sábado, 27 de março de 2010

Opinião: Somos todos iguais, braços dados ou não



Duas imagens: retratos de dois momentos históricos distintos, separados por mais de 40 anos, mas que parecem conter o mesmo espírito. A primeira, dos anos de chumbo, mostra a repressão violenta do Exército contra um jovem, taxado de comunista como tantos outros naqueles anos, por não concordar com a ditadura que reinava no país. A segunda, de 26 de março de 2010, mostra um professor carregando um PM ferido, em meio a uma violenta repressão da Polícia contra uma manifestação pacífica de professores em greve.

É impossível olhar essa segunda foto e não lembrar imediatamente dos versos de Geraldo Vandré, em uma das mais belas canções da música brasileira: “Pra não dizer que não falei das flores”: “Pelas ruas marchando indecisos cordões/Ainda fazem da flor seu mais forte refrão/E acreditam nas flores vencendo o canhão”. Na manifestação de março de 2010 poderia-se muito bem substituir a palavra “flor” pela palavra “caneta”, já que ali em frente ao Palácio dos Bandeirantes milhares de professores protestavam pacificamente por melhores salários.

Segundo estimativas da Apeoesp (Sindicato dos Professores) estavam ali 25 mil professores, pacificamente, reivindicado por seus direitos. Contudo, a PM logo entrou em choque com os manifestantes e, em meio ao tumulto, um fotógrafo da Agência Estado consegue esta foto: um professor ajudando a um soldado ferido. Um educador estendendo a mão a um semelhante, mostrando que "somos todos iguais, braços dados ou não" como também diz a letra de Vandré.

Repressão da PM de Serra contra os professores
E o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), o que fez? Recebeu o comando de greve em seu gabinete, para ouvir as reivindicações e dialogar? Não, nada disso. Sabendo que o sindicato da categoria havia convocado esse ato, Serra, com a desculpa de inaugurar obras, fugiu para o interior de São Paulo. Virou as costas aos professores! E se não bastasse, a PM de Serra ainda agrediu violentamente os manifestantes, com bombas de efeito moral, gás de pimenta, cassetetes e escudos.

O saldo? Segundo informações da imprensa, 16 feridos, entre professores e policiais. E mesmo diante de tanta truculência, assessores de Serra dizem que o governador não dialogará com os professores enquanto estiverem em greve. Diálogo? Esta palavra simplesmente não consta no dicionário político do presidenciável tucano. Por outro lado, repressão, desrespeito e violência são verbetes constantes em sua cartilha.

Há quem diga que os manifestantes são baderneiros e vândalos. Não, não são. São pais e mães de família, filhos de tantas mães e tantos pais, são esposas, maridos, irmãos, que estão exercendo seus direitos e lutando por respeito e dignidade na profissão que escolheram. Que estas cenas não saiam da cabeça da população brasileira, que este ano novamente exercerá sua vontade soberana e elegerá um novo presidente para o Brasil. Será que um candidato que permite que seu governo trate assim os trabalhadores, merece ser Presidente?

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