segunda-feira, 5 de abril de 2010

Lula dá aula de política e democracia no Canal Livre, da Band



Poucas são as vezes em que temos a oportunidade de ver um Estadista falando, com grande desenvoltura e conhecimento de causa, sobre o seu país e o resto do mundo. Na noite de domingo, 4, tivemos essa oportunidade: uma entrevista histórica do presidente Lula ao programa Canal Livre, da Band, na qual Lula respondeu às questões dos jornalistas (Joelmir Beting, José Luiz Datena, Fernando Mitre, Boris Casoy e Antônio Teles) sobre temas importantes do seu governo.

Mais que um balanço de gestão, o que Lula fez ali foi dar uma direção para o Brasil que, segundo ele, terá que continuar sendo seguida qualquer que seja o seu sucessor. Aliás, o presidente já iniciou a entrevista dizendo que o século 21 será o século do Brasil, pois nosso país adquiriu um respeito na comunidade internacional como nunca visto antes na nossa História. “Somos respeitados pelas nossas atitudes”, declarou Lula, descrevendo a postura da nova política externa do país.

A dimensão real do papel que o país deve assumir no mundo nos próximos anos passa, de acordo como presidente, na própria compreensão de liderança – “para ser líder é preciso agir com autoridade: tem que se respeitar e respeitar aos outros”, declarou Lula. Neste aspecto, o presidente destacou sua excelente relação tanto com os países desenvolvidos, como Estados Unidos e países europeus, como com países da África, Ásia e América Latina, que são secundarizados em importância pelos países desenvolvidos.

Um novo modelo de política externa
A necessidade de se estabelecer uma política internacional baseada no diálogo é um dos pilares centrais do novo paradigma de política externa desenvolvido pelo governo Lula. O presidente deixou claro na entrevista que um chefe de Estado não pode e não deve isolar um outro país sem antes esgotar todos os argumentos possíveis no diálogo, citando, nesse ponto, o exemplo do Irã. Para Lula, a postura dos países desenvolvidos com relação ao Irã não tem sido adequada, justamente pelo fato destes países não ouvirem o lado do Irã.

Ao apresentar este novo modelo de política externa que amplia as possibilidades de diálogo e de parceiros do país, Lula também destacou qual deve ser o novo papel da ONU (Organização das Nações Unidas). Para Lula, “quando o Brasil briga pela reforma da ONU é porque hoje ela não representa a ONU do século 21. A geopolítica mudou desde que a ONU foi criada, em 1948: cadê a África representada na organização, cadê os outros países do continente asiático?”. O presidente deixou claro que defende não só uma maior representação do Brasil na nova ONU, como também desses países que historicamente vêm sendo deixados em segundo plano pelas nações desenvolvidas.

Lula também deixou claro que a essência desse novo modelo de política externa é que “o Brasil precisa pensar grande”. Respondendo a uma questão do jornalista Ricardo Boechat sobre as viagens presidenciais desde o começo do mandado, Lula disparou: “o papel do Brasil não é pensar pequeno, é pensar grande”, apresentando ao jornalista, com uma desenvoltura e habilidade características de um grande Estadista, os números amplamente favoráveis dos acordos comerciais realizados ao longo dessas viagens. Lula emendou: “em um mundo globalizado não existe espaço para um Presidente ficar parado, esperando a sorte passar por aqui”.

Um pacto de desenvolvimento com inclusão social
Além de uma compreensão profunda da nova configuração geopolítica internacional, Lula também mostrou ao longo de toda a entrevista um entendimento profundo dos principais problemas internos do Brasil e do que vem sendo feito para solucioná-los. Perguntando por Boris Casoy sobre a questão do “gargalo” em infra-estrutura, o presidente Lula fez um retrospecto histórico mostrando que o país ficou 25 anos sem investimentos nessa área.

Durante o seu governo, somente com o PAC 1 foram investidos R$ 632 bilhões para o setor de infra-estrutura e, até 2014, deverão ser investidos mais R$ 962 bilhões no setor através do PAC 2, lançado pelo governo na semana passada. Lula utilizou como exemplo a malha ferroviária no Brasil: enquanto em 17 anos (governos Sarney, Itamar e FHC), foram construídos em todo o país 215 Km de ferrovias, somente nestes pouco mais de 7 anos de governo Lula já foram construídos 1.500 Km de ferrovias.

O presidente também mostrou uma grande preocupação com a questão de inovação tecnológica: “o Brasil tem que ser nos próximos 15 anos um exportador de inteligência e não somente de minério de ferro”. Além disso, Lula falou dos investimentos previstos no PAC 2 para resolver a questão da mobilidade urbana nas grandes cidades e destacou também a importância de decisões políticas para a vida da população em geral, como o aumento de 74% do salário mínimo sem ocasionar inflação.

“Não brinco com democracia”
Um dos melhores momentos da entrevista foi quando Lula destacou seu compromisso com a democracia no país. “A democracia verdadeira não é um pacto de silêncio que defende a mesmice e sim um momento de ebulição e efervescência na sociedade”, declarou o presidente, explicando, nesse momento, aos jornalistas a diferença entre uma tese e um documento partidário. Lula ainda aproveitou o gancho para dar uma alfinetada no Fórum do Instituto Millenium, ocorrido em São Paulo no início de março.

Questionado sobre o suposto controle da imprensa, Lula respondeu: “a única coisa que vocês nem qualquer outra pessoa neste país podem me acusar é que sofreram algum tipo de censura da minha parte”, emendando ainda que “é mais fácil vocês sofrerem censura dentro da própria redação do que da parte do governo”. O presidente ainda declarou que: “existem três setores que podem controlar a imprensa hoje: na televisão, o telespectador; no rádio, o ouvinte; e no jornal, o leitor”.

Lula fez questão, ainda de ressaltar, que aprendeu “a não brincar com a democracia: a democracia é um valor incomensurável” e emendou: “brincar com a democracia eu não brinco, porque já vivi sem ela e sei muito bem como que é”. E dentro desse espírito democrático, o presidente disse que tratará todos os candidatos à Presidência em condições de igualdade, mas também declarou que “depois do meu expediente, aí eu tenho candidata e vou pedir voto para ela”.

“O amanhã vai ser melhor que o hoje”
O presidente disse que “está convencido que Dilma será a próxima presidente do país” e que ele, depois que sair do cargo, “continuará sendo um militante político”. Lula disse ainda aos jornalistas que eles terão uma extraordinária surpresa com a pré-candidata Dilma Rousseff, pois ela reúne duas importantes características: competência administrativa e ausência de rancor ou ressentimento. Sobre o futuro do país, Lula se autodenominou um otimista: “eu acredito que o amanhã vai ser melhor que o hoje: o Brasil não vai parar mais”.

Mais uma vez o presidente Lula demonstra sua enorme capacidade de liderança e uma compreensão extraordinária da realidade brasileira e internacional. Certamente, Lula já entra para a História como o presidente que conduziu o país a um papel de protagonismo internacional, ensinando o Brasil a pensar grande e a ser, de fato, um país grande!

Nenhum comentário:

Postar um comentário