Os números das contas nacionais relativos ao primeiro trimestre deste ano estiveram no centro do noticiário econômico desta terça-feira, 8. Entre janeiro e março deste ano, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apurou um expressivo crescimento de 9% do PIB (Produto Interno Bruto) na comparação com igual período do ano anterior, puxado por uma significativa expansão de todos os componentes da demanda interna e externa. O crescimento “chinês” do PIB brasileiro foi o maior já verificado no trimestre desde 1995. Na comparação com o quarto trimestre do ano anterior, a economia brasileira cresceu 2,7%, bem acima do registrado por países desenvolvidos no mesmo período, evidenciando o vigor da recuperação econômica do país após os efeitos da crise financeira nas contas de 2009.
Os Estados Unidos, por exemplo, apresentaram uma expansão do PIB da ordem de 0,8% entre janeiro e março deste ano, tomando-se como base de comparação o último trimestre do ano passado. Vale destacar que no resultado acumulado do ano passado, a economia norte-americana apresentou retração de 2,4%, enquanto o PIB brasileiro apresentou leve recuo de 0,2%. Os países da Zona do Euro, por sua vez, registraram leve expansão de 0,2% no primeiro trimestre deste ano, após terem fechado o ano de 2009 com forte recuo de 4,1%. Portugal (+1,0%), Itália (+0,5%) e Reino Unido (+0,3%) apresentaram crescimento acima da média da região, enquanto a Alemanha ficou em linha com a média.
Mais importante, contudo, que a magnitude do desempenho da economia brasileira no período é entendermos qual tem sido a natureza do crescimento brasileiro nos últimos anos. Sabe-se que o crescimento “bom” é aquele apoiado na expansão dos investimentos (formação bruta de capital fixo) e não apenas no consumo, uma vez que quando o consumo se expande sem ser acompanhado por um avanço do investimento cria-se na economia o risco de que o crescimento do PIB não se sustente ao longo do tempo, não passando de uma “bolha”, como se costuma dizer no jargão econômico. Além disso, se o investimento não cresce de forma a atender a expansão do consumo, a economia caminha para um hiato de curto prazo entre oferta e demanda, criando tensões inflacionárias.
Naturalmente, no médio e longo prazo, uma economia aberta como no caso do Brasil tende a corrigir este cenário através do incremento das importações, de forma a atender o excesso de demanda interna. Contudo, isso não é interessante para a “saúde” da economia interna, haja vista que o cenário ideal é aquele em que os investimentos crescem de forma a equacionar a produção interna com o consumo e criar um ciclo virtuoso de crescimento. Considerando estas premissas, podemos avaliar que, embora a taxa de investimento esteja aquém do patamar ideal, ela tem crescido gradualmente ao longo dos últimos anos, sobretudo após o governo Lula lançar, em 2007, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Taxa de Investimento cresce para 18% do PIB
Para se ter uma idéia, de acordo com os dados do IBGE, no primeiro trimestre deste ano o item Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) apresentou a sua maior expansão em 15 anos, de 26%, impulsionado pela maior produção interna de máquinas e equipamentos e também por uma forte expansão de 14,9% na construção civil. Com isso, a taxa de investimento, calculada pela razão entre FBCF e PIB, ficou em 18%, acima do nível registrado no primeiro trimestre do ano anterior, que foi de 16,3% do PIB. É interessante notar que esse patamar fica acima também da taxa média de investimento registrada ao longo do governo FHC (1995-2002), que foi de 16,9%, segundo a série histórica do IBGE.
O consumo das famílias, por sua vez, apresentou o 26º crescimento consecutivo, da ordem de 9,3% na comparação com o primeiro trimestre de 2009, enquanto o consumo do governo expandiu 2% no mesmo período. É interessante notar que, embora o consumo das famílias ainda responda por uma expressiva parcela do PIB (63,7% no primeiro trimestre deste ano), a notícia boa fica por conta que o investimento cresceu em uma velocidade maior que o consumo, tendência esta que, se sustentada, tende a ser extremamente positiva para o país. Quando visualizamos os dados desde 1995, podemos constatar que o consumo das famílias segue um ritmo de crescimento constante; porém sua participação no PIB total vem caindo, em função sobretudo do crescimento da participação do setor externo.
