Fazendo-se uso da matemática eleitoral para avaliar os cenários regionais da disputa presidencial deste ano, podemos inferir que, mantido o atual quadro, os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro caminham para serem os “fiéis da balança”. Isto porque, de acordo com a mais recente pesquisa do Ibope, divulgada no sábado, 5, a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, lidera nas regiões Nordeste e Norte, enquanto o tucano José Serra mantém a liderança no Sul e Sudeste. Contudo, no Sudeste a vantagem de Serra vem caindo, especialmente pelo forte crescimento da petista no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.
Juntos, o Nordeste e Norte/Centro-Oeste agregam 41,4% do eleitorado brasileiro, ao passo que o estado de São Paulo somado com o Sul (regiões onde Serra tem ampla vantagem) representa 38%, equilibrando, assim, as vantagens regionais de um e outro candidato, já que a ligeira diferença na balança equivale exatamente à margem de erro das pesquisas. Ou seja: no Nordeste + Norte/Centro-Oeste Dilma tem vantagem de 33 pontos percentuais sobre Serra, a mesma vantagem que o tucano tem sobre a petista na soma das intenções de voto do Sul com São Paulo, segundo o Ibope, o que explica as atenções dos pré-candidatos cada vez mais voltadas para os palanques de Minas e Rio.
Com a recente disparada de Dilma no Rio de Janeiro, que abriu 17 pontos percentuais de vantagem sobre Serra, Minas passa a ser o estado onde o tucano deposita suas últimas esperanças de recuperar a vantagem inicial na corrida presidencial. A expectativa dos tucanos era de que o estado, até dois meses atrás, comandado pelo correligionário de Serra, Aécio Neves, conseguisse reverter a balança eleitoral de forma a beneficiar a candidatura nacional do PSDB, transformando a elevada aprovação de Aécio entre o eleitorado mineiro em votos para o ex-governador de São Paulo. Contudo, não é esse o movimento que tem sido verificado no estado, o que tem preocupado bastante a campanha de Serra.
Parte da base aecista resiste em apoiar Serra
De acordo com uma reportagem publicada nesta segunda-feira, 7, pela Folha de São Paulo, cerca de um terço da base de apoio a Aécio está relutando em apoiar também a candidatura de José Serra, o que representa um número muito elevado especialmente para um estado considerado por todos os lados como decisivo para a disputa presidencial. Neste sentido, a Folha revela que dos 853 prefeitos de Minas Gerais, 286 são dos três principais partidos que compõem a base de apoio a José Serra: PSDB, DEM e PPS. Ou seja: em tese, o tucano contaria com o apoio de pelo menos um terço dos prefeitos mineiros, um número muito bom já que pode ser ampliado mediante alianças regionais.
Mas as coisas não estão favoráveis a esta conta, pelo menos de acordo com a reportagem da Folha. Desses 286 prefeitos potencialmente da base de apoio a Serra, 79 ainda não se decidiram se irão apoiar ou não o tucano, o que reduz o percentual de apoio efetivo à candidatura nacional da oposição para 24,2% dos prefeitos mineiros. O jornal apura que uma parcela desses prefeitos já se decidiu e irá apoiar a candidatura de Dilma, o que provoca um desespero ainda maior no ninho tucano. A explicação para esta “mudança de lado” é uma resultante de três fatores principais: um sentimento de gratidão desses prefeitos em relação aos repasses feitos pelo governo Lula, um certo ressentimento por Aécio ter sido preterido na disputa presidencial em favor de Serra e principalmente uma não-identificação com o estilo pessoal do ex-governador de São Paulo.
Alguns prefeitos mineiros, como Odilon Oliveira (PSDB), de Oratório, chegaram a declarar à Folha que o próprio Aécio não está empenhado localmente para a eleição de Serra: “Pelo que sei Aécio apóia Serra, mas é assim tanto”, declarou o prefeito da cidade mineira segundo a reportagem. O que é interessante notar aqui é que essa resistência por parte da base aecista para apoiar Serra já vinha sendo esperada por muitos analistas políticos desde o final do ano passado, quando Aécio Neves retirou-se da disputa interna no PSDB para a indicação do candidato do Partido à Presidência da República. Segundo cientistas políticos naquela época, a saída de Aécio do páreo em benefício a Serra alimentaria um sentimento de “inconformismo” nos mineiros em relação aos paulistas.
