Qual a função do vice em uma chapa majoritária? De uma maneira geral, podemos dizer que o vice tem uma dupla função: a primeira delas, e mais óbvia, está relacionada à maneira com a qual o eleitor vê determinada chapa, haja vista que, na ausência do cabeça de chapa, quem ocupa o seu lugar é o “número dois”. Dessa maneira, o vice, se não agrega votos por si só, deve ao menos não retirar votos da candidatura, sendo esta a razão pela qual a maioria das candidaturas prefere vices discretos, que não despertem polêmicas junto ao eleitorado e que por isso funcionem mais como um fator agregador do que desagregador.
A segunda função do vice está relacionada à costura política em torno da construção de determinada candidatura, sendo por isso, extremamente importante especialmente nas chapas que não são “puro-sangue”, isto é, que são construídas em torno de uma coligação partidária. Digamos que, neste sentido, o vice seria um elo de ligação entre o partido que indicou o cabeça de chapa e os demais partidos, que por sua vez têm a tradição de indicar o vice. Ou seja: a escolha do nome para compor o vice de uma chapa majoritária está muito longe de ser um mero detalhe, sendo, por outro lado, um aspecto fundamental na construção da candidatura.
Tamanha é a importância do vice que a indefinição do candidato tucano à Presidência da República, José Serra, acerca do nome que comporá com ele sua chapa tem sido um dos principais fatores de desestabilização da candidatura oposicionista nas últimas semanas. É bom lembrar que a oposição, embora tivesse começado a pré-campanha com Serra liderando as pesquisas, desde o início não tinha um cenário muito favorável, especialmente pela demora do tucano em se lançar oficialmente como pré-candidato. A confirmação de Serra só ocorreu no dia 31 de março, quando ele se desincompatibilizou do cargo de governador de São Paulo, exatos 40 dias depois da ex-ministra Dilma Rousseff, do PT, ter lançado sua pré-candidatura.
Lançada a pré-candidatura do tucano, no dia 10 de abril, ampliaram-se as especulações sobre quem seria o vice de Serra. Era consenso entre os partidos aliados a Serra, o DEM e o PPS, de que o melhor dos mundos seria uma chapa puro-sangue com o ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves, de vice de Serra. Aécio é visto no meio político como um nome agregador e que, tendo saído com uma aprovação elevada do governo do segundo maior colégio eleitoral do país, poderia ser decisivo para a campanha de Serra. Contudo, Aécio, como era de se esperar, não aceitou ser vice do ex-governador de São Paulo, preferindo disputar o Senado em Minas, onde tem sua eleição praticamente garantida.
DEM reivindica a vaga de vice de Serra
Com a desistência de Aécio, o DEM, que é a segunda maior força de oposição, atrás apenas do próprio PSDB, naturalmente passou a reivindicar a vaga de vice na chapa de Serra. Contudo, a cinco dias do prazo final para a realização das convenções e, por conseguinte, formalização das chapas, o ex-governador de São Paulo ainda não se decidiu sobre quem será o seu vice, fato que vem azedando sobremaneira as relações com o DEM. Nos últimos dias, lideranças importantes do DEM, como o ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, chegaram a declarar que se o tucano não indicar um demo para seu vice, seria como um “eject” do DEM da candidatura oposicionista. César Maia foi claro ao afirmar que se a vaga não for do DEM, não haverá empenho do partido na campanha de Serra.
Contudo, nem assim, o tucano adiantou-se para definir o nome do seu companheiro de chapa. E a indefinição de Serra ficou ainda maior após a pesquisa CNI/Ibope divulgada na última quarta-feira, 23, que mostrou a petista Dilma Rousseff à frente do ex-governador de São Paulo na disputa presidencial. A abertura de vantagem de Dilma teria feito, segundo informações da imprensa, com que o tucano se aproximasse ainda mais da vereadora do PSDB no Rio, Patrícia Amorim. Além de ser mulher, Patrícia é presidente do Flamengo e isto é visto por Serra como um fator que pode agregar votos. Vale lembrar que na semana passada, o tucano esteve no Rio para se encontrar com Patrícia Amorim, o que ampliou ainda mais as especulações em torno do seu nome.
