domingo, 2 de janeiro de 2011

Um começo mais que extraordinário para uma década que promete ser espetacular

Momentos políticos carregados de simbolismo ampliam inevitavelmente a nossa percepção de agentes da História. Esse sentimento de que estamos dia-a-dia fazendo História nos induz, por sua vez, a um exercício mais comum do que se imagina: como as futuras gerações, daqui a 50 ou 100 anos, por exemplo, compreenderão o momento histórico que vivemos hoje? Afinal de contas, com o passar do tempo e o acúmulo de conquistas, algumas vitórias, tão festejadas num dado momento, passam décadas depois a serem vistas com tal naturalidade que beira a incompreensão do que significaram no seu contexto original.

Neste dia 1º de janeiro de 2011, que marca o início de uma nova década, o Brasil assistiu a um dos momentos mais pulsantes da sua História: pela primeira vez na nossa democracia, uma mulher sobe a rampa do Palácio do Planalto e recebe a faixa presidencial. A passagem da faixa presidencial de um ex-operário, e já ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para a nova Presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, tem ainda um significado extra, como bem lembra Emir Sader: Lula foi o primeiro Presidente civil eleito na história da democracia brasileira que cumpriu seus dois mandatos e elegeu sua sucessora. Aqui, bem que cabe o jargão do nosso ex-Presidente: “nunca antes na História desse país” se viu tal fato.

Uma posse carregada de simbolismos
Além desse simbolismo óbvio de ser a primeira mulher a assumir o mais alto posto do Executivo Nacional, a posse de Dilma Rousseff tem outros ingredientes que ampliam ainda mais o seu simbolismo e que aguçam a nossa curiosidade quando tentamos imaginar como esse momento será lembrado na posterioridade. Passemos a alguns desses simbolismos. Inicialmente, podemos dizer que a posse de Dilma coroa um processo eleitoral dos mais agressivos já vistos na nossa História recente. A postura da oposição ao longo das eleições de 2010, que tentou pautar o debate eleitoral através de um discurso hipócrita de “moralidade”, fez parecer que estávamos diante de um embate eleitoral da República Velha.

Ao introduzir a discussão sobre o aborto no debate eleitoral, o candidato de oposição José Serra (PSDB) prestou um grande desserviço à democracia brasileira, uma vez que, de caso pensado, reduziu a questão ao aspecto religioso, esquecendo-se que o Estado brasileiro é laico e que o aborto deve ser visto como questão de saúde pública. A oposição, em conluio com a grande imprensa, tentou de tudo para impedir a cada vez mais previsível vitória de Dilma: de dossiês forjados a bolinha de papel, de supostos “vazamentos” de dados fiscais à tentativa desesperada de encontrar malfeitos praticados por pessoas de confiança de Dilma. De nada adiantaram todos esses artifícios: no dia 31 de outubro de 2010, Dilma foi consagrada nas urnas como a nova Presidenta do Brasil.

E nesse dia 1º de janeiro, a posse de Dilma coroa esse processo e enterra o discurso neo-udenista ecoado pela oposição ao longo do processo eleitoral. Outro simbolismo muito grande da posse da nova Presidenta da República diz respeito ao especial momento que vivemos no Brasil. Após os avanços inegáveis conquistados pelo país na Era Lula (2003-2010), Dilma capitaneará um Brasil novo, que vive um ciclo de crescimento econômico sustentável aliado à distribuição de renda e redução das desigualdades sociais. Ao que tudo indica, Dilma será a líder política que conduzirá nosso país ao posto de 5ª maior economia do mundo nesta década que se inicia, mas será também a Presidenta que eliminará de uma vez por todas a miséria ainda existente em nosso país, concluindo, assim, a grande obra de seu antecessor.

Os críticos da grande imprensa se apressam em dizer, baseados em seus exercícios de futurologia barata, que Dilma terá grandes dificuldades, já que não terá a mesma “sorte” que Lula, a saber, o crescimento vigoroso da economia mundial. Quem diz isso o faz por ser iletrado ou por pura desonestidade intelectual (ou ainda, como terceira hipótese, uma mistura das duas coisas): é inegável que a expansão da economia mundial ajudou bastante o Brasil nos últimos anos; porém, é um equívoco premeditado dizer que o mundo foi o motor para o crescimento brasileiro recente. De nada adiantaria o vigoroso crescimento da economia mundial se o Brasil não tivesse um modelo de desenvolvimento que fosse capaz de gerar crescimento econômico e distribuir renda ao mesmo tempo.

O mérito do crescimento econômico brasileiro na Era Lula é, neste sentido, do modelo de desenvolvimento implantado pelo governo federal e não do mundo, como querem fazer parecer a oposição e a imprensa. Podemos dizer que o boom do resto do mundo agiu como catalisador do nosso crescimento; contudo, esse crescimento já estava sendo gestado pelo desenvolvimentismo brasileiro na Era Lula. A Presidenta Dilma encontra uma economia global menos aquecida, é verdade; mas também encontra uma economia brasileira a pleno vapor, com o consumo e os investimentos em trajetória ascendente e uma geração cada vez maior de novos postos de trabalho. Não é que o Brasil seja uma ilha e independe do resto do mundo: todos sabemos que numa economia globalizada, problemas econômicos de uma parte impactam sobre o todo.

Mas sabemos também que quanto mais sólidos forem os fundamentos de uma economia, como é o caso da brasileira, mais diluídos serão os efeitos de crises em outras partes do mundo. Como a Presidenta Dilma assumiu o governo com o compromisso, reiterado em seu discurso de posse, de prosseguir como o modelo de desenvolvimento adotado no governo Lula, podemos dizer, sem medo de errar, que terá continuidade esse ciclo virtuoso de crescimento econômico aliado à justiça social. A “década de ouro”, em apologia à expressão cunhada no Rio de Janeiro para se referir ao decênio que se inicia, será para todo o Brasil e serão as mãos de uma mulher que em boa parte dessa década ampliarão as conquistas iniciadas na Era Lula e, ao mesmo tempo, farão reformas que ainda não foram iniciadas, deixando a sua própria marca.

Este blog diz sem medo de errar: Dilma Rousseff será melhor Presidenta que Lula. E essa opinião é embasada em três pontos. Primeiro, a nova Presidenta assume o comando de um país em muito melhor situação do que quando Lula assumiu. Aqui nos referimos não somente ao cenário econômico, que hoje é muito melhor, mas também ao aspecto social, pois quando Lula assumiu o governo a dívida social, que ainda continua grande, era naquela época estratosférica. Em segundo lugar, Dilma terá o apoio da maior parte do Congresso Nacional, o que lhe dará certa folga para aprovar reformas importantes para o Brasil. E em terceiro lugar, Dilma tem o olhar feminino que, sem demagogia nenhuma, não é melhor nem pior que o olhar masculino, mas é diferente. Por isso, seja bem-vinda, Presidenta Dilma!

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