Parece que nem os tucanos acreditaram na pesquisa Datafolha divulgada em 27 de março, segundo a qual Serra estaria nove pontos à frente de Dilma. Em tese, os números deveriam devolver a paz e o equilíbrio aos oposicionistas, que andavam completamente desorientados diante do crescimento contínuo da petista na preferência do eleitorado. Mas não foi isso o que aconteceu.
Na semana que sucedeu à divulgação da pesquisa, duas das mais destacadas lideranças do PSDB mostraram que os tucanos continuam tão atordoados quanto antes, incapazes de qualquer formulação política que não passe por ataques rasteiros, desonestos e anacrônicos. Somente o desespero pode explicar a insistência em atingir Lula, Dilma e o PT com acusações de autoritarismo, como fizeram o senador Sérgio Guerra e o ex-presidente Fernando Henrique num espaço de três dias – o primeiro na Folha, o segundo no Estadão.
As bobagens que escrevem e falam não se sustentam nem nos fatos do dia-a-dia nem na análise histórica da formação e consolidação do PT. Muito pelo contrário: nunca se exercitou tanto a democracia no Brasil como nesses anos de governo Lula – e não só na área da consulta popular, mas também na permanente busca pelo consenso entre as diversas forças políticas, sociais e econômicas do país. FHC e Guerra fingem que nada disso acontece.
FHC diz que, se Dilma vencer as eleições, o Brasil pode caminhar para um regime de partido único “como na China”. Raciocínio tosco, que pressupõe a transformação de todos os partidos que apóiam o governo Lula numa única sigla a partir de 2011 ou 2012. Como isso seria possível? Ele não esclarece, lógico, pois todo seu raciocínio é fundado em circunstâncias históricas que deixaram de existir há mais de 20 anos.
Sérgio Guerra é mais cômico ainda, afirmando que o PT busca “estabelecer a ditadura do pensamento único e do controle dos meios de comunicação”. Como se isso fosse possível no século 21, em que a internet vem rompendo todos os monopólios midiáticos (políticos e/ou econômicos) que impediam a livre produção e circulação de informações. Monopólios que, lembre-se, apóiam em peso a candidatura Serra.
Mais adiante, ele se supera ao dizer que “a diferença entre Chávez e o PT está apenas no uso da força policial”, esquecendo-se de que esta também é uma das principais diferentes entre os governos do PT e os governos tucanos, incluindo a notória violência repressora do Estado que até outro dia era administrado pelo candidato deles à presidência. Ao atacar o PT, Guerra produz uma ode à imprensa livre, da qual seriamos inimigos mortais. E proclama: “O arbítrio ou qualquer dos seus eufemismos têm que ser rechaçados com firmeza”.
Todo apoio a essa proposta. Que tal começar por São Paulo e Minas, onde há anos a mídia é amordaçada com todo tipo de eufemi$mo por democráticos governos tucanos? Que tal começar a discutir o arbítrio de certos jornais, que não precisam mais do que dez linhas para acusar, denunciar, processar, julgar e condenar quem vai contra seus interesses? Ou isso não é autoritarismo?
Texto de Francisco Rocha (Rochinha), um dos coordenadores da CNB, corrente interna do PT.
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