A disputa presidencial entrou totalmente aquecida na terceira e última fase da pré-campanha: a das convenções partidárias e oficialização dos arranjos políticos em torno das coligações. Isto porque desde o último final de semana, a oposição e a grande imprensa acusam a coordenação de campanha da pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, de contratar pessoas para produzir um suposto dossiê contra o seu principal adversário na corrida pelo Palácio do Planalto, o tucano José Serra. Com a artilharia pesada da oposição alimentada pela mídia, o suposto dossiê ganhou destaque no noticiário político durante toda a semana e o que era para ser uma disputa centrada em debates propositivos acabou se tornando uma campanha negativa por parte do demo-tucanato.
Mas o que levou a oposição a criar essa farsa de dossiês? O desespero mediante o contínuo crescimento de Dilma nas pesquisas de intenção de voto é uma primeira resposta, já que alguns institutos na última rodada de pesquisas, ocorrida em maio, mostraram a petista à frente do tucano, sendo que no cenário menos favorável para o campo governista, a ex-ministra já estava empatada com o ex-governador de São Paulo. Uma segunda razão que nos leva a entender as causas para esta manobra da oposição é uma tentativa de desestabilizar a pré-candidatura de Dilma, criando condições para que Serra possa voltar a crescer e recuperar a vantagem que tinha nas pesquisas até abril deste ano.
Contudo, não podemos subestimar a inteligência da oposição, achando apenas que a farsa em torno desses supostos “dossiês” é produto de um desespero irracional que acomete o ninho tucano em função do crescimento de Dilma nas pesquisas. Trata-se de uma estratégia muito bem estudada e arquitetada para reverter o quadro eleitoral que vem sendo desenhado, levando em conta elementos da psicologia e sociologia que explicam o comportamento médio do eleitor. Não são poucos os estudos acadêmicos no campo da política e do marketing eleitoral que revelam que as campanhas eleitorais geralmente começam propositivas e, num dado instante, passam a ser negativas, isto é, direcionam seu foco para contestar as qualificações (pessoais, técnicas e políticas) do adversário para ocupar o cargo em disputa.
E é isso que vemos acontecer na disputa presidencial brasileira neste momento. A oposição deixa de lado o debate propositivo e parte para a campanha negativa, através da criação de factóides para tentar desestabilizar o campo governista. Com base nas variadas conclusões de estudos psico-sociológicos que procuram explicar o comportamento do eleitor e que por isso servem como base para decisões do marketing político das campanhas, podemos identificar uma dupla funcionalidade da farsa em torno dos supostos “dossiês” para a pré-candidatura oposicionista. A primeira funcionalidade é a de tentar desqualificar Dilma e o PT, usando um artifício condenado pela maioria dos eleitores para questionar o modo operandis da pré-candidata e seu partido. E a segunda diz respeito à tentativa de mudar o foco do debate para algo mais vantajoso ao campo oposicionista.
A tentativa de desqualificar Dilma e o PT
Estudos acadêmicos feitos sobre o comportamento dos eleitores em diversas partes do mundo ocidental, sobretudo nos Estados Unidos e Europa, onde o marketing político tem encontrado um terreno muito propício ao seu crescimento, revelam conclusões muito interessantes sobre o efeito da propaganda política na decisão de voto do eleitorado. Vejamos as principais conclusões de alguns desses estudos:
1) Os eleitores tendem a avaliar mais o caráter dos candidatos na fase inicial da campanha: à medida que a campanha eleitoral vai caminhando para o seu fim é mais difícil que o eleitorado mude o julgamento feito no início;
2) As primeiras impressões negativas são mais difíceis de serem mudadas do que as impressões positivas;
3) As informações negativas influenciam mais na decisão de voto do eleitor do que as positivas, quando o assunto é caráter;
4) A propaganda negativa é, via de regra, mais lembrada pelos eleitores do que a positiva;
5) A imagem de fraqueza de caráter é mais importante do que a de força de caráter para a decisão do voto.
Apresentadas essas verificações feitas por renomadas universidades mundiais com relação ao comportamento do eleitor, fica mais claro entendermos a estratégia da oposição, que resolve agora dar início a uma onda de campanha negativa contra a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff. Ora, considerando que o eleitor tende a avaliar mais o caráter do candidato na fase inicial da campanha e que as primeiras impressões negativas são mais difíceis de serem revertidas que as positivas, a artilharia demo-tucana dispara toda sua munição de mentiras e factóides contra a petista e as pessoas que estão à sua volta, procurando, com isso, criar uma impressão negativa no eleitor em relação a Dilma.
