sábado, 4 de dezembro de 2010

Metade dos brasileiros aprova privatizações: qual papel caberá à esquerda?

Um tema que vem recorrentemente ocupando certo protagonismo nas eleições presidenciais desde 1998, marcando sobretudo a polarização entre PT e PSDB, são as privatizações. E as eleições deste ano não fugiram à regra: embora o assunto tenha aparecido de maneira tímida na campanha do primeiro turno, tendo sido destacado apenas na internet, tão logo começou o segundo turno, o tema reapareceu com força total, ganhando desde as ruas até a campanha de rádio e TV de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).

O destaque deste tema na campanha foi alvo de intensas discussões no núcleo da campanha petista, como relatado pelo marqueteiro João Santana em entrevista à Folha logo após o segundo turno. De acordo com Santana, ao contrário de 2006, quando ele introduziu o tema na propaganda eleitoral, nestas eleições ele estava reticente, “mas havia um consenso, na cúpula da campanha, de que o tema ainda estava vivo”. E assim foi feito. Novamente, o tema “privatizações” voltou a pautar de forma incisiva as eleições no segundo turno.

Naturalmente, a discussão em torno deste eixo temático ocupou um bom espaço do debate político, mas, ao contrário de 2006, não foi o grande “carro chefe” da disputa no segundo turno. Teria o interesse da população diminuído pela discussão em torno das privatizações, que pautou o embate esquerda-direita na última década? Pesquisa feita pelo Latinobarômetro e divulgada na sexta-feira, 3, revela um movimento interessante em toda América Latina e também no Brasil: um aumento da aceitação das privatizações dentre a população.

Metade dos brasileiros aprova privatizações
De acordo com os dados do Latinobarômetro, 36% dos latino-americanos declararam que as privatizações têm trazido, em geral, benefícios à sociedade. Para se ter uma idéia, no início da década, em 2001, esse percentual era de 29%. Dentre os brasileiros, o sentimento de que as privatizações trazem benefícios ao país são ainda maiores – de 51%, segundo a pesquisa. Em 2001, penúltimo ano do governo FHC, responsável pelas privatizações de várias estatais, apenas 39% dos brasileiros viam o tema de forma positiva.

É interessante notar ainda que esse elevado percentual de brasileiros que consideram as privatizações benéficas não é um ponto fora da curva, resultante do debate eleitoral: trata-se de um crescimento sistemático que vem sendo verificado ao longo das últimas décadas. Nesse mesmo sentido, cresce o percentual dos que declaram que estão satisfeitos ou muito satisfeitos com os serviços privatizados: esse total chega a 52% em 2010, contra 26% no começo da década. Em toda a América Latina, apenas 30% dos entrevistados se dizem satisfeitos com os serviços privatizados.

Com esse patamar, o Brasil é o país da América Latina cuja população mais está satisfeita com os serviços privatizados. Uma questão que se faz necessária aqui é: diante deste quadro, pode-se dizer que o tema “privatizações” não é mais passível de exploração no que diz respeito ao debate político-eleitoral? Para pensarmos sobre este tema, temos que ir além do aspecto eleitoral, de caráter mais imediatista e pragmático. Pensando pela ótica da política, essa crescente “aceitação” das privatizações pelos brasileiros mostra que a esquerda não tem sido convincente com relação a este tema na disputa política.

Vejamos: nos últimos oito anos, tivemos uma redução imensa do número de estatais privatizadas – pode-se dizer que não houve privatizações no Brasil nos últimos anos – e o desempenho das estatais melhorou substancialmente, sobretudo graças a uma nova concepção de Estado do governo Lula. Não obstante a isso, cresceu o percentual de brasileiros que consideram as privatizações positivas e que estão satisfeitos com seus resultados. Isso mostra, evidentemente, uma falha dos partidos de esquerda ao fazer esse enfrentamento junto à população, afinal de contas muitas vezes no debate político o tema é discutido de forma superficial.

Para que fique claro: não são poucas as vezes que, num debate em torno do tema, um esquerdista convicto coloque em seu adversário a pecha de “privatista” (sempre em caráter pejorativo) e a discussão fica por aí mesmo. Quem assiste e não conhece a fundo o tema, acaba “assimilando” a idéia de que “ser privatista não é coisa boa”, mas também não entende o porquê. Daí a importância de se fazer uma intervenção qualificada sobre o tema, a começar pela própria concepção de Estado que cada partido tem. É preciso ir mais além da simples idéia de que “privatização não é boa porque vende o patrimônio público”.

