que essa postura do governo brasileiro destina-se a “evitar uma ligação estreita com aquilo que é entendido como uma guerra excessivamente agressiva dos EUA contra o terrorismo”. Os documentos deixam claro que essa resistência do Brasil à obsessão contra-terrorista dos Estados Unidos ocorre tanto no aspecto simbólico quanto concreto.
“Nas conferências [realizadas anualmente entre o serviço de inteligência norte-americano e os serviços de inteligência dos países da Tríplice Fronteira], as delegações brasileiras muitas vezes criticam declarações feitas por autoridades dos EUA que alegam que a Tríplice Fronteira é um foco de atividades terroristas e desafiam os participantes dos EUA a apresentarem as provas em que autoridades do país se baseiam para dar essas declarações”, relata Sobel em outra parte do relatório. Outro exemplo dado pelo embaixador mostra que o entendimento do governo brasileiro sobre terrorismo é distindo do conceito norte-americano.
Segundo Sobel, “o governo brasileiro recusa, tanto legalmente quanto retoricamente, o rótulo de terrorista dado pelos norte-americanos a grupos como o Hamas, Hezbollah ou as FARC - os dois primeiros são considerados pelo Brasil como partidos políticos legítimos. Como resultado, o seu limite para aceitar a evidência da atividade do financiamento do terrorismo na região, pelo menos publicamente, é muito alto e informações indicando que os indivíduos na Tríplice Fronteira enviam fundos para os grupos no Líbano, na sua opinião, não constituem necessariamente um atividade de apoio ao terrorismo”.
EUA vêem Brasil como parceiro de cooperação
É interessante notar que em outro documento – datado de abril de 2008 e também escrito pelo embaixador Clifford Sobel – o tom é quase de um “lamento” porque o governo brasileiro “estava retrocedendo em seu esforço para apresentar uma legislação sobre o contra-terrorismo (CT)”. Sobel afirma no documento que “algumas notícias têm sugerido que a ministra-Chefe da Casa Civil do presidente Lula, Dilma Rousseff, anulou a legislação proposta, que tinha sido criticada por alguns ativistas sociais e grupos jurídicos, que temiam que poderia ser usado contra eles, compando a proposta à repressão da era militar”.
Para o embaixador, “o silêncio dos meios de comunicação e de grupos políticos após a decisão do governo brasileiro [de recuar numa legislação contra-terrorista] expôs uma falta de gás dessa temática entre as elites, cujo apoio seria necessário para superar a resistência do governo brasileiro. Como resultado, nosso esforço para colocar esta legislação novamente na agenda do Brasil será uma batalha árdua”. Por aqui pode-se ter uma idéia mais precisa da enorme insistência do governo norte-americano para tentar “afinar” o entendimento brasileiro do que seja terrorismo aos padrões estabelecidos por Washington.
Vale ressaltar que apesar de todos esses “poréns” apontados pelos relatórios da embaixada norte-americana sobre o Brasil, os documentos, de maneira geral, destacam que o governo brasileiro tem sido um importante parceiro da Casa Branca. “O governo brasileiro é um parceiro de cooperação no combate ao terrorismo e atividades relacionados com o terrorismo no Brasil - que incluem a investigação do financiamento do terrorismo em potencial, as redes de falsificação de documentos e outras atividades ilícitas - que possam contribuir para a facilitação de ataques na região ou em outro lugar”, diz um desses documentos vazados pelo site WikiLeaks.
Fica claro, em todo conteúdo exposto de maneira confidencial pelo embaixada norte-americana em Brasília ao Departamento de Estado norte-americano, que o governo brasileiro embora mantenha uma relação diplomática muito boa com Washington (como os próprios documentos corroboram), não baixa a cabeça para todo tipo de política que seja traçada pela Casa Branca. É muito satisfatório, por exemplo, constatarmos que, de fato, o Brasil não vem se alinhando, como fazia em épocas anteriores, a toda sorte de desígnios dos Estados Unidos. Fica claro, na análise desses documentos, que o governo brasileiro de fato é uma pedrinha bem incômoda no sapato de Washington.
