quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Por que o dono do supermercado não consegue mão-de-obra para inaugurar filial?

Conversando com um amigo nesta tarde, soube da seguinte história: um dono de supermercado, conhecido dele, está com uma nova filial pronta para ser inaugurada, mas está sem condições de abrir o novo estabelecimento. Por que? Por uma razão simples: ele não encontra mão-de-obra para empregar na filial de seu supermercado. Embora a história pareça inusitada, deve-se dizer que ela tem se tornado mais comum do que se imagina: de um lado, empresas abrindo vagas aos montes e tendo dificuldade para efetuar contratações e, do outro, trabalhadores podendo escolher o emprego que mais lhe agrada.

Até algum tempo atrás, este tipo de coisa era algo totalmente inimaginável no Brasil: na época em que a economia não crescia e as fileiras do desemprego eram engrossadas a cada dia, uma vaga de trabalho era disputada a tapa por quem estava desempregado. Era a época em que os trabalhadores se submetiam a salários bem baixos e que benefícios eram considerados um “luxo”. Pois bem, com a expansão da economia e a política econômica orientada ao desenvolvimentismo, que foram as grandes marcas do governo Lula, este cenário foi profundamente alterado e hoje já podemos ver cenas como esta relatada a este blogueiro.

Bom momento da economia expande nível de emprego
O Brasil vem vivendo nos últimos anos um processo de crescimento consistente da economia, resultando, assim, na geração de nada menos que 15 milhões de novos empregos formais desde 2003. De um lado, a política de valorização do salário mínimo e o aumento da renda dos trabalhadores propiciaram um ciclo virtuoso na economia brasileira: com o aumento dos rendimentos houve uma expansão da demanda, que acabou por impulsionar os mais diversos setores da atividade econômica. Políticas setoriais específicas também contribuíram para a dinamização da economia brasileira, levando muitas empresas a ampliarem ainda mais suas contratações.

Com as novas contratações e o conseqüente aumento do contingente de ocupados, a massa de renda tem novos aumentos (acompanhando o crescimento do rendimento médio dos trabalhadores), o que impulsiona a economia e retroalimenta todo o ciclo. Se formos descrever aqui todas as medidas tomadas ao longo dos últimos anos que contribuíram para esta escalada de prosperidade econômica, necessitaríamos de todo espaço deste blog. Contudo, podemos elencar medidas importantes, como a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), durante a crise de 2008/2009 e que ajudou a impulsionar o consumo no Brasil, como também as medidas de expansão do crédito para consumo.

Além do que, não se pode deixar de destacar as medidas tomadas pelo governo para expansão do crédito ao setor produtivo, que trouxe novamente à cena o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), só que agora numa posição de protagonismo, induzindo o investimento privado. Programas do governo, como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o Minha Casa, Minha Vida estimularam também setores específicos da economia, como a construção civil, por exemplo. Este mesmo amigo, que é engenheiro civil, relatou que sua empresa está tendo que pagar aos empregados rendimentos 30% acima do estabelecido pelos sindicatos. Como a oferta de vagas é grande no setor, os trabalhadores obviamente optam pelo salário maior – se a empresa não quer ficar sem mão-de-obra tem que aumentar o salário do funcionário.

É o mesmo caso do dono do supermercado que não encontra pessoal disposto a trabalhar em sua nova filial. Como as vagas, sobretudo na base da pirâmide do trabalho, têm se ampliado consideravelmente, os trabalhadores podem escolher entre diversos empregos. Agora, ao contrário de outras épocas, o trabalhador, ainda que desempregado, não se sujeita a qualquer nível salarial – pelo contrário, além do salário, o trabalhador tem o poder nos dias de hoje de barganhar benefícios, como vale transporte, vale alimentação, assistência médica etc. Assim, não basta que a empresa ofereça um salário maior – ela precisa oferecer também benefícios que atendam às expectativas dos trabalhadores.

Aumento do poder de barganha do trabalhador
O interessante é que este poder de barganha do trabalhador está chegando inclusive ao universo dos chamados “trabalhadores temporários”, aqueles que são contratados no final do ano durante um tempo pré-estabelecido apenas para fazer frente ao aumento da demanda comum na época das festas. Reportagem recente do Jornal Hoje, da Rede Globo, revelou que muitas lojas estão com grandes dificuldades para encontrar temporários justamente porque os trabalhadores estão pleiteando os mesmos benefícios que são oferecidos aos contratados via CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Essa é uma realidade extraordinária e mostra como as mudanças do governo Lula têm beneficiado diretamente a classe trabalhadora.

É claro que ainda existem alguns problemas que precisam ser equacionados, sendo que boa parte deles se concentra em áreas mais elevadas da pirâmide de trabalho. Um dos grandes problemas que vêm sendo amplamente difundidos pelas centrais sindicais, e que são corroborados por pesquisas de instituições como o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos), diz respeito ao fato de empregadores de alguns setores, como os bancos, aproveitarem a elevada rotatividade de mão-de-obra para oferecerem níveis cada vez menores de salários de readmissão. Ou seja, algumas empresas demitem funcionários com salários maiores para contratar outros com um nível salarial menor.

Mesmo com estes desafios, a perspectiva é de que no próximo governo as políticas de incentivo ao setor produtivo combinadas com políticas que provoquem o aumento da demanda continuem elevando significativamente o nível de emprego. As empresas devem continuar contratando em ritmo crescente e quem ganha com isso, obviamente, são os trabalhadores, que podem escolher o trabalho que mais de adequa às suas pretensões salariais e de carreira. Vivemos, sem dúvida, uma nova era na economia brasileira, que deve cada vez mais produzir mobilidade social, ampliando a fatia da população denominada “classe média”. Ao que tudo indica, histórias como a desse dono de supermercado devem ser cada vez mais freqüentes, já que caminhamos, como recentes pesquisas vêm mostrando, para o pleno emprego da economia.

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