sexta-feira, 16 de abril de 2010

Qual o papel de Marina Silva na disputa presidencial de 2010?



Desde que começou a flertar com o PV e, posteriormente, quando trocou o PT, no qual estava há 29 anos, pela legenda “verde”, a senadora Marina Silva iniciou uma série de críticas, ainda que sutis, ao governo Lula e também ao Partido dos Trabalhadores. Quando aceitou a proposta do PV para ser a candidata verde à Presidência da República, Marina passou a adotar um comportamento que já deixava transparecer qual seria o seu papel na disputa presidencial de 2010.

Engana-se quem pensa que a senadora tem como papel central trazer a agenda ambiental para o debate entre os postulantes ao Palácio do Planalto. Os movimentos recentes de Marina Silva, seja através das críticas ao governo Lula e ao Partido do qual fez parte por quase três décadas ou por sua aproximação a setores demo-tucanos, nos revelam que a candidatura “verde” tem um papel muito mais ligado a engrossar o coro daqueles que dilapidaram o nosso país, por meio das privatizações, das políticas neoliberais e da falta de comprometimento com a inclusão social.

Antes de tudo, faz-se necessário um esclarecimento: as críticas à pré-candidata do PV em nada têm a ver com sua saída do Partido dos Trabalhadores, afinal de contas esse é um direito de Marina. O primeiro problema que este blog constata diz respeito ao fato dela ter se sujeitado ao jogo de um partido – o PV – que notadamente está a serviço dos setores demo-tucanos, que representam as forças do atraso na política brasileira. Ao fazer esse movimento, Marina deixou claro que estava mudando de lado, ao contrário de outras figuras que também saíram do PT – como Luiza Erundina (PSB), por exemplo – mas que continuaram na esquerda.

Aproximação de Marina com demo-tucanato
Feita esta ponderação, passemos a analisar então o papel de Marina nesta disputa presidencial. Em primeiro lugar, devemos destacar a aproximação da senadora ao demo-tucanato. Essa proximidade fica muito evidente na aliança feita no estado do Rio de Janeiro, onde o PSDB apóia a candidatura do verde Fernando Gabeira ao governo do Estado, mesmo este sendo palanque de Marina Silva no primeiro turno. De acordo com matéria do Estadão desta sexta-feira, “o PSDB concorda que o deputado [Fernando Gabeira] faça campanha para a pré-candidata do PV à Presidência, Marina Silva”.

A reportagem do Estadão ainda deixa claro que os tucanos “acreditam que Gabeira é o melhor palanque para Serra”. Essa aproximação do PV, de Marina Silva, ao demo-tucanato não ocorre somente no Rio de Janeiro: no Rio Grande do Norte, por exemplo, o Partido Verde deverá apoiar a candidatura de Rosalba (DEM) ao governo do Estado, que também é apoiada pelos tucanos. No Estado de São Paulo, embora o PV deva ter candidato próprio ao governo do Estado, especula-se que num eventual segundo turno, o partido feche apoio aos candidatos do demo-tucanato, a saber Geraldo Alckmin na esfera estadual e Serra no plano nacional.

A coluna “Pensata", do jornalista Kennedy Alencar, publicada na Folha de São Paulo nesta sexta-feira, 16, faz uma análise bem interessante sobre essa aproximação de Marina e Serra. “Pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Serra faz gestos a fim de tentar assegurar o apoio de Marina Silva (PV) num eventual segundo turno contra Dilma Rousseff (PT)”, já sinaliza o artigo, que também já aponta para o fato de que Serra “numa segunda etapa, poderá ter Marina em seu palanque”.

Marina deve atuar para desgastar o PT
O trecho mais interessante da coluna de Kennedy Alencar é este: “gente do PSDB com experiência em arrecadação de recursos tem dado conselhos a Marina e a sua equipe. Interessa a Serra viabilizar uma candidatura Marina razoavelmente sólida no primeiro turno. Para isso, são necessários recursos que o universo de financiadores não está disposto a fornecer a uma candidata que, aos olhos de hoje, não chegará ao segundo turno”. Agora a pergunta: qual o interesse de Serra de fortalecer Marina no 1º turno? “Na visão do tucano, daqui até outubro, a senadora do PV do Acre atuará mais no sentido de desgastar o PT do que o PSDB”, avalia Kennedy Alencar.

Essa impressão de Serra, segundo o artigo, se daria pelo fato de que “ele sabe que Marina tem objeções a Dilma, fruto do tempo em que ambas travaram disputa no ministério de Lula”. Isso explicaria também a onda de críticas que Marina tem disparado ao governo Lula e também a pré-candidata do PT: “nas entrelinhas, fica evidente certa mágoa da senadora em relação a Dilma nas disputas arbitradas por Lula”. O que se percebe, neste sentido, é que Marina, apesar de sua biografia de lutas em prol do meio-ambiente, deve servir de “língua de aluguel” dos demo-tucanos nesta eleição.

Afinal de contas, não fosse esse o seu papel, o que justificaria sua aproximação do demo-tucanato em vários estados? Segundo a coluna de Kennedy Alencar “já houve gente dizendo ao PV que o tucano [Serra] a considera uma ministra dos sonhos para o Meio Ambiente, caso o PSDB conquiste a Presidência da República”. Agora, resta esperar para conferir se Marina de fato se renderá às ofertas demo-tucanas, apagando toda uma biografia de lutas, ou deixará que sua consciência fale mais alto e não se preste a servir de “língua de aluguel” às forças do atraso deste país.

Nenhum comentário:

Postar um comentário