Neste sentido, tal desfecho remonta ao episódio da sucessão presidencial de 1930, quando o então presidente Washington Luis (paulista), ao invés de indicar o mineiro Antônio Carlos (como era de costume na República Velha), preferiu indicar outro paulista, Júlio Prestes, para a presidência da República, o que acabou provocando uma crise que culminou no fim da chamada “Política do Café com Leite”. Esse sentimento de “ser preterido em benefício a um paulista” de certa forma alimenta se não uma rivalidade, ao menos o que se pode chamar de tensão potencial entre os dois estados, até os dias de hoje. E o movimento feito por parte da base de apoio a Aécio só corrobora esta tese, o que tende a ser muito prejudicial para a pré-candidatura de Serra.
Desafios também no campo governista
Mas se as coisas andam complicadas para o lado de Serra, não estão muito mais favoráveis também para o campo governista em Minas. Isto porque o PT de Minas tem dado certa dor de cabeça à coordenação da campanha de Dilma, por insistir em lançar candidato próprio ao Palácio da Liberdade ao invés de ceder espaço para que o ex-ministro das Telecomunicações, Hélio Costa (PMDB), seja o candidato ao governo, como quer o presidente Lula e a Direção Nacional do PT. Um impasse dessa natureza não é proveitoso em nenhuma situação, muito menos quando ocorre em um estado decisivo para a disputa como é o caso de Minas Gerais. Uma ruptura da aliança PT-PMDB em Minas poderia ser bastante prejudicial para a candidatura de Dilma, fato que tem preocupado muito também a coordenação petista.
É importante salientar que o PMDB possui 120 prefeitos em Minas Gerais, enquanto o PT tem 108. Juntos, portanto, PT e PMDB alcançam 228 prefeituras no estado e que pode ser ampliado ainda mais se admitirmos as alianças regionais pró-Dilma (com partidos como PR, PCdoB, PSB, que já estão na base de apoio nacional) e a soma dos 79 prefeitos da coligação oposicionista que estão relutantes em apoiar Serra. Se considerarmos a adesão de 50 destes 79 prefeitos à campanha de Dilma, a conta ficaria da seguinte maneira: 278 prefeitos apoiando a petista contra 236 apoiando o tucano, não se considerando aqui a aliança com outros partidos, que tende ser benéfica a Dilma.
O que se vê, portanto, é que Minas caminha para um cenário de ampliação do favoritismo de Dilma, desde que equacionada a questão entre PT e PMDB no estado. Do lado de Serra, contudo, o cenário não é dos melhores, pois a esperada resistência do núcleo aecista à pré-candidatura do ex-governador de São Paulo tem sido confirmada. Ao que tudo indica, assim como em 1930, quando a reação de Minas inviabilizou a eleição do paulista Júlio Prestes para a Presidência da República, na disputa desse ano o comportamento do eleitorado mineiro tende novamente a ser decisivo. Entre a pré-candidata de um governo altamente bem avaliado e que, além de tudo é mineira, e o pré-candidato paulista, ao que tudo indica os mineiros ficarão com a primeira opção.
Considerações importantes:
01)É preciso atentar que Minas deve ser o fiel da balança se mantido o atual quadro de equivalência das vantagens de Dilma no Nordeste e Norte/Centro-Oeste e de Serra em São Paulo e no Sul. Qualquer movimento de abertura de vantagem relativa por um dos dois pré-candidatos desloca a centralidade da disputa em Minas Gerais. Por exemplo, a vantagem de Dilma no Nordeste, Norte e Centro-Oeste se torna superior à de Serra em São Paulo e Sul, a petista tem maiores chances de vitória mantido o cenário de empate em Minas e essa mesma lógica, aplicada o lado de Serra, também é verdadeira.
02) Pouco tempo depois da publicação deste texto, as cúpulas do PT e do PMDB mineiros chegaram a um acordo e definiram que o candidato único governista ao Estado será Hélio Costa, sendo o petista Fernando Pimentel candidato ao Senado. É possível também que o PT indique o nome do vice de Hélio Costa, devendo ser Patrus Ananias (que disputou as prévias com Pimentel) ou o deputado federal Virgílio Guimarães. A solução consensual entre PT e PMDB em Minas amplia ainda mais o cenário favorável a Dilma no Estado, como explicado no texto acima.