Esquerda tem que renovar discurso
Agora, paralelamente a essa discussão, que é necessária porque diz respeito à essência do projeto político, é preciso que os partidos de esquerda também renovem o seu repertório e não fiquem reféns desse “eterno” debate em torno das privatizações. À medida que o governo federal vai implementando transformações estruturais na sociedade, provocando a ascensão social, é mais que natural que novas demandas apareçam. O que era uma bandeira de luta há cinco anos não será mais daqui uma década, pois é esperado que aquela reivindicação já tenha sido conquistada dentro desse espaço de tempo.

A política trabalha com o futuro – e talvez seja esse o fato que a torna mais fascinante. Na arena política, onde a disputa pela construção da hegemonia é constante, se sai melhor aquele partido que consegue estabelecer um diálogo mais amplo com a sociedade, compreendendo suas demandas e, ao mesmo tempo, dando respostas adequadas a elas. Por isso, não se renovar é o começo da ruína de um agrupamento político; e renovação necessariamente passa por novas agendas e pela busca de uma interlocução maior com a sociedade, que está em constante transformação. Ou seja, se um partido ou grupo não é capaz de acompanhar essa transformação, então inevitavelmente ele vai representar cada vez uma menor parcela dessa sociedade.

Por tudo isso, é necessário que a esquerda brasileira busque novas intervenções na sociedade, sendo capaz de dar respostas concretas às diversas demandas sociais e tendo em mente que o que era demanda até ontem, amanhã já pode não ser mais (pela própria mudança estrutural da sociedade). Continuar apostando, dessa maneira, que o debate em torno das privatizações será sempre suficiente para diferenciar o projeto da esquerda com o projeto da direita é, no mínimo, pura ingenuidade. É preciso, como dito anteriormente, que se faça sim essa demarcação, mas é mais necessário ainda que se renove o discurso e se encontrem novos pontos de interlocução.

4 comentários:

  1. Concordo que o tema sobre as privatizações foi tratado de forma superficial nessa eleição.As pessoas que são favoráveis as privatizações geralmente alegam que os serviços prestados por algumas empresas que foram privatizadas se tornaram melhores do que quando ela era pública,outro argumento que ouço dos defensores das privatizações e que a privatização ajuda a diminuir os gastos do governo e que privatização significa modernização e desenvolvimento.Me posiciono contra as privatizações, porque algumas empresas privatizadas se tornam verdadeiros carteis em um ramo que deveria ser responsabilidade do estado, sem falar dos preços exorbitantes que são cobrados pelos serviços prestados.O sistema de telecomunicações que foi privatizado na era FHC teve o êxito de conseguir facilitar o acesso ao aparelho telefonico,mas em compensação os serviços prestados são uns dos piores do mundo, sem falar que as tarifas que são cobradas são enormes.Em última ánalise penso que as privatizações trazem mais prejuízos do que benefícios para o país.
    Abraços!

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  2. Leandro,estou aprendendo bastante com a leitura de seus artigos,e gostaria de sugerir como pauta um artigo que aprofunde sobre o tema das privatizações,falando tanto sobre prós como os contras das privatizações para a economia.
    Abraços!

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  3. Olá Alan,

    É exatamente este o ponto: as privatizações de fato trazem mais prejuízos que benefícios. O fato da parcela da população que aprova as privatizações estar crescendo nos últimos anos mostra que nós - da esquerda - não estamos fazendo uma intervenção suficientemente capaz de mostrar isso à população.

    Temos que politizar nosso discurso e, claro, renova-lo também. Afinal de contas, as demandas sociais são dinâmicas e um partido ou grupo político deve ser capaz de entendê-las e acompanha-las.

    Obrigado pelo comentário e pela sugestão de pauta! Farei sim um artigo tratando mais a fundo da questão das privatizações!

    Forte abraço!

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  4. O POVO APROVA A PRIVATIZAÇAO POR QUE E BURRA,
    PRIVATIZAÇAO SO GERA PREJUIZOS

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