Outra possibilidade levantada, mais real até do que a opção de Patrícia Amorim, seria a do nome do senador tucano Álvaro Dias para vice de Serra. Dias, inclusive, seria um nome de consenso na alta cúpula do PSDB para dividir com Serra a chapa, mas não é um nome de consenso entre os aliados, é bom que se diga. Ou seja: o que é levado em conta pelos partidos aliados a Serra não é o nome em si do escolhido, mas a legenda que ele representa. E, neste sentido, tanto faz se for Álvaro Dias ou Patrícia Amorim: nenhuma das duas possibilidades é bem recebida pelo DEM, já que o partido faz questão da vaga de vice.
Tanto que em seu Ex-Blog desta sexta-feira, 25, o ex-prefeito César Maia publicou o que ele chamou de “recado à oposição brasileira para a eleição de 2010”, com frases de uma biografia do chanceler alemão Otto Von Bismarck, escrita por Emil Dudwig. O recado não poderia ser mais direto, já que logo de início César Maia disparou a seguinte frase da biografia de Bismarck: “para se ter um colar de pérolas não bastam as pérolas. Há que se ter um fio para reuni-las”. Ora, para bom entendedor um pingo é letra e o recado é uma direta claríssima a José Serra. O fio, neste caso, é justamente a cadeira de vice, que o tucano está desprezando.
O descontentamento de César Maia fica ainda mais evidente mais abaixo, quando ele destaca outra frase da biografia de Bismarck: “para um político que se considera independente, cada peão que ele desloca para frente lhe parece o fim da partida. E daí vem o desengano, ao ver que o final foi diferente do que imaginava. A política não é uma ciência exata. Não temo a democracia, pois, do contrário, daria o jogo por perdido”, sentenciando, finalmente, que “as partidas difíceis também são para se jogar”. É clara a insatisfação de um dos principais caciques do DEM com relação à postura de Serra, especialmente após o candidato dar a entender que pode jogar os demos de escanteio, preferindo um vice (ou uma vice) do próprio PSDB.
Agora, cabe a pergunta: do ponto de vista político, vale a pena José Serra jogar esse balde de água fria no DEM? Certamente a resposta é não. Como dito por lideranças do DEM nos últimos dias, caso Serra negue a vaga de vice para o partido, não haverá empenho dos aliados na sua campanha. Ao que tudo indica, Serra tem procurado medir se essa perda de empenho do DEM poderia ser compensada pelo potencial de agregação de votos de uma vice como Patrícia Amorim, por exemplo. Mas aí, o ex-governador de São Paulo não deve se iludir achando que que conquistará mais votos só porque sua vice é a Presidente do Flamengo, o maior clube brasileiro. Como dito anteriormente, Patrícia Amorim é vereadora no Rio de Janeiro, tendo sido eleita em 2008 com pouco mais de 21 mil votos. Para se ter uma idéia, isso corresponde a apenas 30% dos votos da vereadora mais votada, que teve quase 69 mil votos naquela eleição.
Embora em 2008 ela ainda não ocupasse a presidência do Flamengo, isto não parece ser um fator que agregará tantos votos quanto espera Serra. Certamente, o ônus de perder o empenho do DEM em torno da sua candidatura será maior que o bônus de ter a presidente do Flamengo como sua vice. E esse ônus só tende a ampliar ainda mais no caso de Serra escolher Álvaro Dias, pois o senador, apesar de ser mais conhecido que Patrícia Amorim no meio político, não traz consigo grande potencial de agregação de votos. Ou seja: Serra tem muito mais a perder do que a ganhar se insistir em indicar um vice do próprio PSDB para compor com ele a chapa de oposição.
