segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Tucanos tapam os olhos para impactos urbanos e ambientais do Trecho Norte do Rodoanel

A “menina dos olhos” do governo tucano em São Paulo – citada como “a maior obra viária do país” nos comerciais do governo do Estado – continua sendo alvo de muitas polêmicas. Após as denúncias de superfaturamento na execução do Trecho Sul e a constatação de que, após sua inauguração, o trânsito em São Paulo foi muito pouco reduzido, agora é o projeto do Trecho Norte do Rodoanel que vem despertando grandes críticas por parte de ambientalistas e também da população da Zona Norte de São Paulo e de Guarulhos. Os moradores dessas áreas, que serão os mais afetados pela obra do governo do Estado de São Paulo, discutem se de fato os supostos benefícios do Trecho Norte compensam os impactos ambientais e sociais do mesmo.

O Trecho Norte do Rodoanel deverá ter 44 quilômetros e ligará as rodovias Presidente Dutra e Ayrton Senna às rodovias Anhanguera, Bandeirantes, Castelo Branco, Raposo Tavares e Regis Bittencourt. De acordo com informações do Dersa, o custo da obra deve ser de R$ 5 bilhões, dos quais R$ 3 bilhões serão recursos do próprio Estado de São Paulo e o restante vindo de financiamentos. A grande discussão em torno do projeto se dá em relação ao impacto ambiental do mesmo, já que o traçado do Rodoanel deve passar pela Serra da Cantareira, ampliando os riscos de uma devastação ainda maior de uma das poucas áreas ainda existentes de reserva da Mata Atlântica.

Impactos ambientais e urbanos do Trecho Norte
No dia 16 de dezembro, o Dersa realizou, no auditório da Universidade de Guarulhos, uma audiência pública com moradores da região e ambientalistas, na qual compareceram também autoridades, dentre as quais o próprio prefeito de Guarulhos, Sebastião Almeida (PT). Os ânimos estavam tão exaltados que a audiência teve que ser cancelada após pessoas favoráveis à obra literalmente “saírem no tapa” com moradores contrários ao projeto. De acordo com uma denúncia do blog do jornalista Eduardo Reina, algumas pessoas favoráveis teriam sido pagas para comparecerem àquela audiência. Em uma postagem daquele mesmo dia, o jornalista escreve:

Entre os favoráveis estava um grande grupo de pessoas que foi pago para acompanhar a audiência e mostrar cartazes com dizeres pró-Rodoanel. Esses cartazes eram todos escritos com a mesma letra. Essas pessoas, muitas vindas de
ônibus da cidade de São Bernardo do Campo, receberam R$ 50 cada uma para ir à reunião. ‘Me deram R$ 50 para vir aqui e eu quero R$ 1 mil agora para não falar que fui pago’, disse um jovem que disse se chamar Ceará. Outra rapaz do mesmo
grupo, de nome Luiz, falou que eles vieram de São Bernardo, mas não revelou quem teria pago a gratificação para todos
”.

Nas últimas semanas, os moradores das regiões atingidas pelo projeto do Trecho Norte do Rodoanel intensificaram os protestos. Uma das questões levantadas por eles diz respeito ao EIA (Estudo de Impacto Ambiental) e ao RIMA (Relatório de Impacto no Meio Ambiente) apresentados pelo governo do Estado. Segundo os moradores, esses estudos não correspondem à realidade, uma vez que minimizam o risco potencial do empreendimento na área. Além disso, outro ponto de preocupação para os moradores é a desvalorização que as obras do Rodoanel provocarão em seus imóveis. Para se ter uma idéia, em alguns trechos do traçado, as pistas do Rodoanel Norte passarão a apenas 11 quilômetros do centro de São Paulo, muito próximas, portanto, do perímetro urbano.

