sábado, 3 de abril de 2010

Qual a diferença entre Dilma e Serra?




Uma das coisas mais incômodas – e falaciosas – que vêm sendo repercutidas recentemente pela imprensa brasileira diz respeito ao discurso de que a pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, e o tucano José Serra têm perfis muito próximos. Sem contar que se convencionou dizer que, independentemente de quem vença o pleito de outubro, os rumos do governo não tendem a mudar.

Nada mais mentiroso do que estas duas afirmações, que refletem, no fundo, a visão economicista de grande parte da mídia e também uma tentativa ardilosa desses segmentos de fomentar o debate administrativo ao invés do debate político, que é o que realmente interessa. Afinal de contas, mais importante do que se discutir estilos de gestão é se debater visão política de cada candidato, ou seja, o projeto ao qual ele está atrelado.

Até mesmo porque o candidato que vencer as eleições não governará sozinho: ele carrega consigo um projeto, uma forma específica de enxergar a política e a realidade brasileira. E no caso de Dilma e Serra, os projetos políticos são totalmente distintos! Enquanto a petista representa um projeto progressista, que procura fortalecer o Estado e implementar um desenvolvimento econômico com inclusão social, o tucano representa o projeto neoliberal, que procura minimizar o papel do Estado e deixar que o mercado se auto-regule.

Projetos políticos distintos
Neste sentido, é praticamente impossível não traçarmos uma comparação entre as aplicações desses projetos na História recente do nosso país: enquanto Serra é herdeiro do governo FHC (1994-2002), Dilma é herdeira do governo Lula (2002-2010). Isto por si só já nos mostra que o modelo de desenvolvimento a ser adotado no pós-Lula depende invariavelmente de quem vencer as eleições. Enquanto Dilma representa a continuidade do governo vitorioso do presidente Lula, Serra representa o retrocesso ao período de FHC.

E há quem goste de afirmar que o governo Lula foi uma continuação do governo FHC, especialmente na política econômica. Nada mais errado do que essa afirmação: o governo Lula é totalmente distinto do anterior. Enquanto o projeto desenvolvido e defendido pelos tucanos (FHC/Serra) se pautava na lógica do Estado Mínimo e no neoliberalismo privatizante, o projeto abraçado pelo petismo (Lula/Dilma) ampliou a presença do Estado e o colocou como indutor do investimento, acabando com a onda de privatizações do governo anterior.

Desenvolvimento com inclusão social
Fora o fato de que a política econômica desenvolvida pelo governo Lula avançou anos-luz com relação àquela que foi adotada no tucanato: verificamos o desenvolvimento de uma política industrial vitoriosa, favorecida pelos financiamentos dos bancos estatais (que tiveram papel crucial para que o Brasil superasse a crise internacional). Além do que, o projeto petista mostrou que é possível termos desenvolvimento com inclusão social, através de políticas públicas redistributivas (como o Bolsa Família), emancipatórias e de desenvolvimento regional.

Percebe-se, dessa maneira, que os resultados alcançados por um governo estão diretamente associados à visão política dos componentes desse governo, ou seja, o projeto político é determinante no processo de desenvolvimento de um país. Tentar colocar Dilma e Serra em um “saco só” é fruto de falta de conhecimento da imprensa acerca do projeto político de cada um ou, no limite, de desonestidade intelectual da mesma.

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