sábado, 22 de janeiro de 2011

Lulamania: candidatos da oposição argentina usam Lula como estandarte de campanha

Mesmo após deixar a Presidência da República, a popularidade de Lula continua alta. E não falamos aqui de sua imagem entre os brasileiros, que por certo continuam em sua esmagadora maioria apoiando Lula, mas sim entre a classe política de outros países. Vejam que interessante: não bastasse a oposição brasileira no ano passado ter tentado “colar” em Lula, com o então candidato derrotado José Serra (PSDB) se apresentando como “pós-Lula” e tecendo vários elogios ao Presidente, agora a oposição na Argentina também quer tirar proveito da elevada popularidade do ex-presidente brasileiro. Sim, é isso mesmo que está escrito: os “hermanos” da oposição querem vender ao eleitor argentino uma suposta proximidade a Lula, para tentar desbancar Cristina Kirchner, que deve ser reeleita em outubro segundo as atuais pesquisas de intenções de voto.

O jornal argentino Página 12 trouxe neste sábado, 22, um editorial sobre o assunto, escancarando a ”Lulamania” dos pré-candidatos presidenciais de oposição na Argentina. Para se ter uma idéia do quão cômica está a situação, basta dizer que enquanto alguns candidatos apenas apresentam Lula como “modelo de governante” a ser seguido, outros procuram destacar até mesmo semelhança física com o ex-presidente brasileiro! Como o próprio editorial do periódico argentino diz, Lula se transformou numa espécie de “talismã” para a oposição do país vizinho. Resta lhes lembrar, contudo, que a oposição brasileira tentou usar essa mesma tática no ano passado, mas não deu certo. Abaixo, o Boteko transcreve a íntegra do editorial. Boa leitura!

Lulamania
“A figura do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva tornou-se para os políticos da oposição na Argentina uma espécie de 'talismã' no qual todos querem se agarrar. Não somente o mencionam, mas também o interpretam. Eduardo Duhalde conseguiu um prefácio do ex-presidente para seu livro de campanha, apoiado na relação pessoal que ambos tiveram durante a gestão que o agora pré-candidato presidencial do peronismo federal teve na Secretaria do Mercosul durante o governo de Néstor Kirchner. O chubutense [da província de Chubut, na Patagônia Argentina] Mario Das Neves não hesita em associar sua semelhança física a Lula com uma vitória pessoal e como se fosse o resultado de uma árdua construção política. E pretende fazer crer que essa semelhança pode implicar uma afinidade ideológica.

Elisa Carrió – que não pode alegar semelhança física com o ex-presidente brasileiro – elogia Lula por ter 'construído um país de classe média' e omite maliciosamente que muitos dos acertos que se atribuem ao ex-mandatário brasileiro surgiram da aplicação de diretrizes políticas e econômicas que, em linhas gerais, são muito similares às que foram colocadas em prática na Argentina primeiro por Néstor Kirchner e depois por Cristina Fernández. Parece que o que em outro país é bom e considerado um acerto, quando é feito dentro do seu próprio território não é tanto. Na falta de idéias próprias e de modelos acessíveis – e que possam ser úteis para fins de campanha eleitoral -, os pré-candidatos crêem que mencionando Lula como exemplo ou o apresentando como modelo poderão receber ao menos uma parte dos 87% de popularidade que acompanhou o ex-presidente brasileiro até o momento dele passar o cargo para a atual mandatária, Dilma Rousseff.

Teremos que avisar a todos eles que na política os méritos alheios não costumam ser incorporados ao capital [político] próprio nem agregam prestígio por [mera] transferência. Não porque Lula não seja um exemplo – que sem dúvida o é – mas sim porque também é certo que acostumado a fazer política, o ex-presidente pode ser amável com muitos dirigentes argentinos, mas é claro que seus apoios e afinidades estão dirigidos a quem hoje conduz o país. Tanto ele quanto seus assessores fazem análises, conhecem as pesquisas e constroem cenários futuros para saber quem são os que têm possibilidades reais de governar a Argentina.

Outro tema não menos importante. Os candidatos argentinos da oposição não deixam de cortejar os grupos econômicos de mídia convencidos de que isto pavimentará seus caminhos ao poder. Alguém teria que os advertir que este não foi o caminho de Lula, que chegou ao Palácio do Planalto apesar da oposição sistemática dos grandes grupos de mídia, que também existem no Brasil e aos quais Lula combateu com os meios que tinha a seu alcance. Poderia se dizer que a utilização de Lula como estandarte de campanha por parte da oposição tem o mesmo valor e significado que as gravuras do Che [Guevara] estampadas nas camisetas dos jovens argentinos de classe alta que passeiam pelas praias e bares de Punta Del Este”.

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