domingo, 4 de abril de 2010

FHC e a tentativa de ressuscitar a política do café-com-leite



Misturando uma reconstrução rasa do processo de Diretas Já, deflagrado no Brasil na primeira metade da década de 80, e um discurso que beira o monólogo narcisista, o artigo ”Hora de União” do ex-presidente FHC, publicado pela Folha de São Paulo e pelo Zero Hora neste domingo, 4, parece querer convocar os brasileiros a uma reprodução da política do Café-com-leite, que dominou a cena política na República Velha. No artigo, FHC tenta desconstruir o governo Lula, ignorando totalmente os avanços do mesmo, e chama as forças oposicionistas a se unirem – sobretudo através da dobradinha São Paulo/Minas Gerais – para impedir a vitória da pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff.

É imperativo, pois, que as oposições se unam. A aliança entre Minas e São Paulo – que se pode dar de forma variada – salvou-nos do autoritarismo no passado. Uma candidatura que fale a todo o país, que representa a união das oposições e busque o consenso na sociedade é o melhor caminho para assegurar a vitória”, declara o ex-presidente em seu artigo, sem perceber o quão contraditório é esse discurso. Ora, como uma candidatura pode falar a todo o país se ela se origina apenas da construção política feita a partir de dois Estados?

O que FHC propõe nas entrelinhas é a reprodução fajuta da política do Café-com-leite, na qual as oligarquias paulistas e mineiras se revezaram no poder e decidiram os rumos de todo o país até a Revolução de 1930. Ou seja: além de não reconhecer os avanços do governo Lula, o ex-presidente ainda propõe um retorno ao passado, caracterizado pela visão elitista de que São Paulo e Minas Gerais, juntos, saberiam o que é ou não melhor ao país.

FHC aponta autoritarismo onde não existe
E as sandices do ex-presidente-sociólogo não ficam por aí. FHC dispara, em seu artigo, contra o governo do presidente Lula, atribuindo-lhe um caráter autoritário: “a tendência que vem marcando os últimos 18 meses do atual governo nos levará, pouco a pouco, para um modelo de sociedade que se baseia na predominância de uma forma de capitalismo na qual governo e algumas grandes corporações, especialmente públicas, unem-se sob a tutela de uma burocracia permeada por interesses corporativos e partidários”.

Acusando o PT de ser “um partido cujo programa recente se descola da tradição democrática brasileira, para dizer o mínimo”, o ex-presidente ainda arrisca a dizer que “pouco a pouco, o ‘pensamento único’, agora sim, esmagará os anseios dos que sustentam uma visão aberta da sociedade e se opõem ao capitalismo de Estado controlado por forças partidárias quase únicas infiltradas na burocracia do Estado”. Agora, vale destacar que, o que FHC chama de “autoritarismo burocrático” nada mais é do que o fortalecimento do Estado brasileiro.

Mas não poderíamos esperar visão diferente de FHC: afinal de contas, o ex-presidente e, ao que tudo indica também ex-sociólogo, é defensor ferrenho da idéia do Estado Mínimo, segundo a qual o mercado deve se auto-regular e o Estado assumir papel coadjuvante. Aliás, não nos esqueçamos que todo o governo do tucanato foi marcado por essa política, cujos efeitos desastrosos para a economia e sociedade brasileira todos nós conhecemos. Privatizações, dilapidação do patrimônio público, defesa dos interesses estrangeiros contra os interesses nacionais: é isso que FHC quer.

Vaidade e despeito do ex-presidente
O que o ex-sociólogo insiste em reduzir a “interesses partidários”, na verdade tem outro nome: é um projeto de desenvolvimento com inclusão social, coisa que passa longe das cartilhas tucanas. Afinal de contas, o que o governo Lula fez foi tratar o Estado como indutor do planejamento e investimento, permitindo não somente um excelente desempenho da economia brasileira, como também a melhora generalizada do padrão de vida dos brasileiros. E os números são abundantes para mostrar isso!

O ex-presidente tenta apontar autoritarismo onde não existe: o governo Lula e a visão política do PT primam pela democracia e acreditam ser a democracia o caminho para as conquistas sociais e econômicas. Prova maior disso são os resultados alcançados pelo governo Lula, todos eles dentro dos caminhos democráticos. O discurso de FHC, nesse sentido, beira no mínimo o despeito de um intelectual que não conseguiu os resultados que um ex-metalúrgico obteve na presidência. Talvez por isso, a cúpula tucana queira esconder a todo custo o ex-presidente.

2 comentários:

  1. Já que o FHC desenterrou a "Política do café-com-leite", a minha sugestão para o próximo artigo dele é: "O que é bom para os USA é bom para o Brasil."

    Um abraço

    Jesus Divino Barbosa de Souza
    jesusprevidencia@hotmail.com
    http://twitter.com/JesusDivino
    http://jesusprev.zip.net

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  2. Análise lúcida do que está em jogo. Serra, FHC e os demos representam a antiga aliança antigetulista e a tentativa de impedir reformas sociais no país. A velha oligarquia quer voltar ao poder. Parabéns

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