Muitos analistas políticos partilham da idéia de que vice bom é aquele que não atrapalha a candidatura do cabeça de chapa. Se o nome do vice ainda tiver a capacidade de aglutinar votos, auxiliando, assim, o desempenho da candidatura, tanto melhor. Entre escolher um vice que não atrapalhe ou um que aglutine, a pré-candidatura de José Serra (PSDB) ainda passa por um momento de bastante indefinição neste quesito, ampliando ainda mais os burburinhos na ala oposicionista.
Neste sentido, o lançamento da pré-candidatura de Serra à Presidência da República, neste sábado, 10, ocorre em um contexto de interrogações sobre a composição da chapa que enfrentará a ex-ministra Dilma Rousseff (PT) na corrida ao Palácio do Planalto. Desde o início deste ano, existe uma pressão por parte dos partidos aliados ao PSDB para que o ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves, componha a chapa liderada por Serra. Aécio, contudo, parece esquivar-se dessa tarefa, o que abre a discussão no grupo oposicionista sobre qual nome seria o “second best” para a missão.
Aécio não se empolga com proposta de ser o vice
Quando abriu mão de disputar com Serra a indicação do PSDB para a candidatura à Presidência da República através de prévias, no final do ano passado, Aécio já sinalizava uma descrença com relação ao êxito tucano na disputa presidencial. Afinal de contas, os próprios correligionários destacam que Aécio é um político esperto e é bastante possível que o ex-governador de Minas já tenha vislumbrado àquela época um cenário mais favorável à candidatura governista, liderada por Dilma, do que à candidatura da oposição.
Além disso, Aécio tem uma eleição praticamente garantida ao Senado, tendo deixado o governo de Minas Gerais, na semana passada, com índices de aprovação bem elevados. Isso só complica ainda mais a situação para o lado de Serra, uma vez que a possibilidade de uma chapa “puro-sangue” parece ficar cada dia mais remota. Afinal de contas, dificilmente Aécio Neves trocaria uma vaga praticamente garantida no Senado pela função de vice em uma chapa que terá grandes dificuldades para vencer a eleição de outubro.
Em recentes entrevistas, o ex-governador de Minas sinaliza que “arregaçará as mangas” para auxiliar na campanha de Serra, mas desconversa quando indagado se será o vice do ex-governador de SP. Ao que tudo indica, Aécio está realmente disposto a concorrer ao Senado, o que tem gerado algum descontentamento em setores do PSDB, que apostavam no nome do tucano para uma guinada na campanha de Serra. O cálculo dos tucanos e dos próprios partidos aliados – DEM e PPS – era de que a aprovação a Aécio deveria se reverter em votos para Serra em Minas, segundo maior colégio eleitoral do país, compensando a vantagem de Dilma no Nordeste e no Norte.
DEM quer a vaga de vice se Aécio não aceitar
Enquanto Aécio leva a questão em “banho maria”, o DEM já articula um plano B para o caso do ex-governador mineiro confirmar sua intenção em concorrer ao Senado, preterindo, assim, a vaga de vice na chapa de Serra. Neste sentido, lideranças do DEM já sinalizam que reivindicarão a vaga de vice na chapa de Serra, já que são a segunda maior força política do bloco oposicionista, ficando atrás apenas do próprio PSDB. Contudo, a questão não se resolve de maneira tão fácil.
Isto porque, existe um movimento que está feito pela cúpula tucana no sentido de arregimentar novos aliados dentro da própria base de apoio governista. Tanto que, segundo notícias veiculadas pela imprensa esta semana, o PSDB estaria flertando com o PP e a moeda de troca para o apoio seria exatamente o cargo de vice na chapa de Serra. Rumores dão conta que o nome do senador fluminense Francisco Dornelles (PP-RJ) estaria sendo cotado para a posição de vice de Serra.
Considerando a hipótese de que estas informações não passem apenas de boatos, a situação também não fica mais clara pelo simples fato do DEM indicar um nome para ocupar a vaga de vice na chapa de Serra. Por que? Pelo simples fato de que não há um consenso dentro do próprio DEM sobre o nome que poderia ser indicado para a missão. Um critério razoável para a escolha do DEM seria a projeção nacional do nome – mas aí se esbarra novamente na pergunta: quem? O nome de maior projeção que o partido tinha era o do ex-governador Arruda, do DF.
Uma ala do DEM parece favorável à indicação da senadora Kátia Abreu, que, apesar de não ter grande projeção nacional, pode, pelo fato de ser mulher, fazer um contraponto à candidatura de Dilma, segundo o raciocínio de alguns demos. Contudo, essa indicação esbarra no fato da senadora ser da bancada ruralista, o que pode prejudicar ao invés de ajudar na candidatura de Serra. De qualquer forma, ao que tudo indica, sendo do DEM ou não, o nome do vice na chapa de Serra só deverá sair mesmo em junho, depois da realização das convenções.
Mas o que cabe analisar aqui é justamente o fato de que, além da dificuldade para encontrar um discurso, Serra também tem tido um enorme trabalho para encontrar um vice para sua chapa. E o problema não é o excesso de opções, mas sim a falta delas. Nada mais natural para uma candidatura que, a seis meses das eleições, não consegue definir qual será o seu discurso ou o seu projeto a ser apresentado aos eleitores. Neste ponto, a ausência de um bom nome para a vaga de vice, é apenas um dos problemas a serem administrados pela coordenação política da campanha demo-tucana.
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