quarta-feira, 9 de junho de 2010

Por que o BC acertou em elevar novamente a taxa básica de juro?

A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de elevar a taxa básica de juro da economia brasileira – a Selic – em 0,75 ponto percentual, passando de 9,5% para 10,25% ao ano, anunciada na noite desta quarta-feira, 9, promete esquentar o debate em torno do nível dos juros brasileiros. Embora muita gente critique a elevação dos juros, que são considerados por muitos como bastante elevados, a verdade é que esse movimento na Selic demonstra a austeridade com que vem sendo conduzida a política monetária no país, que tem como principal objetivo conter os riscos de uma aceleração inflacionária.

Ora, ao longo do primeiro trimestre deste ano, o Brasil passou por um momento de tensão inflacionária, puxada basicamente pelo efeito do maior volume de crédito no mercado (que impulsionou o consumo), pela elevação dos preços da alimentação (em função do período da entressafra e também pelas fortes chuvas no começo do ano) e também pelo reajuste dos contratos de aluguel e pela volta às aulas. Ou seja, houve um movimento generalizado de aumento dos preços tanto pelo lado da oferta quanto pelo lado da demanda, o que levou o Copom em sua reunião ocorrida em abril a aumentar o juro de 8,75% para 9,5% ao ano.

Embora a inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor – Amplo, do IBGE), tenha dados sinais de desaceleração no mês de maio, após cinco meses em trajetória crescente, os indicadores da atividade econômica no país ainda dão indícios de que o Banco Central fez a escolha correta ao elevar novamente a Selic para 10,25% ao ano. Vale destacar que maio e junho são meses em que tradicionalmente há deflação (queda generalizada dos preços), de forma que os números-índices, embora tenham crescido em proporção menor que em meses anteriores, ainda sinalizam que existe um excesso de demanda na economia, que precisa ser corrigido.

Aumento da Selic corrige excesso de crédito
Dessa maneira, o aumento da taxa Selic serve para corrigir o excesso de crédito existente na economia, evitando um crescimento mais acelerado do consumo, que poderia, por sua vez, criar pressões inflacionárias ainda maiores. Vale lembrar que julho e agosto são tradicionalmente meses de repique inflacionário, em função do reajuste das tarifas de energia elétrica no meio do ano, que impulsionam, assim, a categoria dos preços administrados e podem criar inflexões na trajetória de desaceleração inflacionária. Ora, se junto com esse aumento dos preços administrados tivermos um maior consumo, correremos riscos de maior inflação.

Assim, o aumento da taxa Selic é importante porque puxa a inflação para um patamar mais próximo da meta estipulada pelo governo e evita que os brasileiros tenham seus salários corroídos por um aumento mais acelerado dos preços. Dizer que esse pequeno aumento desestimula o setor produtivo é falacioso por dois motivos: primeiro, porque a taxa de investimentos da economia está em ritmo crescente, tendo fechado o primeiro trimestre deste ano em 18% do PIB, o que fica acima da média histórica dos últimos períodos, que é de 16,9% do PIB. Em segundo lugar, com o nível de geração de empregos em expansão – e que guarda correlação direta com essa ampliação dos investimentos (que seguem a TJLP, em 6,25% ao ano, e não a Selic) amplia-se a renda permanente do trabalhador, o que garante um consumo “saudável”.

É preciso que se diga que o consumo saudável é aquele que decorre de incrementos permanentes na renda do trabalhador, ou seja, dos salários. O consumo feito via crédito não é adequado para o longo prazo da economia, uma vez que não se sustenta à medida que o crédito tomado pelo indivíduo é renda provisória e não permanente. Naturalmente, no período da crise econômica mundial de 2008/2009, a expansão do crédito ao consumidor se fez necessária para evitar um maior impacto da crise na economia brasileira, mas com o aumento do juro agora temos um redirecionamento na tendência do consumo para uma forma que se torna mais sustentável no médio e longo prazo, que é justamente a apoiada na renda gerada pelos novos postos de trabalho.

Além disso, devemos destacar que a elevação da Selic colabora para um aumento da poupança interna bruta do país, que já está em trajetória de elevação, mas necessita se ampliar ainda mais. Isso porque é através da ampliação da poupança interna bruta que se reduz a necessidade de financiamento externo da economia para captar recursos destinados aos investimentos. Ou seja, a tendência é de que o setor produtivo seja beneficiado no longo prazo e não o contrário, pois o crescimento cada vez mais passa a ser apoiado no investimento e não no consumo via crédito. Dessa maneira, não faz sentido nenhum dizer que a decisão do Banco Central tende a impactar negativamente na economia; pelo contrário, a autoridade monetária mais uma vez mostra austeridade e compromisso com o crescimento dentro de um cenário de inflação sob controle.

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