Leia também:
Documentos secretos da diplomacia dos EUA vêm à tona e deixam Casa Branca em saia justa
Segundo Sobel, “o governo brasileiro recusa, tanto legalmente quanto retoricamente, o rótulo de terrorista dado pelos norte-americanos a grupos como o Hamas, Hezbollah ou as FARC - os dois primeiros são considerados pelo Brasil como partidos políticos legítimos. Como resultado, o seu limite para aceitar a evidência da atividade do financiamento do terrorismo na região, pelo menos publicamente, é muito alto e informações indicando que os indivíduos na Tríplice Fronteira enviam fundos para os grupos no Líbano, na sua opinião, não constituem necessariamente um atividade de apoio ao terrorismo”.
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É interessante notar que em outro documento – datado de abril de 2008 e também escrito pelo embaixador Clifford Sobel – o tom é quase de um “lamento” porque o governo brasileiro “estava retrocedendo em seu esforço para apresentar uma legislação sobre o contra-terrorismo (CT)”. Sobel afirma no documento que “algumas notícias têm sugerido que a ministra-Chefe da Casa Civil do presidente Lula, Dilma Rousseff, anulou a legislação proposta, que tinha sido criticada por alguns ativistas sociais e grupos jurídicos, que temiam que poderia ser usado contra eles, compando a proposta à repressão da era militar”.
Para o embaixador, “o silêncio dos meios de comunicação e de grupos políticos após a decisão do governo brasileiro [de recuar numa legislação contra-terrorista] expôs uma falta de gás dessa temática entre as elites, cujo apoio seria necessário para superar a resistência do governo brasileiro. Como resultado, nosso esforço para colocar esta legislação novamente na agenda do Brasil será uma batalha árdua”. Por aqui pode-se ter uma idéia mais precisa da enorme insistência do governo norte-americano para tentar “afinar” o entendimento brasileiro do que seja terrorismo aos padrões estabelecidos por Washington.
Vale ressaltar que apesar de todos esses “poréns” apontados pelos relatórios da embaixada norte-americana sobre o Brasil, os documentos, de maneira geral, destacam que o governo brasileiro tem sido um importante parceiro da Casa Branca. “O governo brasileiro é um parceiro de cooperação no combate ao terrorismo e atividades relacionados com o terrorismo no Brasil - que incluem a investigação do financiamento do terrorismo em potencial, as redes de falsificação de documentos e outras atividades ilícitas - que possam contribuir para a facilitação de ataques na região ou em outro lugar”, diz um desses documentos vazados pelo site WikiLeaks.
Fica claro, em todo conteúdo exposto de maneira confidencial pelo embaixada norte-americana em Brasília ao Departamento de Estado norte-americano, que o governo brasileiro embora mantenha uma relação diplomática muito boa com Washington (como os próprios documentos corroboram), não baixa a cabeça para todo tipo de política que seja traçada pela Casa Branca. É muito satisfatório, por exemplo, constatarmos que, de fato, o Brasil não vem se alinhando, como fazia em épocas anteriores, a toda sorte de desígnios dos Estados Unidos. Fica claro, na análise desses documentos, que o governo brasileiro de fato é uma pedrinha bem incômoda no sapato de Washington.
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Oi leandro, boa análise. Também achei o mesmo, que o brasil não abaixou a cabeça para os EUA, por outro lado, vem tendo cooperação na falsa guerra ao terrorismo americano.
ResponderExcluirVocê não acha que estes documentos irão forçar o Brasil a criar uma legislação mais ferrenha em relação a terrorismo, coisa que os EUA gostaria?
Eu estou começando a ver esta liberação de documentos como um ataque de falsa bandeira (veja operação northwoods), que causará um impacto negativo, um dano colateral, mas em longo prazo trará mais benefícios que danos aos EUA. Veja por exemplo os documentos acerca do Iran e da China.
Eu estou criando um repositório de artigos que mencionam o Brasil:
http://blog.antinovaordemmundial.com/2010/11/cablegate-brasil-veja-aqui-todos-os-documentos-relacionados-com-o-brasil/
[]s
Roberto
Olá Roberto, tudo bem?
ResponderExcluirObrigado pelo comentário no blog! Sinceramente, estou vendo com cautela esses documentos do Depto de Estado vazados pelo WikiLeaks! Li um artigo hoje, se não me engano no El País, que vai nesse sentido que vc falou: de no longo prazo esse "incidente" ser mais benéfico do que prejudicial aos EUA! Estou refletindo a respeito, mas tendo a concordar que é isso mesmo!
Vamos nos falando!
Abração!