Principal teorizador da chamada “sociedade pós-industrial” e com uma grande contribuição à análise da dinâmica dos movimentos sociais, o sociólogo francês Alain Touraine naturalmente não está imune a equívocos na sua linha de pensamento. Isto fica bastante claro em uma entrevista dada pelo pensador, durante sua estada em São Paulo, ao jornal O Globo, publicada nesta segunda-feira, 15. Falando, em linhas gerais, das perspectivas para o Brasil e para o governo Dilma, Touraine comete alguns erros de interpretação, motivados, talvez, por seu distanciamento em relação à realidade do nosso país.
Defendendo a idéia de que tanto FHC quanto Lula têm igual importância na construção de um novo tipo de sociedade no Brasil, o sociólogo francês emenda que “não sabemos o que acontecerá daqui para frente”, argumentando que “a nova Presidente (Dilma) foi inventada por Lula”. A partir deste ponto, Touraine desfia uma série de avaliações equivocadas sobre um possível perfil do governo Dilma bem como sobre o próprio Partido dos Trabalhadores. Para o sociólogo, “o Brasil tem um longo passado de populismo e a ameaça persiste devido ao nível de desigualdade social extremamente elevado”. Abaixo, destacamos os principais equívocos no pensamento de Alain Touraine sobre o novo governo brasileiro:
“O perigo de um retrocesso [com Dilma] existe, até porque o passado do PT está longe de ser perfeito. Lula não foi autoritário, mas segmentos do PT o são”.
O primeiro grande equívoco de Touraine consiste em associar o PT a um maior risco de retrocesso no Brasil, argumentando que setores do Partido possuem tendências autoritárias. Ora, é fato conhecido por todos que a visão de que alguns setores do PT são autoritários é a versão vendida pela grande imprensa brasileira desde que o partido foi fundado, nos anos 80. Contudo, em nenhum dos governos petistas, seja na esfera municipal, estadual ou federal, houve quaisquer traços de autoritarismo. Muito pelo contrário, todos os governos do PT foram marcados por um profundo compromisso com a democracia. A própria rejeição do partido à idéia de um 3º mandato para Lula já deixa claro que o PT não compactua com autoritarismo ou populismo.
Além disso, Alain Touraine parece desconhecer o fato de que, ao longo desta campanha presidencial, as forças do retrocesso e do autoritarismo não se alinharam com Dilma, mas sim com o seu adversário, o tucano José Serra. Afinal de contas, a campanha de Serra contou com o apoio de forças como os monarquistas, a “Tradição, Família e Propriedade” (TFP), além de setores mais conservadores da Igreja Católica, que todos juntos promoveram uma verdadeira “cruzada” contra a candidata do PT, levantando bandeiras extremamente conservadoras, como a questão do aborto. A aproximação de Serra com os setores ultraconservadores fica bastante clara em uma reportagem publicada pela revista IstoÉ dias antes do 2º turno das eleições.
A matéria da IstoÉ chegou inclusive a revelar documentos da regional Sul I da CNBB (estado de São Paulo) que orientavam os fiéis a não votarem em candidatos do PT. Enquanto Serra recebia o apoio dos setores mais conservadores, Dilma, ao contrário, recebeu o apoio de todos os setores progressistas da sociedade brasileira. Logo, é muito mais razoável que a possibilidade de retrocesso autoritário seria maior em um eventual governo Serra do que no governo Dilma, o que faz cair por terra a avaliação equivocada de Alain Touraine sobre incertezas acerca do comprometimento da nova Presidente com um governo amplamente democrático.
“A ideia de Dilma esquentar a cadeira por quatro anos para Lula também me desagrada. Em uma democracia, não pode haver presidente interino”.
Esta é outra falácia no pensamento de Touraine, expresso na entrevista dada pelo sociólogo ao Globo. É um grande equívoco acreditar que Dilma está simplesmente “esquentando a cadeira” para que Lula retorne em 2014. O próprio Presidente Lula já tratou inúmeras vezes de desmentir esse boato, reafirmando que é totalmente legítimo que Dilma, fazendo um bom governo, dispute novamente a Presidência e seja reeleita. Além disso, esse tipo de postura não condiz em nada com o perfil de Dilma, que jamais se prestaria ao papel de “segurar o lugar” para que Lula retornasse daqui quatro anos. Trata-se de um pensamento com grande teor machista que foi alardeado pela oposição ao longo da campanha e que, infelizmente, parece ter sido abraçado também pelo sociólogo francês.
