quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Onda de ataques no Rio reflete tentativa do tráfico de desestabilizar UPPs

A recente onda de ataques criminosos no Rio de Janeiro, que ocorre desde a tarde do último domingo, 21, vem ganhando lugar de destaque nos principais jornais e noticiários brasileiros. Os inúmeros arrastões e incêndios de carros e ônibus por facções criminosas têm provocado um intenso debate não somente entre especialistas na área de segurança pública, mas também na sociedade, como tem se visto, inclusive, nas redes sociais, tais como o serviço de microblog Twitter. Durante maior parte da tarde desta quarta-feira, 24, as hashtags #UPP e #SergioCabral estiveram entre os assuntos mais comentados do Twitter no Brasil.

Parte da sociedade, influenciada pela cobertura tendenciosa da mídia, tem sido equivocadamente convencida de que a razão desses ataques seria uma ineficácia da política de segurança pública do governo Sérgio Cabral, no Rio. Nada mais errado que isso, contudo. Se estamos assistindo a essa onda de ataques em diversos lugares do Rio é porque, ao contrário do que diz a grande imprensa, os bandidos estão se sentindo incomodados pela política de segurança pública do governo Cabral, da qual as UPPs (Unidades da Polícia Pacificadora) são o maior símbolo. Caso não se sentissem “acuados” os criminosos não estariam agindo de tal maneira.

UPPs reduzem índices de criminalidade
As UPPs fazem parte da nova política de segurança pública do Rio de Janeiro desenvolvida pelo governo Sérgio Cabral. Elas nada mais são do que a reocupação de territórios que há décadas vinham sendo ocupados pelo narcotráfico. Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, cerca de 200 mil pessoas são, atualmente, beneficiadas pelas UPPs, que estão radicadas, hoje, em 12 comunidades do Rio de Janeiro. É interessante destacar que a UPP é um conceito que combina segurança pública e cidadania, uma vez que promove uma reaproximação da polícia com a população e leva de volta o Estado para onde ele estava ausente.

Isto porque após a polícia pacificadora reocupar uma determinada área, o Estado entra ali não só com uma unidade de policiamento permanente, mas também com toda uma estrutura para a promoção de direitos aos moradores dessas regiões. Neste aspecto, a UPP é primordial pois permite que o Estado entre nessas comunidades oferecendo serviços de saúde, educação, esporte e lazer e afastando, de forma bastante consistente, o tráfico de drogas dessas áreas. Os resultados das UPPs têm sido muito animadores: se checarmos as estatísticas da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, poderemos constatar que a criminalidade vem recuando de forma considerável.

Para se ter uma idéia, no primeiro semestre de 2010 o número de homocídios dolosos no Rio de Janeiro recuou 20,2% na comparação com igual período do ano anterior. Nos crimes contra o patrimônio também foi registrada queda: no que se refere a roubos de veículos, houve um recuo de 23,1% neste período, enquanto os roubos de carga caíram 2% na mesma comparação. Esses números mostram que a política de segurança pública que vem sendo desenvolvida no Rio vem dando resultados concretos e que ela não pode nem deve ser avaliada somente pelos acontecimentos dessa semana, que são pontuais.

Deve-se ter em mente que a medida da eficácia de uma política de segurança pública deve ser feita levando-se em conta o comportamento temporal dos indicadores de criminalidade de uma determinada região e não com base em fatos que tenham maior visibilidade. É claro que uma onda de ataques como essa que vem sendo registrada no Rio de Janeiro tende a chamar mais atenção das pessoas e a despertar uma maior comoção. Mas esse tipo de evento não significa que a política de segurança pública está equivocada: pelo contrário, como dito anteriormente, esse tipo de ação só está acontecendo porque os traficantes estão incomodados com o avanço das UPPs.

Além disso, devemos considerar que a rede de narcotráfico no Rio é bastante extensa e profundamente enraizada, pois ela não surgiu da noite para o dia – é um produto de décadas. Assim, desarticular essa rede do tráfico é uma tarefa de médio e longo prazo. Para que se efetuem prisões dos “cabeças” do tráfico, é necessário um pesado investimento em inteligência policial, um aumento de policiais nas ruas etc, que são medidas que já estão gradativamente sendo feitas. Porém, é importante que se destaque que os resultados alcançados pela atual política de segurança pública do Rio de Janeiro são bastante satisfatórios se considerarmos o curto espaço de tempo no qual essa politica vem sendo aplicada.

De acordo com o sociólogo Ignácio Cano, pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), “o perigo, aqui, é as classes médias acharem que a sua segurança está sendo comprometida por causa das UPPs. Se passarem a acreditar que o investimento nas UPPs é contraproducente para quem não mora nas favelas, isso poder acabar com a sustentabilidade política do projeto. Sérgio Cabral sempre fez questão de associar a expansão das UPPs a benefícios também para o asfalto, justamente para não correr esse risco”. E Cano segue avaliando a importância em se ter uma avaliação mais ampla da política de segurança pública do Rio de Janeiro, não se atendo apenas aos recentes fatos.

Segundo o pesquisador, “a gente tem que olhar mais para os números e para as taxas de incidência criminal, que estão caindo, e menos para o que aconteceu (nos últimos dias). Antes, 20 pessoas podiam morrer numa madrugada e ninguém ficar sabendo. Agora, se tem um arrastão, isso gera um pânico e ninguém pensa em outra coisa. Então, é importante olhar para o quadro mais geral”. Percebe-se, dessa forma, que os recentes atos criminosos que vêm acontecendo no Rio podem ser encarados como “efeitos colaterais” de uma solução maior que vem sendo aplicada pelo governo do Rio de Janeiro contra o crime. É importante que a população entenda isso e que não se deixe contaminar pela visão equivocada vendida pela grande imprensa.

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