Enquanto na década de 90, a participação média do consumo era de 64,5% do PIB, entre 2001 e 2009 esta participação caiu para 61,1%. Em 2009, contudo, devido à maior disponibilização de linhas de crédito para os consumidores (como medida para minimizar os efeitos da crise econômica mundial na economia brasileira), o consumo voltou a crescer de forma acelerada, fechando 2009 em 62,7% do PIB, acima, portanto, da média dos anos anteriores. Felizmente a ampliação do crédito não se deu somente no âmbito dos consumidores, mas também das empresas, possibilitando que a taxa de investimento, após o recuo apresentado no ano passado, voltasse a crescer e atingisse o valor de 18% do PIB, registrado no primeiro trimestre deste ano.
Quando utilizamos o método das médias móveis para analisar a tendência temporal das taxas de investimento desde 1995, podemos notar quatro momentos distintos, conforme visualizado no gráfico abaixo. Embora a linha de tendência tenha se mantido constante, a linha das médias móveis (que mede a tendência de um ano específico em relação a média dos dois anos imediatamente anteriores) mostra que durante o governo FHC houve uma tendência de queda da taxa de investimento, que foi revertida tão logo começou o governo Lula e se acelerou a partir de 2007, quando o governo federal deu início ao PAC. Vale salientar que estatisticamente a curva das médias móveis suaviza as flutuações dos dados, mostrando mais claramente um movimento que a linha de tendência simples não consegue captar.
Assim, vejamos os movimentos apresentados pela taxa de investimento brasileira nestes últimos 15 anos:
a) Na 1ª fase apresentada no gráfico, entre 1995 e 1999, podemos visualizar que houve uma tendência de queda das médias móveis das taxas de investimento. Assim, enquanto no primeiro ano do governo FHC os investimentos respondiam por 18,3% do PIB, em 1999 essa taxa caiu para 15,7%;
b) Na 2ª fase, entre 2000 e 2003, a taxa de investimento da economia brasileira apresentou um repique entre 2000 e 2001, especialmente em função dos investimentos realizados no período para ampliação do parque termelétrico, como medida emergencial para evitar um racionamento de energia, que, contudo, não foi possível de ser evitado. E é justamente esse racionamento – ocorrido entre junho de 2001 e fevereiro de 2002 – que explica o novo recuo da taxa de investimento até 2003. Assim, enquanto em 2000 os investimentos responderam por 16,8% do PIB, em 2003 eles representaram apenas 15,3%, segundo os dados do IBGE;
c) Na 3ª fase, entre 2004 e 2006, notamos uma retomada da ampliação da taxa de investimento, ainda que de maneira bem suave, como evidencia a menor declividade da curva das médias móveis no gráfico em questão. Saindo de um nível de 15,3% em 2003, a taxa de investimento subiu para 16,4% em 2006, um incremento, portanto, de 1,1 ponto percentual;
d) Na 4ª fase, a partir de 2007, verificamos um crescimento mais acentuado da taxa de investimento (denotado pela maior declividade da curva das médias móveis), que pode ser explicado principalmente pelos investimentos realizados pelo governo Lula através do PAC. De 16,4% em 2006, a taxa de investimento foi a 18,7% em 2008, expansão de 2,3 pontos percentuais em apenas dois anos. Porém, como efeito da crise econômica mundial, em 2009 houve um repique e a taxa de investimento foi de apenas 16,7% do PIB, mas os números divulgados pelo IBGE referentes ao primeiro trimestre de 2010 já sinalizam uma recuperação do investimento, que chega a 18% do PIB entre janeiro e março deste ano.
A perspectiva é de que com os novos investimentos do PAC e a ampliação dos financiamentos pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) a taxa de investimentos deve continuar crescendo, porém de uma maneira não acelerada, já que alguns incentivos fiscais, como a isenção do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), foram retirados pelo governo. Ou seja, a economia deve continuar crescendo, mas com taxas menores. De qualquer forma, a análise temporal dos dados mostra que o Brasil está no rumo certo, mas deve continuar procurando formas para sustentar o crescimento econômico de longo prazo através do investimento e não apenas do consumo.
Conseguindo elevar ainda mais a taxa de investimento e também a taxa de poupança bruta interna, o que deve reduzir a dependência do setor produtivo da chamada poupança externa, o Brasil caminhará sem dúvida para ser a 5ª maior economia mundial na próxima década. Para isso, como dito anteriormente, é preciso que o país continue neste ritmo e que encontre soluções para equacionar alguns gargalos ainda existentes e também para desonerar o setor produtivo. De qualquer forma, não restam dúvidas de que desde 2003, quando teve início o governo Lula, o Brasil finalmente encontrou um rumo certo, do crescimento apoiado em maiores taxas de investimento e expansão do setor produtivo.