De qualquer forma, o que se vê cada vez mais é uma desestabilização da candidatura oposicionista, que além de não ter uma firmeza de projeto e discurso, ainda arca com o azedamento das relações em sua base de apoio, devido ao prolongamento da novela do vice de Serra. O tucano tem poucos dias para definir quem o acompanhará na chapa, mas nessa altura do campeonato algumas fissuras em sua relação com o DEM já são irreversíveis.
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Indecisão de Serra para escolher vice irrita DEM e expõe fissuras em sua base de apoio
A segunda função do vice está relacionada à costura política em torno da construção de determinada candidatura, sendo por isso, extremamente importante especialmente nas chapas que não são “puro-sangue”, isto é, que são construídas em torno de uma coligação partidária. Digamos que, neste sentido, o vice seria um elo de ligação entre o partido que indicou o cabeça de chapa e os demais partidos, que por sua vez têm a tradição de indicar o vice. Ou seja: a escolha do nome para compor o vice de uma chapa majoritária está muito longe de ser um mero detalhe, sendo, por outro lado, um aspecto fundamental na construção da candidatura.
Tamanha é a importância do vice que a indefinição do candidato tucano à Presidência da República, José Serra, acerca do nome que comporá com ele sua chapa tem sido um dos principais fatores de desestabilização da candidatura oposicionista nas últimas semanas. É bom lembrar que a oposição, embora tivesse começado a pré-campanha com Serra liderando as pesquisas, desde o início não tinha um cenário muito favorável, especialmente pela demora do tucano em se lançar oficialmente como pré-candidato. A confirmação de Serra só ocorreu no dia 31 de março, quando ele se desincompatibilizou do cargo de governador de São Paulo, exatos 40 dias depois da ex-ministra Dilma Rousseff, do PT, ter lançado sua pré-candidatura.
Lançada a pré-candidatura do tucano, no dia 10 de abril, ampliaram-se as especulações sobre quem seria o vice de Serra. Era consenso entre os partidos aliados a Serra, o DEM e o PPS, de que o melhor dos mundos seria uma chapa puro-sangue com o ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves, de vice de Serra. Aécio é visto no meio político como um nome agregador e que, tendo saído com uma aprovação elevada do governo do segundo maior colégio eleitoral do país, poderia ser decisivo para a campanha de Serra. Contudo, Aécio, como era de se esperar, não aceitou ser vice do ex-governador de São Paulo, preferindo disputar o Senado em Minas, onde tem sua eleição praticamente garantida.
DEM reivindica a vaga de vice de Serra
Com a desistência de Aécio, o DEM, que é a segunda maior força de oposição, atrás apenas do próprio PSDB, naturalmente passou a reivindicar a vaga de vice na chapa de Serra. Contudo, a cinco dias do prazo final para a realização das convenções e, por conseguinte, formalização das chapas, o ex-governador de São Paulo ainda não se decidiu sobre quem será o seu vice, fato que vem azedando sobremaneira as relações com o DEM. Nos últimos dias, lideranças importantes do DEM, como o ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, chegaram a declarar que se o tucano não indicar um demo para seu vice, seria como um “eject” do DEM da candidatura oposicionista. César Maia foi claro ao afirmar que se a vaga não for do DEM, não haverá empenho do partido na campanha de Serra.
Contudo, nem assim, o tucano adiantou-se para definir o nome do seu companheiro de chapa. E a indefinição de Serra ficou ainda maior após a pesquisa CNI/Ibope divulgada na última quarta-feira, 23, que mostrou a petista Dilma Rousseff à frente do ex-governador de São Paulo na disputa presidencial. A abertura de vantagem de Dilma teria feito, segundo informações da imprensa, com que o tucano se aproximasse ainda mais da vereadora do PSDB no Rio, Patrícia Amorim. Além de ser mulher, Patrícia é presidente do Flamengo e isto é visto por Serra como um fator que pode agregar votos. Vale lembrar que na semana passada, o tucano esteve no Rio para se encontrar com Patrícia Amorim, o que ampliou ainda mais as especulações em torno do seu nome.
