Se uma pessoa ainda tinha dúvidas sobre a identidade política dos principais postulantes à Presidência da República, após acompanhar as agendas de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) no sábado,10, certamente não ficou com nenhuma interrogação. Isto porque a análise de cada um dos eventos nos permite reconhecer com precisão qual a verdadeira identidade de cada um dos pré-candidatos, no que se refere ao projeto político e às intenções para o país caso sejam eleitos.
Neste sentido, balizaremos nossa análise segundo três critérios razoáveis que ajudam a definir a identidade política de uma candidatura: o grupo político que apóia o candidato, o projeto político destacado no discurso e a transparência em definir o lado em que está. Considerando esses fatores, poderemos concluir qual o DNA político presente na candidatura de Dilma e na de Serra e também o que a vitória de cada um dos pré-candidatos pode representar para o Brasil como um todo.
Dilma tem base de apoio mais ampla
No que se refere ao primeiro aspecto a ser analisado, podemos verificar, com base nas alianças políticas e também no formato dos eventos de sábado, que a pré-candidata do PT à Presidência da República tem uma base de apoio mais ampla e com maior representatividade social do que a base de apoio de Serra. Ao lado do tucano, figuram antigos quadros da política brasileira, ligados à tradição coronelista e ao status quo – verdadeiros lobos ou, a critério do leitor, “raposas” da política brasileira.
Serra tem um leque de apoio bastante fechado, restrito basicamente a três partidos: PSDB (o próprio partido do candidato), DEM (antigo PFL, partido originado da Arena) e PPS. As lideranças relacionadas a esses partidos representam o que há de mais atrasado na política brasileira: Fernando Henrique Cardoso, César Maia, Agripino Maia, Sérgio Guerra, Demóstenes Torres, Tasso Jereissati, Roberto Freire, Yeda Crusius e, até pouco tempo, o ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, que após os escândalos de corrupção foi desligado do DEM.
Enquanto isso, a base de apoio à pré-candidatura de Dilma possui um leque de apoio bem maior: além do PT, partido de Dilma e do presidente Lula, há o PMDB, o PCdoB, o PRB, o PDT, o PR e outros mais. Sem contar que a pré-candidatura de Dilma ultrapassa as fronteiras partidárias e recebe o apoio também dos movimentos sociais. Prova maior disso é o ato deste sábado, no qual Dilma recebeu o apoio das seis centrais sindicais, num feito inédito, que nem Lula conseguiu em nenhuma de suas candidaturas.
Projetos são totalmente opostos
A análise do discurso dos pré-candidatos e também dos seus coordenadores de campanha nos permite verificar que os projetos representados por cada uma das candidaturas são totalmente distintos. Neste sentido, o projeto de Dilma é o mesmo projeto representado pelo governo Lula, que veio sendo construído ao longo desses 30 anos de existência do Partido dos Trabalhadores e contou com a ajuda também dos partidos aliados. O projeto de Dilma é um projeto que alia desenvolvimento econômico com inclusão social.
Em contrapartida, o projeto de Serra é o mesmo projeto representado pelo governo de FHC: centrado na idéia do Estado Mínimo, o programa do tucanato baseia-se na reforma estatal e principalmente na cartilha neoliberal, que fomenta as privatizações e promove a dilapidação do patrimônio público. Com uma política econômica alheia à geração de empregos, o projeto tucano tem como conseqüência direta o aumento da desigualdade e da exclusão social. E vale destacar: basta recordar o governo FHC para verificar a inexistência de compromissos com a classe trabalhadora, especialmente no que diz respeito a políticas sólidas de geração e ampliação da renda.
No discurso feito no sábado, enquanto Dilma defendeu os avanços alcançados pelo governo Lula – sobretudo os referentes à geração recorde de empregos formais no período -, Serra e seus correligionários, especialmente FHC e Aécio Neves, atacaram o projeto desenvolvido pelo governo Lula. E, fazendo um mea culpa, até reconheceram avanços, que não foram creditados, contudo, ao governo Lula, mas a todos os governos que vieram antes dele, segundo o discurso tucano. Ou seja, além de criticarem, os tucanos ainda têm a postura arrogante de não reconhecer os avanços da Era Lula.
Serra é o anti-Lula disfarçado de pós-Lula
O terceiro ponto importante a ser analisado para nos ajudar a definir a identidade política de cada um dos principais players da disputa presidencial é a clareza deles na definição de que lado estão. Neste aspecto, novamente a ex-ministra Dilma sai na frente, já que não esconde de ninguém que sua candidatura representa a continuidade do projeto desenvolvido pelo governo Lula, a saber um programa de desenvolvimento com inclusão social. Dilma nunca negou o lado que está: sempre deixou muito claro que continuará o que Lula começou.
Serra, ao contrário, tem apresentado uma enorme dificuldade para assumir o lado que verdadeiramente está: em seus discursos, o tucano tenta passar a impressão de que é um “pós-Lula”. Contudo, muitas das vezes deixa escapar, assim como seus assessores mais diretos – Sérgio Guerra, FHC e lideranças do DEM e do PPS – que são na verdade o “anti-Lula”, que, caso vençam as eleições, não terão o compromisso político de levar adiante os projetos iniciados pelo governo Lula. Por um interesse eleitoreiro ou mesmo por vergonha, recusam-se a admitir que um governo Serra será um novo governo FHC.
O que se vê, portanto, com base na análise destes três critérios é que Dilma e Serra têm identidades políticas muito bem definidas e diametralmente opostas: enquanto Dilma representa as forças progressistas, do avanço com inclusão social, o tucano representa as forças do atraso, da privatização e da exclusão social. Se eleito, Serra não terá compromisso político nenhum de dar continuidade ao que Lula começou. Dilma, por sua vez, sendo eleita, não só dará continuidade como também aprofundará as reformas iniciadas pelo governo Lula.
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