quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Ampliação da capacidade de refino do petróleo é estratégica, avalia presidente da Petrobras

Os planos da Petrobras para os próximos anos, sobretudo após a capitalização que transformou a empresa na segunda maior firma com capital aberto do mundo, foram o foco da entrevista do presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, nesta quarta-feira, 1º, no programa “Brasil em Pauta”. Gabrielli respondeu a uma série de questões feitas por emissoras de rádio de todo o Brasil, destacando, além das estratégias gerais da companhia, os planos de negócios para as diversas regiões e estados brasileiros, especialmente no que se refere à exploração do pré-sal.

E há que se destacar aqui que as dúvidas dos jornalistas foram muitas sobre o novo modelo de distribuição dos royalties, que está em tramitação no Congresso Nacional. No que se refere especificamente ao pré-sal, o presidente da Petrobras destacou que a sua exploração e produção já teve início em maio de 2009 na Bacia de Santos, de forma que a projeção para daqui cerca de um ano é de que a produção do pré-sal nesta área seja de 100 mil barris por dia. Em 2014, a perspectiva é de que esta produção mais que dobre somente nesta área, passando para 214 mil barris por dia.

De acordo com as projeções do presidente da estatal, o crescimento da produção do pré-sal nestas áreas já concedidas na Bacia de Santos deve ser geométrico, de forma que em 2020 a área produza 1,078 milhão de barris por dia. Se consideramos a produção da Petrobras e de suas parceiras, a produção do pré-sal nesta região será de 1,7 milhão de barris por dia em 2010. Isto revela um fato extraordinário: em apenas 10 anos, a produção do pré-sal na Bacia de Santos deve alcançar níveis que a Bacia de Campos demorou 45 anos para atingir em termos de produção do pós-sal.

Aumento da capacidade de refino é estratégico
Gabrielli ocupou boa parte da entrevista para falar também do que ele considera um dos grandes focos estratégicos da Petrobras nos próximos anos: a expansão das refinarias no país. Recentemente, o presidente Lula tem destacado que quer ver o Brasil, dentro de algum tempo, como exportador também de derivados e não somente de petróleo cru, como acontece hoje em dia. Embora alguns especialistas do setor afirmem que o investimento em derivados não é estratégico, já que suas margens de lucratividade são menores, Gabrielli reforça o ponto de vista do presidente Lula.

De acordo com o presidente da Petrobras, em 1980 a produção da estatal era de 181 mil barris por dia para um consumo 1 milhão de barris por dia. Era a época em que o Brasil estava longe de ser auto-suficiente em petróleo e dependia em larga escala da importação do óleo e de seus derivados. Naquele ano, a capacidade instalada de refino era de 1,38 milhão de barris por dia. Ou seja, havia uma capacidade ociosa de refino de quase 400 mil barris por dia. De lá para cá, tanto consumo quanto produção se expandiram, mas o refino cresceu a passos de tartaruga.

Gabrielli aponta, na sua entrevista, que naquele mesmo ano o Brasil construiu sua última refinaria, na cidade de São José dos Campos (Vale do Paraíba). Trinta anos se passaram e, em 2009, a produção do Brasil cresceu 10 vezes na comparação com 1980, atingindo 1,9 milhão de barris por dia. O consumo, por sua vez, dobrou para 2 milhões de barris por dia. A capacidade de refino, todavia, cresceu apenas 30%, para 1,8 milhão de barris por dia, de acordo com os números apresentados pelo presidente da Petrobras.

Este crescimento pífio na capacidade de refino ocorreu, segundo Gabrielli, pelo fato de que o Brasil ficou trinta anos sem construir uma refinaria nova, sendo que os investimentos no período foram feitos na recuperação e melhoria de refinarias já existentes. Dessa maneira, hoje o Brasil está no limite de sua capacidade de refino, necessitando da importação de diesel, querosene e gás liquefeito de petróleo. Diante desse quadro, é extremamente importante que a Petrobras amplie consideravelmente suas plantas de refino, a fim de atender a demanda interna sem recorrer a importações.

Nas projeções de Gabrielli, se o Brasil continuar com uma taxa de crescimento do PIB de 4% ao ano até 2020, o consumo estimado daqui dez anos será de 3,3 milhões de barris por dia, o que representa um patamar 65% superior ao atual. A produção esperada para 2020 é, por sua vez, de 4 milhões de barris por dia, ou seja, o dobro do que se produz hoje no Brasil. Sobre a questão da lucratividade, apontada por alguns especialistas, o presidente da estatal lembrou que a Petrobras é uma empresa voltada para o mercado brasileiro e o que se consome no Brasil são derivados e não o petróleo cru.

Além disso, embora a margem de lucro do refino seja mais volátil, como lembra Gabrielli, no Brasil temos uma certa estabilidade dessa margem, uma vez que o movimento de preços dos derivados no mercado interno não acompanha, no curto prazo, as oscilações de preço do mercado internacional. Esse alinhamento de preços se dá, segundo o presidente da estatal, apenas no longo prazo. Dessa forma, os argumentos de críticos que dizem que a expansão das refinarias não é estratética pelas suas reduzidas margens de lucratividade perdem sentido se consideramos tal realidade.

Participação no mercado de etanol
Outro ponto abordado por José Sérgio Gabrielli em sua entrevista diz respeito à participação da Petrobras no chamado etanolduto (ou álcoolduto), outra aposta do governo federal relacionada à matriz energética brasileira. O projeto logístico do etanolduto é multimodal, servindo para trazer o álcool de Goiás (região de Senador Canedo e Tinguá) até os portos de São Sebastião e Santos. Nesse sentido, a primeira fase do álcoolduto (que liga inicialmente Ribeirão Preto a Paulínia, no interior de São Paulo) já está em fase de implementação.

Segundo Gabrielli, paralelamente a isso, a Petrobras autorizou a Transpetro a adquirir 80 balsas e 20 empurradoras que vão viabilizar o transporte do álcool através da hidrovia Tietê-Paraná. Essa integração da rede de etanoldutos com a rede de hidrovia deve, na perspectiva do presidente da Petrobras, reduzir significativamente o custo logístico do etanol, sobretudo nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Com um menor custo, amplia-se a competitividade do produtor brasileiro de etanol, inclusive nos mercados externos. Sem contar que esse sistema logístico deve beneficiar também o meio-ambiente, pois reduzirá frota de caminhões nas rodovias.

Respondendo sobre a questão da perspectiva de abertura do mercado norte-americano para o etanol brasileiro nos próximos meses, Gabrielli destacou que, naturalmente, será muito bom para o Brasil. O presidente da Petrobras ressaltou, contudo, que a estratégia prioritária da estatal é voltada para o mercado interno de etanol e outros mercados internacionais, uma vez que o a mudança no mercado de etanol norte-americano (atualmente baseado no etanol do milho) é de longo prazo, já que envolve um complexo econômico muito grande dos produtores de milho.

Percebe-se, dessa maneira, que a perspectiva é de um crescimento vigoroso para a Petrobras ao longo da próxima década. Com a produção do pré-sal em ritmo crescente, sobretudo quando se iniciarem as operações na Bacia de Campos, a expansão das refinarias e a participação conjunta no mercado do etanol, a estatal brasileira deve se tornar, ao longo dos anos subsequentes, na maior produtora mundial de petróleo, como já tem sido apontado por alguns analistas de mercado.

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