segunda-feira, 5 de julho de 2010

Os desafios da campanha de Dilma na região Sul

A região Sul, que atende por 15% do eleitorado brasileiro, é atualmente um dos maiores desafios da campanha da petista Dilma Rousseff à Presidência da República. Isto porque, ao contrário das demais regiões, aonde Dilma vem crescendo continuadamente, no Sul a vantagem do tucano José Serra ainda é bem grande, de modo que a região vem recebendo atenção especial do alto comando da campanha do PT. Não é por menos que nesta terça-feira, 6, a candidata do PT começará no Rio Grande do Sul a sua campanha oficial à Presidência da República.

A escolha do Rio Grande do Sul, neste sentido, se mostra bastante acertada se considerarmos três fatores principais: 1) com 8 milhões de eleitores, o estado é o quinto maior colégio eleitoral do país e puxa bastante votos na região como um todo; 2) após o período de luta contra a ditadura e sua posterior prisão, Dilma reiniciou sua atuação política no Rio Grande do Sul, tendo iniciado, ali, inclusive sua vida pública, à frente da Secretaria da Fazenda de Porto Alegre (na gestão Alceu Colares); e 3) apesar da desvantagem de Dilma em relação a Serra, a petista pode se aproveitar das boas perspectivas para a campanha regional do PT, já que o candidato do partido ao Palácio Piratini, Tarso Genro, ocupa a dianteira das pesquisas.

O estado do Rio Grande revela-se, assim, como uma boa oportunidade para Dilma começar a reverter a vantagem de Serra na região, especialmente se levarmos em conta pesquisas internas do PT que mostram que a ex-ministra tem grande potencial de crescimento no estado. Neste sentido, as atuais pesquisas mostram a petista com melhor desempenho nas regiões da Campanha Gaúcha e da fronteira, sendo que o tucano abre larga vantagem, sobretudo, na região metropolitana de Porto Alegre e na Região Serrana. Exatamente por isso a escolha de Porto Alegre pela coordenação da campanha para Dilma iniciar ali a sua campanha oficial.

O Sul e o antipetismo
A resistência que o PT vem encontrando nos últimos anos na região Sul deve ser objeto de estudos acadêmicos mais aprofundados, uma vez que na década de 80 e 90 era exatamente nessa região que o Partido dos Trabalhadores tinha os seus melhores desempenhos eleitorais. Basta lembrar que o PT ficou à frente da Prefeitura de Porto Alegre durante 16 anos (entre 1988 e 2004), tendo ocupado, inclusive, o Palácio Piratini, entre 1998 e 2002, quando Olívio Dutra foi governador do Estado (vale destacar que neste período, Dilma Rousseff era a Secretária de Energia, Minas e Telecomunicações do governo Olívio Dutra). Ou seja, o PT sempre foi uma força política de destaque no Estado.

O que explicaria, então, a resistência à candidatura de Dilma no estado, já que o candidato do PT ao Piratini está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto? Sem a pretensão de enumerarmos aqui todos os fatores que podem explicar tal cenário, uma vez que estes seriam, como dito anteriormente, fruto de pesquisas acadêmicas mais aprofundadas sobre a questão, podemos especular sobre alguns motivos que explicam essa aparente dissonância. É certo que o PT sempre foi uma força política expressiva no Rio Grande, mas no plano regional sempre houve uma disputa mais acirrada entre o PT e partidos como o PP e PMDB, que estão na base de apoio nacional à candidatura de Dilma. Tanto que são essas discrepâncias regionais que levaram os diretórios gaúchos desses dois partidos a não darem o palanque para Dilma nestas eleições.

Se analisarmos também a linha histórica, poderemos constatar que o “antipetismo” ganhou maior força na região Sul, sobretudo no Rio Grande, após a crise de 2005, quando veio à tona o pseudo-escândalo do “mensalão”. Tanto existe correlação que se formos checar o desempenho do PT na região na eleição de 2006, veremos que houve uma profunda mudança com relação ao quadro de 2002. Enquanto nas eleições de 2002 Lula venceu com folga em todos os estados da região Sul, em 2006 o tucano Geraldo Alckmin teve 51% dos votos do Sul, ao passo que Lula teve 32%. Há que se considerar também o peso da questão econômica sobre a formação e decisão do voto para o eleitor da região Sul.

É fato que os três estados que compõem a região possuem uma das melhores infra-estruturas do país. Sem contar o fato de que o Sul possui o maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) dentre as regiões brasileiras. Se levarmos em conta esses aspectos, poderemos entender que o peso dos programas de transferência de renda e de valorização do salário mínimo promovidos pelo governo Lula é menor no Sul do que em regiões como Nordeste e Norte, onde o IDH é menor. Assim, pode-se pensar que exista um sentimento dentre o eleitor do Sul, em sua maioria de classe média, de que eles estão “pagando a conta” dos programas sociais desenvolvidos pelo governo Lula, o que pode ser um fator que explique o antipetismo na região.

No caso específico do Rio Grande do Sul existe ainda outro fator que, premeditadamente criado e alimentado pela imprensa local com clara finalidade política, contribuiu para que se ampliasse o antipetismo no estado. Trata-se da perda de uma fábrica da Ford que seria instalada em Guaíba, município da região metropolitana de Porto Alegre, ainda na gestão Olívio Dutra à frente do Piratini. A empresa, ao invés de se instalar no Rio Grande optou por construir sua planta na Bahia, em função dos incentivos fiscais oferecidos pelo governo baiano na época. Naturalmente, o governo de Olívio Dutra nada teve a ver com a decisão da Ford, mas a imprensa local encarregou-se de fazer parecer que a culpa era dele.

E é exatamente com estes desafios que a campanha de Dilma deverá saber trabalhar para reverter o quadro desfavorável na região Sul. O debate ali deve ser muito mais voltado para a área econômica, sobretudo aspectos ligados à infra-estrutura e logística, além de planejamento urbano. Dando a resposta adequada a estas demandas, a candidata do PT tem todas as condições de virar o jogo na região e ganhar a disputa presidencial também ali, consolidando uma ampla vitória em todo o Brasil.

Um comentário:

  1. Belo texto. Eu, como gaúcha posso assinar embaixo disso e ainda acrescentar que por conta do preconceito do meu povo pode-se levar em conta duas coisas: O Gaúcho não tolera ser comandado por um nordestino, pois em sua soberba,julga que o sul sustenta a região nordeste. E por fim, estamos falando de um povo ultra machista, logo, jamais vão admiri serem governados por uma mulher. Do fundo do coração, gostaria de estar errada, e pode ser até que essa conscinecia tenha mudado um pouco, o que não acredito, o fato é que, esse povo que ja foi tido como politizado, virou poliqueiro.

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