Devemos lembrar que a tentativa de desqualificar a ex-ministra não é recente: desde o início deste ano intensificaram-se as ações “de porão” por parte da oposição, sendo que a primeira tentativa foi a de explorar de forma falaciosa e negativa o passado militante de Dilma. Circularam pela rede diversos e-mails e textos, naturalmente não assinados por nenhuma liderança da oposição, referindo-se à ex-ministra como “guerrilheira” e muitas vezes até como “assassina” e “seqüestradora”, lembrando muito a campanha negativa feita contra Lula nas eleições de 1989. Na imprensa, por sua vez, pipocaram manchetes dizendo que um eventual governo Dilma seria mais “à esquerda” que o de Lula, aumentando o intervencionismo estatal e tentando fixar na mente do leitor a idéia de que se eleita Dilma deveria fazer um governo nos moldes do presidente venezuelano Hugo Chávez.
Contudo, tal estratégia não colou e a petista, cada vez mais identificada com a continuidade do governo Lula, continuou subindo gradativamente nas pesquisas de intenções de voto. Assim, faltando um mês apenas para o início oficial da campanha, marcado para 6 de julho, a oposição insiste na estratégia de desqualificação moral de Dilma, sendo que a “bola da vez” é o suposto “dossiê” feito pela campanha da petista para tentar atingir Serra, o que não faz nenhum sentido lógico, posto que o cenário é muito mais favorável à petista do que ao tucano. Ou seja, o tal “dossiê” alardeado pela imprensa e oposição na última semana serve muito mais aos interesses do demo-tucanato do que ao PT.
A tentativa de mudar o foco do debate
Outra funcionalidade dessa campanha negativa promovida pela oposição diz respeito à tentativa de mudar o foco do debate em torno da sucessão presidencial, já que uma campanha propositiva, onde se debatem idéias e projetos, tende a ser muito mais vantajosa para Dilma do que para Serra. Afinal de contas, a petista representa um governo que tem aprovação superior a 75% e que a esmagadora maioria do eleitorado deseja que continue. Neste sentido, um debate em torno de projetos políticos deixa Serra numa situação difícil, posto que ele não pode se apresentar como oposição (visto que a maior parte dos eleitores aprova Lula) mas também não convence dizendo que representa mais a continuidade do que a própria candidata do governo.
Em seu livro “A cabeça do eleitor”, o sociólogo Alberto Carlos Almeida, após uma análise de 150 eleições brasileiras (entre eleições presidenciais, estaduais e municipais), conclui que o principal critério de voto adotado pelo eleitorado brasileiro é o sócio-econômico. Assim, o eleitor tende a votar a favor do governo ou do candidato do governo se considera que sua vida está boa ou melhorou e vota no candidato da oposição se considera que seu padrão de vida está ruim ou piorou. Almeida aponta seis fatores cruciais para a formação do voto do eleitor brasileiro:
1) Avaliação do governo;
2) Lembrança (recall) do candidato;
3) Identidade política do candidato;
4) Combinação entre o passado do candidato e o principal problema na ótica do eleitorado;
5) Potencial de crescimento do candidato;
6) Apoio político.
Percebe-se que se levando em conta esses critérios, Dilma tem ampla vantagem sobre Serra, haja vista que pontua melhor que o tucano em 5 dos 6, ficando inicialmente atrás apenas no segundo quesito, já que boa parte do eleitorado ainda não a conhece bem. Em todos os outros, porém, ela mostra uma possibilidade de desempenho muito maior que o tucano, pois sua imagem é colada a um governo que tem sido aprovado pela ampla maioria dos eleitores, tendo o apoio político do presidente Lula. Assim, o que resta ao tucano é tirar os holofotes da campanha propositiva e direcioná-los para escândalos criados na tentativa de arranhar a candidatura do campo governista, como tem sido feito.
Porém, essa estratégia tende a se tornar infrutífera, pois como dito anteriormente a maioria dos eleitores decidem o seu voto pelo desejo ou não de continuidade do governo e, no caso das eleições presidenciais deste ano, o desejo de continuidade é predominante. Sem contar que, ao contrário de eleições anteriores, quando a informação chegava ao eleitor apenas pelos veículos da grande imprensa, simpáticos ao demo-tucanato, a internet cria um espaço alternativo de informação e possibilita que a verdade seja esclarecida, contrapondo-se às farsas eleitoreiras criadas por um grupo político e ecoadas aos quatro ventos pela imprensa a seu serviço.