“A verdade é que não sabemos o que será o governo da nova presidente, porque ela não tem experiência política”.
Outros dois grandes equívocos do pensador francês: 1) que não sabemos como será o governo de Dilma; 2) que Dilma não tem experiência política. Em primeiro lugar, embora seja impossível vislumbrar fatos que caracterizarão o governo Dilma, é bastante plausível trabalharmos com projeções de como será esse governo. Dilma não é Lula, mas representa o mesmo projeto político do Presidente e do seu partido. Logo, é de esperar que Dilma continue o trabalho iniciado no governo Lula e que aprofunde conquistas que foram obtidas nestes oito anos. Afinal de contas, foi exatamente devido a esta perspectiva de continuidade e avanço que 55 milhões de brasileiros depositaram nas urnas o voto em Dilma, elegendo-a a próxima Presidente do país.
Em segundo lugar, é totalmente equivocado dizer que Dilma não tem experiência política, haja vista que ela iniciou sua vida política ainda jovem, quando ingressou em grupos da esquerda clandestina para a luta contra o regime militar. Tendo sido presa e torturada, e após cumprir pena de três anos de detenção, acusada de “subversão”, Dilma iniciou sua vida pública no Rio Grande do Sul, onde foi inicialmente secretária das Finanças do então prefeito Alceu Colares. A partir daí, a nova Presidente ocupou sucessivos cargos gerenciais na administração pública, até chegar ao governo Lula, onde foi Ministra das Minas e Energia e, nos últimos cinco anos e meio, ministra-chefe da Casa Civil. Acaso isso não é experiência política?
Percebe-se, dessa maneira, que os pontos de vista de Alain Touraine sobre o novo governo, expressos em sua entrevista ao Globo, mostram-se bastante equivocados, já que não encontram consistência na realidade vista no Brasil, sobretudo ao longo da campanha eleitoral. Dizer que no governo Dilma o Brasil corre o risco de um retrocesso, por conta de um suposto autoritarismo do PT, é um exercício de futurologia totalmente desprovido de ligações com a realidade. Ao contrário do que diz o sociólogo francês, o governo Dilma deve ser marcado não pelo retrocesso, mas sim pelo avanço, pelo fortalecimento da democracia e pela continuidade das grandes conquistas do governo Lula, sem nenhum viés populista.
Defendendo a idéia de que tanto FHC quanto Lula têm igual importância na construção de um novo tipo de sociedade no Brasil, o sociólogo francês emenda que “não sabemos o que acontecerá daqui para frente”, argumentando que “a nova Presidente (Dilma) foi inventada por Lula”. A partir deste ponto, Touraine desfia uma série de avaliações equivocadas sobre um possível perfil do governo Dilma bem como sobre o próprio Partido dos Trabalhadores. Para o sociólogo, “o Brasil tem um longo passado de populismo e a ameaça persiste devido ao nível de desigualdade social extremamente elevado”. Abaixo, destacamos os principais equívocos no pensamento de Alain Touraine sobre o novo governo brasileiro:
“O perigo de um retrocesso [com Dilma] existe, até porque o passado do PT está longe de ser perfeito. Lula não foi autoritário, mas segmentos do PT o são”.
O primeiro grande equívoco de Touraine consiste em associar o PT a um maior risco de retrocesso no Brasil, argumentando que setores do Partido possuem tendências autoritárias. Ora, é fato conhecido por todos que a visão de que alguns setores do PT são autoritários é a versão vendida pela grande imprensa brasileira desde que o partido foi fundado, nos anos 80. Contudo, em nenhum dos governos petistas, seja na esfera municipal, estadual ou federal, houve quaisquer traços de autoritarismo. Muito pelo contrário, todos os governos do PT foram marcados por um profundo compromisso com a democracia. A própria rejeição do partido à idéia de um 3º mandato para Lula já deixa claro que o PT não compactua com autoritarismo ou populismo.