O próprio estudo de impacto ambiental revela que as obras e, posteriormente, as pistas do Trecho Norte acarretarão “processos de desvalorização imobiliária pela redução das possibilidades de acesso futuro em áreas de expansão urbana situadas ao norte do traçado, acarretada pela ruptura da malha urbana”. A estimativa, segundo os moradores afetados, é de que seus imóveis possam ter desvalorização de até 50%. Além disso, existe uma preocupação muito grande dos ambientalistas em relação aos mananciais que existem naquela região e que são responsáveis pelo abastecimento de água de inúmeros bairros de São Paulo e também de Guarulhos. O traçado da obra deve interceptar os troncos de abastecimento que saem da ETA (Estação de Tratamento de Água) Guaraú, no bairro da Pedra Branca.

Desvio pela Dom Pedro reduziria custos e impactos
Um aspecto em particular chama bastante atenção em relação ao Trecho Norte: o próprio governo do Estado já assumiu que a demanda de tráfego nessa região é menor do que a registrada em outros trechos do Rodoanel, como o Trecho Sul, por exemplo. Ora, se a demanda de tráfego é menor, não faz nenhum sentido um investimento da ordem de R$ 5 bilhões nessa obra, além dos grandes impactos na região. De acordo com os ambientalistas, o traçado Norte do Rodoanel poderá destruir nada menos que 100 hectares da Serra da Cantareira, além da desapropriação de quase 3 mil imóveis e fechamento de dezenas de ruas. E como promover, então, a interligação da Dutra/Ayrton Senna com as demais rodovias para aliviar o trânsito na Marginal Tietê e não causar danos na região da Cantareira?

A resposta está a 50 quilômetros ao norte do traçado projetado para essa alça do Rodoanel – a rodovia Dom Pedro I, que faz a ligação entre a Dutra e Campinas. De acordo com vários estudos de engenharia de tráfego, a Dom Pedro é sub-utilizada para a infra-estrutura que possui, além de já absorver uma parte do fluxo que vem de Minas Gerais pela Fernão Dias e se dirige à rodovia dos Bandeirantes. Ou seja, ao invés de gastar R$ 5 bilhões em um projeto muito polêmico com o Trecho Norte do Rodoanel, o governo do Estado poderia aproveitar a estrutura já existente na Dom Pedro e fazer apenas um prolongamento até o Trecho Oeste do Rodoanel. De acordo com alguns estudos, isso custaria apenas R$ 1 bilhão, ou seja, 20% do custo inicial do Trecho Norte.

Além de custar bem menos, essa alternativa pela rodovia Dom Pedro não ocasionaria os impactos ambientais e urbanos acarretados pela alça norte do Rodoanel. Seria apenas uma questão de bom senso do governo do Estado em aproveitar uma estrutura rodoviária já existente e que é sub-utilizada. No próximo dia 19 de janeiro, uma nova audiência pública está marcada para discutir e avaliar os impactos do projeto. É importante que o governo Alckmin não faça como seu antecessor José Serra (PSDB), que na ânsia por entregar uma obra para ser vitrine eleitoral, acabou “atropelando” várias etapas, como a própria discussão do projeto com a população das áreas atingidas pelo Trecho Sul, encarecendo bastante, assim, o projeto. Não são poucos os impactos do Trecho Norte, o que já é razão suficiente para que o governo do Estado dê todo ouvido à população atingida.

3 comentários:

  1. Excelente resumo da situação atual - Rodoanel Trecho Norte.
    Esperemos que o novo governador que também é médico zele pelos impactos antrópicos das populações que na Zona Norte vivem e que no momento já estão em sofrimento físico e mental.

    ResponderExcluir
  2. O que adianta a construção do rodoanel. Já estamos acostumados com o congestionamento tenebroso de São Paulo, e além disso milhares de pessoas vão perder suas casas, por pequenos pagamentos do governo, que falando a verdade é uma incopetência. São Paulo não é um estado de todos? Então todos temos direitos. Quem está precisando dos terrenos são vocês, então nada mais justo que pagar o que os terrenos valem, ou então, nada de acordo.

    ResponderExcluir