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Falando de compotas e dossiês
Mas o que levou a oposição a criar essa farsa de dossiês? O desespero mediante o contínuo crescimento de Dilma nas pesquisas de intenção de voto é uma primeira resposta, já que alguns institutos na última rodada de pesquisas, ocorrida em maio, mostraram a petista à frente do tucano, sendo que no cenário menos favorável para o campo governista, a ex-ministra já estava empatada com o ex-governador de São Paulo. Uma segunda razão que nos leva a entender as causas para esta manobra da oposição é uma tentativa de desestabilizar a pré-candidatura de Dilma, criando condições para que Serra possa voltar a crescer e recuperar a vantagem que tinha nas pesquisas até abril deste ano.
Contudo, não podemos subestimar a inteligência da oposição, achando apenas que a farsa em torno desses supostos “dossiês” é produto de um desespero irracional que acomete o ninho tucano em função do crescimento de Dilma nas pesquisas. Trata-se de uma estratégia muito bem estudada e arquitetada para reverter o quadro eleitoral que vem sendo desenhado, levando em conta elementos da psicologia e sociologia que explicam o comportamento médio do eleitor. Não são poucos os estudos acadêmicos no campo da política e do marketing eleitoral que revelam que as campanhas eleitorais geralmente começam propositivas e, num dado instante, passam a ser negativas, isto é, direcionam seu foco para contestar as qualificações (pessoais, técnicas e políticas) do adversário para ocupar o cargo em disputa.
E é isso que vemos acontecer na disputa presidencial brasileira neste momento. A oposição deixa de lado o debate propositivo e parte para a campanha negativa, através da criação de factóides para tentar desestabilizar o campo governista. Com base nas variadas conclusões de estudos psico-sociológicos que procuram explicar o comportamento do eleitor e que por isso servem como base para decisões do marketing político das campanhas, podemos identificar uma dupla funcionalidade da farsa em torno dos supostos “dossiês” para a pré-candidatura oposicionista. A primeira funcionalidade é a de tentar desqualificar Dilma e o PT, usando um artifício condenado pela maioria dos eleitores para questionar o modo operandis da pré-candidata e seu partido. E a segunda diz respeito à tentativa de mudar o foco do debate para algo mais vantajoso ao campo oposicionista.
A tentativa de desqualificar Dilma e o PT
Estudos acadêmicos feitos sobre o comportamento dos eleitores em diversas partes do mundo ocidental, sobretudo nos Estados Unidos e Europa, onde o marketing político tem encontrado um terreno muito propício ao seu crescimento, revelam conclusões muito interessantes sobre o efeito da propaganda política na decisão de voto do eleitorado. Vejamos as principais conclusões de alguns desses estudos:
1) Os eleitores tendem a avaliar mais o caráter dos candidatos na fase inicial da campanha: à medida que a campanha eleitoral vai caminhando para o seu fim é mais difícil que o eleitorado mude o julgamento feito no início;
2) As primeiras impressões negativas são mais difíceis de serem mudadas do que as impressões positivas;
3) As informações negativas influenciam mais na decisão de voto do eleitor do que as positivas, quando o assunto é caráter;
4) A propaganda negativa é, via de regra, mais lembrada pelos eleitores do que a positiva;
5) A imagem de fraqueza de caráter é mais importante do que a de força de caráter para a decisão do voto.
Apresentadas essas verificações feitas por renomadas universidades mundiais com relação ao comportamento do eleitor, fica mais claro entendermos a estratégia da oposição, que resolve agora dar início a uma onda de campanha negativa contra a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff. Ora, considerando que o eleitor tende a avaliar mais o caráter do candidato na fase inicial da campanha e que as primeiras impressões negativas são mais difíceis de serem revertidas que as positivas, a artilharia demo-tucana dispara toda sua munição de mentiras e factóides contra a petista e as pessoas que estão à sua volta, procurando, com isso, criar uma impressão negativa no eleitor em relação a Dilma.