Outra possibilidade levantada, mais real até do que a opção de Patrícia Amorim, seria a do nome do senador tucano Álvaro Dias para vice de Serra. Dias, inclusive, seria um nome de consenso na alta cúpula do PSDB para dividir com Serra a chapa, mas não é um nome de consenso entre os aliados, é bom que se diga. Ou seja: o que é levado em conta pelos partidos aliados a Serra não é o nome em si do escolhido, mas a legenda que ele representa. E, neste sentido, tanto faz se for Álvaro Dias ou Patrícia Amorim: nenhuma das duas possibilidades é bem recebida pelo DEM, já que o partido faz questão da vaga de vice.
Tanto que em seu Ex-Blog desta sexta-feira, 25, o ex-prefeito César Maia publicou o que ele chamou de “recado à oposição brasileira para a eleição de 2010”, com frases de uma biografia do chanceler alemão Otto Von Bismarck, escrita por Emil Dudwig. O recado não poderia ser mais direto, já que logo de início César Maia disparou a seguinte frase da biografia de Bismarck: “para se ter um colar de pérolas não bastam as pérolas. Há que se ter um fio para reuni-las”. Ora, para bom entendedor um pingo é letra e o recado é uma direta claríssima a José Serra. O fio, neste caso, é justamente a cadeira de vice, que o tucano está desprezando.
O descontentamento de César Maia fica ainda mais evidente mais abaixo, quando ele destaca outra frase da biografia de Bismarck: “para um político que se considera independente, cada peão que ele desloca para frente lhe parece o fim da partida. E daí vem o desengano, ao ver que o final foi diferente do que imaginava. A política não é uma ciência exata. Não temo a democracia, pois, do contrário, daria o jogo por perdido”, sentenciando, finalmente, que “as partidas difíceis também são para se jogar”. É clara a insatisfação de um dos principais caciques do DEM com relação à postura de Serra, especialmente após o candidato dar a entender que pode jogar os demos de escanteio, preferindo um vice (ou uma vice) do próprio PSDB.
Agora, cabe a pergunta: do ponto de vista político, vale a pena José Serra jogar esse balde de água fria no DEM? Certamente a resposta é não. Como dito por lideranças do DEM nos últimos dias, caso Serra negue a vaga de vice para o partido, não haverá empenho dos aliados na sua campanha. Ao que tudo indica, Serra tem procurado medir se essa perda de empenho do DEM poderia ser compensada pelo potencial de agregação de votos de uma vice como Patrícia Amorim, por exemplo. Mas aí, o ex-governador de São Paulo não deve se iludir achando que que conquistará mais votos só porque sua vice é a Presidente do Flamengo, o maior clube brasileiro. Como dito anteriormente, Patrícia Amorim é vereadora no Rio de Janeiro, tendo sido eleita em 2008 com pouco mais de 21 mil votos. Para se ter uma idéia, isso corresponde a apenas 30% dos votos da vereadora mais votada, que teve quase 69 mil votos naquela eleição.
Embora em 2008 ela ainda não ocupasse a presidência do Flamengo, isto não parece ser um fator que agregará tantos votos quanto espera Serra. Certamente, o ônus de perder o empenho do DEM em torno da sua candidatura será maior que o bônus de ter a presidente do Flamengo como sua vice. E esse ônus só tende a ampliar ainda mais no caso de Serra escolher Álvaro Dias, pois o senador, apesar de ser mais conhecido que Patrícia Amorim no meio político, não traz consigo grande potencial de agregação de votos. Ou seja: Serra tem muito mais a perder do que a ganhar se insistir em indicar um vice do próprio PSDB para compor com ele a chapa de oposição.
De qualquer forma, o que se vê cada vez mais é uma desestabilização da candidatura oposicionista, que além de não ter uma firmeza de projeto e discurso, ainda arca com o azedamento das relações em sua base de apoio, devido ao prolongamento da novela do vice de Serra. O tucano tem poucos dias para definir quem o acompanhará na chapa, mas nessa altura do campeonato algumas fissuras em sua relação com o DEM já são irreversíveis.
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