Os Estados Unidos, por exemplo, apresentaram uma expansão do PIB da ordem de 0,8% entre janeiro e março deste ano, tomando-se como base de comparação o último trimestre do ano passado. Vale destacar que no resultado acumulado do ano passado, a economia norte-americana apresentou retração de 2,4%, enquanto o PIB brasileiro apresentou leve recuo de 0,2%. Os países da Zona do Euro, por sua vez, registraram leve expansão de 0,2% no primeiro trimestre deste ano, após terem fechado o ano de 2009 com forte recuo de 4,1%. Portugal (+1,0%), Itália (+0,5%) e Reino Unido (+0,3%) apresentaram crescimento acima da média da região, enquanto a Alemanha ficou em linha com a média.
Mais importante, contudo, que a magnitude do desempenho da economia brasileira no período é entendermos qual tem sido a natureza do crescimento brasileiro nos últimos anos. Sabe-se que o crescimento “bom” é aquele apoiado na expansão dos investimentos (formação bruta de capital fixo) e não apenas no consumo, uma vez que quando o consumo se expande sem ser acompanhado por um avanço do investimento cria-se na economia o risco de que o crescimento do PIB não se sustente ao longo do tempo, não passando de uma “bolha”, como se costuma dizer no jargão econômico. Além disso, se o investimento não cresce de forma a atender a expansão do consumo, a economia caminha para um hiato de curto prazo entre oferta e demanda, criando tensões inflacionárias.
Naturalmente, no médio e longo prazo, uma economia aberta como no caso do Brasil tende a corrigir este cenário através do incremento das importações, de forma a atender o excesso de demanda interna. Contudo, isso não é interessante para a “saúde” da economia interna, haja vista que o cenário ideal é aquele em que os investimentos crescem de forma a equacionar a produção interna com o consumo e criar um ciclo virtuoso de crescimento. Considerando estas premissas, podemos avaliar que, embora a taxa de investimento esteja aquém do patamar ideal, ela tem crescido gradualmente ao longo dos últimos anos, sobretudo após o governo Lula lançar, em 2007, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Taxa de Investimento cresce para 18% do PIB
Para se ter uma idéia, de acordo com os dados do IBGE, no primeiro trimestre deste ano o item Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) apresentou a sua maior expansão em 15 anos, de 26%, impulsionado pela maior produção interna de máquinas e equipamentos e também por uma forte expansão de 14,9% na construção civil. Com isso, a taxa de investimento, calculada pela razão entre FBCF e PIB, ficou em 18%, acima do nível registrado no primeiro trimestre do ano anterior, que foi de 16,3% do PIB. É interessante notar que esse patamar fica acima também da taxa média de investimento registrada ao longo do governo FHC (1995-2002), que foi de 16,9%, segundo a série histórica do IBGE.
O consumo das famílias, por sua vez, apresentou o 26º crescimento consecutivo, da ordem de 9,3% na comparação com o primeiro trimestre de 2009, enquanto o consumo do governo expandiu 2% no mesmo período. É interessante notar que, embora o consumo das famílias ainda responda por uma expressiva parcela do PIB (63,7% no primeiro trimestre deste ano), a notícia boa fica por conta que o investimento cresceu em uma velocidade maior que o consumo, tendência esta que, se sustentada, tende a ser extremamente positiva para o país. Quando visualizamos os dados desde 1995, podemos constatar que o consumo das famílias segue um ritmo de crescimento constante; porém sua participação no PIB total vem caindo, em função sobretudo do crescimento da participação do setor externo.
Enquanto na década de 90, a participação média do consumo era de 64,5% do PIB, entre 2001 e 2009 esta participação caiu para 61,1%. Em 2009, contudo, devido à maior disponibilização de linhas de crédito para os consumidores (como medida para minimizar os efeitos da crise econômica mundial na economia brasileira), o consumo voltou a crescer de forma acelerada, fechando 2009 em 62,7% do PIB, acima, portanto, da média dos anos anteriores. Felizmente a ampliação do crédito não se deu somente no âmbito dos consumidores, mas também das empresas, possibilitando que a taxa de investimento, após o recuo apresentado no ano passado, voltasse a crescer e atingisse o valor de 18% do PIB, registrado no primeiro trimestre deste ano.