Juntos, o Nordeste e Norte/Centro-Oeste agregam 41,4% do eleitorado brasileiro, ao passo que o estado de São Paulo somado com o Sul (regiões onde Serra tem ampla vantagem) representa 38%, equilibrando, assim, as vantagens regionais de um e outro candidato, já que a ligeira diferença na balança equivale exatamente à margem de erro das pesquisas. Ou seja: no Nordeste + Norte/Centro-Oeste Dilma tem vantagem de 33 pontos percentuais sobre Serra, a mesma vantagem que o tucano tem sobre a petista na soma das intenções de voto do Sul com São Paulo, segundo o Ibope, o que explica as atenções dos pré-candidatos cada vez mais voltadas para os palanques de Minas e Rio.
Com a recente disparada de Dilma no Rio de Janeiro, que abriu 17 pontos percentuais de vantagem sobre Serra, Minas passa a ser o estado onde o tucano deposita suas últimas esperanças de recuperar a vantagem inicial na corrida presidencial. A expectativa dos tucanos era de que o estado, até dois meses atrás, comandado pelo correligionário de Serra, Aécio Neves, conseguisse reverter a balança eleitoral de forma a beneficiar a candidatura nacional do PSDB, transformando a elevada aprovação de Aécio entre o eleitorado mineiro em votos para o ex-governador de São Paulo. Contudo, não é esse o movimento que tem sido verificado no estado, o que tem preocupado bastante a campanha de Serra.
Parte da base aecista resiste em apoiar Serra
De acordo com uma reportagem publicada nesta segunda-feira, 7, pela Folha de São Paulo, cerca de um terço da base de apoio a Aécio está relutando em apoiar também a candidatura de José Serra, o que representa um número muito elevado especialmente para um estado considerado por todos os lados como decisivo para a disputa presidencial. Neste sentido, a Folha revela que dos 853 prefeitos de Minas Gerais, 286 são dos três principais partidos que compõem a base de apoio a José Serra: PSDB, DEM e PPS. Ou seja: em tese, o tucano contaria com o apoio de pelo menos um terço dos prefeitos mineiros, um número muito bom já que pode ser ampliado mediante alianças regionais.
Mas as coisas não estão favoráveis a esta conta, pelo menos de acordo com a reportagem da Folha. Desses 286 prefeitos potencialmente da base de apoio a Serra, 79 ainda não se decidiram se irão apoiar ou não o tucano, o que reduz o percentual de apoio efetivo à candidatura nacional da oposição para 24,2% dos prefeitos mineiros. O jornal apura que uma parcela desses prefeitos já se decidiu e irá apoiar a candidatura de Dilma, o que provoca um desespero ainda maior no ninho tucano. A explicação para esta “mudança de lado” é uma resultante de três fatores principais: um sentimento de gratidão desses prefeitos em relação aos repasses feitos pelo governo Lula, um certo ressentimento por Aécio ter sido preterido na disputa presidencial em favor de Serra e principalmente uma não-identificação com o estilo pessoal do ex-governador de São Paulo.
Alguns prefeitos mineiros, como Odilon Oliveira (PSDB), de Oratório, chegaram a declarar à Folha que o próprio Aécio não está empenhado localmente para a eleição de Serra: “Pelo que sei Aécio apóia Serra, mas é assim tanto”, declarou o prefeito da cidade mineira segundo a reportagem. O que é interessante notar aqui é que essa resistência por parte da base aecista para apoiar Serra já vinha sendo esperada por muitos analistas políticos desde o final do ano passado, quando Aécio Neves retirou-se da disputa interna no PSDB para a indicação do candidato do Partido à Presidência da República. Segundo cientistas políticos naquela época, a saída de Aécio do páreo em benefício a Serra alimentaria um sentimento de “inconformismo” nos mineiros em relação aos paulistas.
