quarta-feira, 23 de junho de 2010

O vigoroso desempenho da balança comercial no governo Lula e o trololó de Serra

Em suas recentes entrevistas e discursos, o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, tem dirigido grande parte de suas críticas à política de comércio exterior do governo Lula, afirmando que faltou uma postura mais “agressiva” por parte do governo brasileiro para ampliar a nossa competitividade no mercado internacional. Essa foi a linha recorrente do discurso do candidato tanto em suas entrevistas às revistas Veja e Isto É, publicadas no último final de semana, como também na sabatina promovida pela Folha de São Paulo e pelo UOL, na última segunda-feira, 21.

Qualquer eleitor desavisado que se deparasse com as afirmações de Serra poderia até acreditar, tão grande foi a veemência com que o tucano dizia estas coisas. Contudo, as afirmações do candidato são logo desmontadas quando nos analisamos os dados relativos ao comércio exterior brasileiro entre os anos de 2003 e 2009, os sete primeiros anos do governo Lula, e os comparamos com os oito anos imediatamente anteriores, quando os tucanos ocuparam o governo federal. Os números não deixam dúvidas: o setor externo foi um dos que mais se desenvolveram ao longo do governo Lula, de modo que qualquer afirmação contrária não passa de falácia.

Para se ter uma idéia, as exportações cresceram de maneira vigorosa ao longo do governo Lula, não obstante à menor desvalorização cambial no período. Via de regra, as exportações tendem a se beneficiar em um cenário de câmbio mais desvalorizado, pois isto amplia a competitividade do produto brasileiro no mercado internacional. Contudo, mesmo com o real reduzindo sua desvalorização frente ao dólar, as exportações continuaram crescendo ao longo dos últimos sete anos, apresentando um recuo apenas em 2009, em decorrência da crise econômica internacional. Com a menor renda na maior parte das economias mundiais, era de se esperar uma redução das exportações.

Forte crescimento das exportações brasileiras
Mesmo com o recuo apresentado em 2009, as exportações brasileiras registraram um forte avanço de 153% até dezembro do ano passado, tomando-se como base de comparação o último ano do governo tucano (2002). Enquanto em 2002, o volume de exportações foi de US$ 60,4 bilhões, em 2009 foi de R$ 153 bilhões, número abaixo do pico registrado em 2008, quando as exportações brasileiras totalizaram R$ 198 bilhões, segundo os dados da Funcex. Estes dados não deixam dúvidas sobre o excelente desempenho das exportações brasileiras no período, especialmente se os compararmos ao desempenho da economia global neste mesmo intervalo de tempo.

Neste sentido, os dados do FMI nos mostram que o volume mundial de exportações cresceu apenas 96% no período, passando de US$ 5,1 trilhões em 2002 para US$ 10,5 trilhões em 2009. Como efeito direto disso, o Brasil ampliou sua participação no comércio mundial: enquanto no último ano do governo FHC, as exportações brasileiras respondiam por 1,13% das exportações mundiais, em 2009 essa relação era de 1,45%. E é bom salientar que, não fosse a crise econômica mundial, esse desempenho seria ainda melhor, pois em 2008 as exportações brasileiras responderam por 1,49% do volume mundial de exportações. Ora, se a política comercial do governo Lula tivesse sido tímida, como dito por Serra, o que explicaria então esse excelente desempenho das vendas externas do país, especialmente em um contexto de menor depreciação cambial?

É importante que se diga também que as exportações cresceram significativamente em proporção do PIB: segundo os dados das contas nacionais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), enquanto no governo FHC as exportações respondiam, na média, por 9,9% do PIB brasileiro, no governo Lula esse percentual passou para 14,2% do PIB, deixando claro o vigoroso crescimento de nossas vendas externas. As importações também cresceram, mas de uma maneira menos acentuada: de acordo com os números do IBGE, enquanto no governo FHC as importações representavam 11,10% do PIB, na média do governo Lula elas respondem por 12,10% do PIB brasileiro.

Uma maneira muito eficaz de compararmos o desempenho das exportações frente ao das importações é através da análise dos coeficientes de exportação e de penetração das importações. O coeficiente de exportação, que mede o percentual da produção industrial doméstica que é exportado, apresentou um forte avanço ao longo do governo Lula. De acordo com cálculos feitos a partir dos dados da Pesquisa Industrial Mensal e da Pesquisa das Contas Nacionais, ambas do IBGE, podemos verificar que, enquanto no governo FHC,o coeficiente médio de exportação da indústria brasileira foi de 39,4%, no governo Lula a média saltou quase 20 pontos percentuais, para 58,7%.

Esse indicador nos mostra que a indústria brasileira ampliou significativamente o percentual exportado do que ela produz, o que é um excelente sinal de competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional, a despeito do que diz falaciosamente a oposição. Enquanto isso, o coeficiente de penetração das importações, que mede, basicamente, o percentual do consumo aparente brasileiro que é atendido pelas importações, também cresceu, mas de forma menos intensa, passando de 43% na média do governo FHC para 54,8% na média do governo Lula, o que configura um avanço de quase 12 pontos percentuais. Isso mostra que estamos importando bastante também, porém em proporção menor do que nossas exportações.

Governo Lula reverteu anos de déficit na balança comercial
Como efeito disso, o saldo da balança comercial brasileira tem registrado um excelente desempenho ao longo de todo governo Lula. Para se ter uma idéia, em seis dos oito anos de governo FHC, a balança comercial apresentou déficit, ou seja, importou mais do que exportou, ao passo que, ao longo do governo Lula, não se registrou déficit da balança comercial em nenhum dos anos, mostrando que o Brasil nestes últimos anos conseguiu reverter a trajetória de déficit comercial e agora apresenta sucessivos superávits na balança comercial, exportando mais do que importando. Vamos aos números: enquanto no governo FHC, a balança comercial brasileira acumulou um déficit de US$ 8,7 bilhões (entre 1995 e 2002), nos sete primeiros anos do governo Lula, a balança comercial acumula superávit de US$ 240,2 bilhões (entre 2003 e 2009).

Cabe agora a pergunta: que falta de agressividade é essa apontada por Serra que leva a este vigoroso desempenho da balança comercial brasileira durante o governo Lula? Antes que a oposição se apresse em dizer que o governo Lula simplesmente se beneficiou do bom momento internacional, devemos destacar três coisas já ditas anteriormente: 1) as exportações brasileiras cresceram em ritmo superior às exportações mundiais no período; 2) os sucessivos superávits comerciais do Brasil ocorreram mesmo em um quadro de menor depreciação cambial; e 3) mesmo com a crise econômica mundial de 2008/2009, o Brasil, ao contrário de várias economias no resto do mundo, mantiveram seu superávit na balança comercial.

Dito isto, o que se percebe é que o discurso tucano não passa de um “trololó”, valendo-se de uma expressão bastante usada por Serra. A avaliação crítica do candidato tucano sobre o desempenho da balança comercial brasileira não se sustenta quando confrontada com os números e indicadores da nossa economia, revelando que seu discurso não passa de demagogia e falácia. O governo Lula foi responsável pelo avanço generalizado da economia e do padrão de vida da sociedade brasileira, sendo que o setor externo foi, sem dúvida, um dos que tiveram desempenho mais exitoso ao longo do período, o que nos permite dizer que as críticas de Serra são totalmente descabidas.

Um comentário:

  1. Acho que seria legal analisar os números:
    http://www.espacoacademico.com.br/058/58almeida.htm

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