Quando utilizamos o método das médias móveis para analisar a tendência temporal das taxas de investimento desde 1995, podemos notar quatro momentos distintos, conforme visualizado no gráfico abaixo. Embora a linha de tendência tenha se mantido constante, a linha das médias móveis (que mede a tendência de um ano específico em relação a média dos dois anos imediatamente anteriores) mostra que durante o governo FHC houve uma tendência de queda da taxa de investimento, que foi revertida tão logo começou o governo Lula e se acelerou a partir de 2007, quando o governo federal deu início ao PAC. Vale salientar que estatisticamente a curva das médias móveis suaviza as flutuações dos dados, mostrando mais claramente um movimento que a linha de tendência simples não consegue captar.
Assim, vejamos os movimentos apresentados pela taxa de investimento brasileira nestes últimos 15 anos:
a) Na 1ª fase apresentada no gráfico, entre 1995 e 1999, podemos visualizar que houve uma tendência de queda das médias móveis das taxas de investimento. Assim, enquanto no primeiro ano do governo FHC os investimentos respondiam por 18,3% do PIB, em 1999 essa taxa caiu para 15,7%;
b) Na 2ª fase, entre 2000 e 2003, a taxa de investimento da economia brasileira apresentou um repique entre 2000 e 2001, especialmente em função dos investimentos realizados no período para ampliação do parque termelétrico, como medida emergencial para evitar um racionamento de energia, que, contudo, não foi possível de ser evitado. E é justamente esse racionamento – ocorrido entre junho de 2001 e fevereiro de 2002 – que explica o novo recuo da taxa de investimento até 2003. Assim, enquanto em 2000 os investimentos responderam por 16,8% do PIB, em 2003 eles representaram apenas 15,3%, segundo os dados do IBGE;
c) Na 3ª fase, entre 2004 e 2006, notamos uma retomada da ampliação da taxa de investimento, ainda que de maneira bem suave, como evidencia a menor declividade da curva das médias móveis no gráfico em questão. Saindo de um nível de 15,3% em 2003, a taxa de investimento subiu para 16,4% em 2006, um incremento, portanto, de 1,1 ponto percentual;
d) Na 4ª fase, a partir de 2007, verificamos um crescimento mais acentuado da taxa de investimento (denotado pela maior declividade da curva das médias móveis), que pode ser explicado principalmente pelos investimentos realizados pelo governo Lula através do PAC. De 16,4% em 2006, a taxa de investimento foi a 18,7% em 2008, expansão de 2,3 pontos percentuais em apenas dois anos. Porém, como efeito da crise econômica mundial, em 2009 houve um repique e a taxa de investimento foi de apenas 16,7% do PIB, mas os números divulgados pelo IBGE referentes ao primeiro trimestre de 2010 já sinalizam uma recuperação do investimento, que chega a 18% do PIB entre janeiro e março deste ano.
A perspectiva é de que com os novos investimentos do PAC e a ampliação dos financiamentos pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) a taxa de investimentos deve continuar crescendo, porém de uma maneira não acelerada, já que alguns incentivos fiscais, como a isenção do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), foram retirados pelo governo. Ou seja, a economia deve continuar crescendo, mas com taxas menores. De qualquer forma, a análise temporal dos dados mostra que o Brasil está no rumo certo, mas deve continuar procurando formas para sustentar o crescimento econômico de longo prazo através do investimento e não apenas do consumo.
Conseguindo elevar ainda mais a taxa de investimento e também a taxa de poupança bruta interna, o que deve reduzir a dependência do setor produtivo da chamada poupança externa, o Brasil caminhará sem dúvida para ser a 5ª maior economia mundial na próxima década. Para isso, como dito anteriormente, é preciso que o país continue neste ritmo e que encontre soluções para equacionar alguns gargalos ainda existentes e também para desonerar o setor produtivo. De qualquer forma, não restam dúvidas de que desde 2003, quando teve início o governo Lula, o Brasil finalmente encontrou um rumo certo, do crescimento apoiado em maiores taxas de investimento e expansão do setor produtivo.
O POETA E A FALTA DE TRANSPARÊNCIA:
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