Além disso, Alain Touraine parece desconhecer o fato de que, ao longo desta campanha presidencial, as forças do retrocesso e do autoritarismo não se alinharam com Dilma, mas sim com o seu adversário, o tucano José Serra. Afinal de contas, a campanha de Serra contou com o apoio de forças como os monarquistas, a “Tradição, Família e Propriedade” (TFP), além de setores mais conservadores da Igreja Católica, que todos juntos promoveram uma verdadeira “cruzada” contra a candidata do PT, levantando bandeiras extremamente conservadoras, como a questão do aborto. A aproximação de Serra com os setores ultraconservadores fica bastante clara em uma reportagem publicada pela revista IstoÉ dias antes do 2º turno das eleições.
A matéria da IstoÉ chegou inclusive a revelar documentos da regional Sul I da CNBB (estado de São Paulo) que orientavam os fiéis a não votarem em candidatos do PT. Enquanto Serra recebia o apoio dos setores mais conservadores, Dilma, ao contrário, recebeu o apoio de todos os setores progressistas da sociedade brasileira. Logo, é muito mais razoável que a possibilidade de retrocesso autoritário seria maior em um eventual governo Serra do que no governo Dilma, o que faz cair por terra a avaliação equivocada de Alain Touraine sobre incertezas acerca do comprometimento da nova Presidente com um governo amplamente democrático.
“A ideia de Dilma esquentar a cadeira por quatro anos para Lula também me desagrada. Em uma democracia, não pode haver presidente interino”.
Esta é outra falácia no pensamento de Touraine, expresso na entrevista dada pelo sociólogo ao Globo. É um grande equívoco acreditar que Dilma está simplesmente “esquentando a cadeira” para que Lula retorne em 2014. O próprio Presidente Lula já tratou inúmeras vezes de desmentir esse boato, reafirmando que é totalmente legítimo que Dilma, fazendo um bom governo, dispute novamente a Presidência e seja reeleita. Além disso, esse tipo de postura não condiz em nada com o perfil de Dilma, que jamais se prestaria ao papel de “segurar o lugar” para que Lula retornasse daqui quatro anos. Trata-se de um pensamento com grande teor machista que foi alardeado pela oposição ao longo da campanha e que, infelizmente, parece ter sido abraçado também pelo sociólogo francês.
“A verdade é que não sabemos o que será o governo da nova presidente, porque ela não tem experiência política”.
Outros dois grandes equívocos do pensador francês: 1) que não sabemos como será o governo de Dilma; 2) que Dilma não tem experiência política. Em primeiro lugar, embora seja impossível vislumbrar fatos que caracterizarão o governo Dilma, é bastante plausível trabalharmos com projeções de como será esse governo. Dilma não é Lula, mas representa o mesmo projeto político do Presidente e do seu partido. Logo, é de esperar que Dilma continue o trabalho iniciado no governo Lula e que aprofunde conquistas que foram obtidas nestes oito anos. Afinal de contas, foi exatamente devido a esta perspectiva de continuidade e avanço que 55 milhões de brasileiros depositaram nas urnas o voto em Dilma, elegendo-a a próxima Presidente do país.
Em segundo lugar, é totalmente equivocado dizer que Dilma não tem experiência política, haja vista que ela iniciou sua vida política ainda jovem, quando ingressou em grupos da esquerda clandestina para a luta contra o regime militar. Tendo sido presa e torturada, e após cumprir pena de três anos de detenção, acusada de “subversão”, Dilma iniciou sua vida pública no Rio Grande do Sul, onde foi inicialmente secretária das Finanças do então prefeito Alceu Colares. A partir daí, a nova Presidente ocupou sucessivos cargos gerenciais na administração pública, até chegar ao governo Lula, onde foi Ministra das Minas e Energia e, nos últimos cinco anos e meio, ministra-chefe da Casa Civil. Acaso isso não é experiência política?
Percebe-se, dessa maneira, que os pontos de vista de Alain Touraine sobre o novo governo, expressos em sua entrevista ao Globo, mostram-se bastante equivocados, já que não encontram consistência na realidade vista no Brasil, sobretudo ao longo da campanha eleitoral. Dizer que no governo Dilma o Brasil corre o risco de um retrocesso, por conta de um suposto autoritarismo do PT, é um exercício de futurologia totalmente desprovido de ligações com a realidade. Ao contrário do que diz o sociólogo francês, o governo Dilma deve ser marcado não pelo retrocesso, mas sim pelo avanço, pelo fortalecimento da democracia e pela continuidade das grandes conquistas do governo Lula, sem nenhum viés populista.
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