sábado, 10 de abril de 2010

Entre o discurso e a prática: demagogia marca lançamento da pré-candidatura de Serra


Como já era esperado, o ato de lançamento da pré-candidatura do tucano José Serra à Presidência da República, ocorrido neste sábado, 10, em Brasília, foi marcado por um tom amplamente demagógico presente nos discursos das lideranças oposicionistas. Além do próprio Serra, discursaram ainda o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, do DEM, Rodrigo Maia e do PPS, Roberto Freire, além do ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves.

O primeiro a discursar foi Sérgio Guerra, coordenador da campanha de Serra, que seguiu uma linha baseada no ataque à ex-Ministra Dilma Rousseff. Guerra declarou que Serra tem as melhores condições de governar o país, pois não é um “improviso” e faz parte da construção histórica do Brasil. Além disso, Guerra também referiu-se indiretamente à Dilma dizendo que o povo brasileiro terá que escolher entre um “líder preparado” e uma “líder de nada e auxiliar burocrática” para governar o país.

Após Guerra, fez uso da palavra o presidente do DEM, Rodrigo Maia, que seguiu a mesma linha de ataques do tucano. E, finalmente, Roberto Freire, presidente do PPS, mostrou profundo desconhecimento da realidade brasileira ao afirmar que “o governo atual é de pouca ousadia e inerte”, dizendo também que é hora do “Brasil descobrir que pode mais e fazer de Serra presidente”. Sem ter muito o que falar, Freire acrescentou que a Justiça brasileira foi “desmoralizada pelo deboche” do presidente Lula.

FHC diz que Brasil pode avançar na velocidade tucana
O discurso do ex-presidente FHC também foi recheado de críticas ao governo Lula. Misturando um pouco de inveja com ego ferido por não ter conseguido o êxito que Lula conseguiu na presidência, FHC declarou que “o Brasil cansou de arrogância, de desprezo a todo mundo, desrespeito a lei, a autoconfiança ilimitada. O Brasil quer respeito, quer ver o malandro que roubou na cadeia. O Brasil cansou de ver pessoas responsáveis, passando a mão na cabeça de todo mundo. O Brasil do Serra é da decência, respeito a lei”.

O ex-presidente ainda declarou que o atual governo prometeu muito, mas nada fez, deixando bastante claro assim o lado que está: “fui ver o biodiesel e não achei, não achei a transnordestina, não vi transposição do Rio São Francisco. Serra mudou São Paulo, basta ver o Rodoanel, o metrô funcionando. Não se governo Brasil com ódio, desprezo, sem generosidade, qualidades discretas e eficiente que Serra tem”. Por fim, FHC declarou que “quem tem Serra e Aécio não precisa de mais nada” e que chegou a hora do Brasil “avançar na velocidade tucana”.

Após a fala de FHC foi a vez do ex-governador de Minas, Aécio Neves, fazer uso da palavra. Fazendo um retrospecto histórico, Aécio destacou que “a partir do conhecimento de nossa história, o povo pode escolher o seu futuro”, declarando que “ao PT, também não é lícito julgar que sua história se resuma aos 8 anos de governo”. Valendo-se de frases de efeito como “Serra tem os melhores valores” e “que sua voz possa ecoar por todo esse país”, Aécio terminou seu discurso insosso afirmando que o ex-governador de SP é o mais indicado para assumir a Presidência da República.

Demagogia predomina no discurso de Serra
Sob os aplausos dos demo-tucanos presentes, Serra iniciou o seu discurso fazendo um retrospecto dos últimos 25 anos, destacando, sobretudo, o papel do Plano Real e da Lei de Responsabilidade Fiscal para o equilíbrio macroeconômico. O presidenciável tucano declarou que: “não foram conquistas de um só homem ou de um só Governo, muito menos de um único partido. Todas são resultado de 25 anos de estabilidade democrática, luta e trabalho. E nós somos militantes dessa transformação, protagonistas mesmo, contribuímos para essa história de progresso e de avanços do nosso País”.

“O governo deve ouvir a voz dos trabalhadores e dos desamparados, das mulheres e das famílias, dos servidores públicos e dos profissionais de todas as áreas, dos jovens e dos idosos, dos pequenos e dos grandes empresários, do mercado financeiro, mas também do mercado dos que produzem alimentos, matérias-primas, produtos industriais e serviços essenciais, que são o fundamento do nosso desenvolvimento, a máquina de gerar empregos, consumo e riqueza”, declarou Serra, provavelmente se esquecendo que ele próprio não fez a lição que ensina nesse trecho.

O mais interessante é que quem viu o pré-candidato Serra dizer no seu discurso desse sábado que “se o povo assim decidir, vamos governar com todas e com todos, sem discriminar ninguém. Juntar pessoas em vez de separá-las; convidá-las ao diálogo, em vez de segregá-las; explicar os nossos propósitos, em vez de hostilizá-las”, achou bastante estranho ao lembrar de suas atitudes enquanto governador de SP, quando ele mandou a Polícia Militar reprimir professores grevistas, mostrando, assim, uma total indisposição ao diálogo.

Repetindo diversas vezes o bordão “o Brasil pode mais”, uma cópia fajuta do slogan da campanha do atual presidente norte-americano Barack Obama em 2008 (Yes! We can!), Serra apresentou-se como o “candidato da união”. Não apontou nenhum caminho novo, não apresentou nenhuma proposta mais concreta: apenas evitou bater de frente com o governo Lula, deixando escapar, contudo, nas entrelinhas do seu discurso, que era o oposto de Lula. Quem não conhece o seu discurso pode até acreditar nele, mas quem já viu de perto o modo de governar tucano sabe muito bem que a apresentação correta de Serra seria o “candidato da exclusão, da privatização e da enrolação”!

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