Devemos lembrar que a tentativa de desqualificar a ex-ministra não é recente: desde o início deste ano intensificaram-se as ações “de porão” por parte da oposição, sendo que a primeira tentativa foi a de explorar de forma falaciosa e negativa o passado militante de Dilma. Circularam pela rede diversos e-mails e textos, naturalmente não assinados por nenhuma liderança da oposição, referindo-se à ex-ministra como “guerrilheira” e muitas vezes até como “assassina” e “seqüestradora”, lembrando muito a campanha negativa feita contra Lula nas eleições de 1989. Na imprensa, por sua vez, pipocaram manchetes dizendo que um eventual governo Dilma seria mais “à esquerda” que o de Lula, aumentando o intervencionismo estatal e tentando fixar na mente do leitor a idéia de que se eleita Dilma deveria fazer um governo nos moldes do presidente venezuelano Hugo Chávez.
Contudo, tal estratégia não colou e a petista, cada vez mais identificada com a continuidade do governo Lula, continuou subindo gradativamente nas pesquisas de intenções de voto. Assim, faltando um mês apenas para o início oficial da campanha, marcado para 6 de julho, a oposição insiste na estratégia de desqualificação moral de Dilma, sendo que a “bola da vez” é o suposto “dossiê” feito pela campanha da petista para tentar atingir Serra, o que não faz nenhum sentido lógico, posto que o cenário é muito mais favorável à petista do que ao tucano. Ou seja, o tal “dossiê” alardeado pela imprensa e oposição na última semana serve muito mais aos interesses do demo-tucanato do que ao PT.
A tentativa de mudar o foco do debate
Outra funcionalidade dessa campanha negativa promovida pela oposição diz respeito à tentativa de mudar o foco do debate em torno da sucessão presidencial, já que uma campanha propositiva, onde se debatem idéias e projetos, tende a ser muito mais vantajosa para Dilma do que para Serra. Afinal de contas, a petista representa um governo que tem aprovação superior a 75% e que a esmagadora maioria do eleitorado deseja que continue. Neste sentido, um debate em torno de projetos políticos deixa Serra numa situação difícil, posto que ele não pode se apresentar como oposição (visto que a maior parte dos eleitores aprova Lula) mas também não convence dizendo que representa mais a continuidade do que a própria candidata do governo.
Em seu livro “A cabeça do eleitor”, o sociólogo Alberto Carlos Almeida, após uma análise de 150 eleições brasileiras (entre eleições presidenciais, estaduais e municipais), conclui que o principal critério de voto adotado pelo eleitorado brasileiro é o sócio-econômico. Assim, o eleitor tende a votar a favor do governo ou do candidato do governo se considera que sua vida está boa ou melhorou e vota no candidato da oposição se considera que seu padrão de vida está ruim ou piorou. Almeida aponta seis fatores cruciais para a formação do voto do eleitor brasileiro:
1) Avaliação do governo;
2) Lembrança (recall) do candidato;
3) Identidade política do candidato;
4) Combinação entre o passado do candidato e o principal problema na ótica do eleitorado;
5) Potencial de crescimento do candidato;
6) Apoio político.
Percebe-se que se levando em conta esses critérios, Dilma tem ampla vantagem sobre Serra, haja vista que pontua melhor que o tucano em 5 dos 6, ficando inicialmente atrás apenas no segundo quesito, já que boa parte do eleitorado ainda não a conhece bem. Em todos os outros, porém, ela mostra uma possibilidade de desempenho muito maior que o tucano, pois sua imagem é colada a um governo que tem sido aprovado pela ampla maioria dos eleitores, tendo o apoio político do presidente Lula. Assim, o que resta ao tucano é tirar os holofotes da campanha propositiva e direcioná-los para escândalos criados na tentativa de arranhar a candidatura do campo governista, como tem sido feito.
Porém, essa estratégia tende a se tornar infrutífera, pois como dito anteriormente a maioria dos eleitores decidem o seu voto pelo desejo ou não de continuidade do governo e, no caso das eleições presidenciais deste ano, o desejo de continuidade é predominante. Sem contar que, ao contrário de eleições anteriores, quando a informação chegava ao eleitor apenas pelos veículos da grande imprensa, simpáticos ao demo-tucanato, a internet cria um espaço alternativo de informação e possibilita que a verdade seja esclarecida, contrapondo-se às farsas eleitoreiras criadas por um grupo político e ecoadas aos quatro ventos pela imprensa a seu serviço.
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Falando de compotas e dossiês
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