Neste sentido, tal desfecho remonta ao episódio da sucessão presidencial de 1930, quando o então presidente Washington Luis (paulista), ao invés de indicar o mineiro Antônio Carlos (como era de costume na República Velha), preferiu indicar outro paulista, Júlio Prestes, para a presidência da República, o que acabou provocando uma crise que culminou no fim da chamada “Política do Café com Leite”. Esse sentimento de “ser preterido em benefício a um paulista” de certa forma alimenta se não uma rivalidade, ao menos o que se pode chamar de tensão potencial entre os dois estados, até os dias de hoje. E o movimento feito por parte da base de apoio a Aécio só corrobora esta tese, o que tende a ser muito prejudicial para a pré-candidatura de Serra.
Desafios também no campo governista
Mas se as coisas andam complicadas para o lado de Serra, não estão muito mais favoráveis também para o campo governista em Minas. Isto porque o PT de Minas tem dado certa dor de cabeça à coordenação da campanha de Dilma, por insistir em lançar candidato próprio ao Palácio da Liberdade ao invés de ceder espaço para que o ex-ministro das Telecomunicações, Hélio Costa (PMDB), seja o candidato ao governo, como quer o presidente Lula e a Direção Nacional do PT. Um impasse dessa natureza não é proveitoso em nenhuma situação, muito menos quando ocorre em um estado decisivo para a disputa como é o caso de Minas Gerais. Uma ruptura da aliança PT-PMDB em Minas poderia ser bastante prejudicial para a candidatura de Dilma, fato que tem preocupado muito também a coordenação petista.
É importante salientar que o PMDB possui 120 prefeitos em Minas Gerais, enquanto o PT tem 108. Juntos, portanto, PT e PMDB alcançam 228 prefeituras no estado e que pode ser ampliado ainda mais se admitirmos as alianças regionais pró-Dilma (com partidos como PR, PCdoB, PSB, que já estão na base de apoio nacional) e a soma dos 79 prefeitos da coligação oposicionista que estão relutantes em apoiar Serra. Se considerarmos a adesão de 50 destes 79 prefeitos à campanha de Dilma, a conta ficaria da seguinte maneira: 278 prefeitos apoiando a petista contra 236 apoiando o tucano, não se considerando aqui a aliança com outros partidos, que tende ser benéfica a Dilma.
O que se vê, portanto, é que Minas caminha para um cenário de ampliação do favoritismo de Dilma, desde que equacionada a questão entre PT e PMDB no estado. Do lado de Serra, contudo, o cenário não é dos melhores, pois a esperada resistência do núcleo aecista à pré-candidatura do ex-governador de São Paulo tem sido confirmada. Ao que tudo indica, assim como em 1930, quando a reação de Minas inviabilizou a eleição do paulista Júlio Prestes para a Presidência da República, na disputa desse ano o comportamento do eleitorado mineiro tende novamente a ser decisivo. Entre a pré-candidata de um governo altamente bem avaliado e que, além de tudo é mineira, e o pré-candidato paulista, ao que tudo indica os mineiros ficarão com a primeira opção.
Considerações importantes:
01)É preciso atentar que Minas deve ser o fiel da balança se mantido o atual quadro de equivalência das vantagens de Dilma no Nordeste e Norte/Centro-Oeste e de Serra em São Paulo e no Sul. Qualquer movimento de abertura de vantagem relativa por um dos dois pré-candidatos desloca a centralidade da disputa em Minas Gerais. Por exemplo, a vantagem de Dilma no Nordeste, Norte e Centro-Oeste se torna superior à de Serra em São Paulo e Sul, a petista tem maiores chances de vitória mantido o cenário de empate em Minas e essa mesma lógica, aplicada o lado de Serra, também é verdadeira.
02) Pouco tempo depois da publicação deste texto, as cúpulas do PT e do PMDB mineiros chegaram a um acordo e definiram que o candidato único governista ao Estado será Hélio Costa, sendo o petista Fernando Pimentel candidato ao Senado. É possível também que o PT indique o nome do vice de Hélio Costa, devendo ser Patrus Ananias (que disputou as prévias com Pimentel) ou o deputado federal Virgílio Guimarães. A solução consensual entre PT e PMDB em Minas amplia ainda mais o cenário favorável a Dilma no Estado, como explicado no texto acima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário