sábado, 11 de dezembro de 2010

Mesmo com barreiras dos EUA, projeções são de forte expansão do mercado de etanol brasileiro

Apesar da perspectiva de que na próxima segunda-feira, 13, o Congresso norte-americano aprove a prorrogação das tarifas de importação e do subsídio do etanol, que estavam previstas para durar até o final deste ano, as projeções para o mercado de etanol brasileiro continuam muito boas. Naturalmente, o melhor dos mundos seria a extinção dessas barreiras comerciais impostas pelo governo dos Estados Unidos para a entrada do etanol brasileiro no mercado norte-americano, já que isso deveria ampliar consideravelmente as exportações para aquele país.

O etanol brasileiro, produzido a partir da cana-de-açúcar, é bem mais competitivo que o etanol norte-americano, que é produzido a partir do milho. Isso porque o etanol da cana tem um “balanço energético” quase sete vezes superior ao do etanol do milho, sem contar o fato de sua produção reduz em 90% as emissões de gás carbônico na atmosfera, enquanto a produção do etanol do milho reduz em apenas 35% as emissões do gás. Apesar dessa vantagem comparativa do etanol da cana, a entrada do produto no mercado norte-americano é dificultada pelas barreiras comerciais impostas pelo governo dos Estados Unidos.

Para se ter uma idéia, para cada galão de etanol importado pelos Estados Unidos, é cobrado um imposto de US$ 0,54, o que encarece o produto brasileiro frente ao produzido nos Estados Unidos. Sem contar o fato de que o etanol do milho, em termos de preços no mercado norte-americano, já larga com vantagem, uma vez que o governo dos Estados Unidos gasta em média US$ 6,75 bilhões por ano com subsídios ao setor. Mesmo com essa dificuldade de penetração no mercado norte-americano, o mercado brasileiro de etanol deve continuar em um ritmo acelerado de expansão nos próximos anos, devido a uma série de fatores.

Maior demanda interna deve absorver produção do etanol
Primeiramente, é importante destacarmos que o grosso da produção de etanol é destinado ao mercado interno, uma vez que a demanda pelo produto tem crescido consideravelmente nos últimos anos. Isso se deve, basicamente, a estímulos do governo brasileiro que, desde 2003, vem dando estímulos fiscais para a produção e comercialização dos carros flex-fuel, isto é, aqueles que podem ser abastecidos tanto com gasolina quanto com etanol. Desde então, já foram comercializados mais de 9,6 milhões de automóveis flex, sendo que, de acordo com dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), os carros flex já respondem hoje por 42% da frota brasileira de veículos comerciais leves.

Como a perspectiva é de que a demanda por carros flex continue em trajetória ascendente, uma vez que o álcool tende a ter, durante o período da safra, preços mais atrativos que o da gasolina, estima-se um crescimento vigoroso também do consumo interno de etanol. Além disso, o governo tem estimulado o uso do etanol não somente em carros leves, mas também em frotas de ônibus urbanos (os chamados “ônibus verdes”), como já é possível de se ver em capitais como São Paulo, e também como matéria-prima para a indústria de plásticos, para a produção do chamado bioplástico. Além disso, está em fase de desenvolvimento o chamado etanol de 2ª geração, que é um álcool produzido a partir do bagaço da cana, e que deve chegar ao mercado nos próximos anos.

Tendo todos esses fatores em vista, estima-se que a produção de etanol no Brasil deve atingir na safra de 2015/16 o patamar de 46,9 bilhões de litros, o que representa um valor 82,5% superior à produção de etanol na última safra (25,7 bilhões de litros), segundo projeções da Unica (União da Indústria de Cana de Açúcar). Enquanto isso, o consumo interno do etanol deve passar dos 22,5 bilhões de litros verificados na safra 2009/10 para 34,6 bilhões de litros na safra 2015/16, ou seja, um crescimento de 54% no período. As projeções para a safra de 2020/21 são ainda mais animadoras: enquanto a produção do etanol deve crescer para 65,3 bilhões de litros (alta de 154% frente à última safra), o consumo interno deve atingir 49,6 bilhões de litros (expansão de 120% frente ao valor atual).

Crescimento das exportações para Europa e Ásia
Uma análise cuidadosa das projeções da Unica nos permite observar que é esperado um crescimento vigoroso do consumo interno de etanol, mas em taxas bem inferiores ao crescimento da produção. Isso quer dizer o que? Como a previsão de estoque é contabilizada nos números do mercado interno, a diferença entre produção e consumo projetado refere-se às expectativas de exportação do etanol brasileiro nos próximos anos. De acordo com as projeções, o Brasil deve ter um excedente para exportação na safra de 2015/16 de 12,3 bilhões de litros de etanol, o que corresponde a quase quatro vezes mais do que o patamar exportado na safra de 2009/2010, que foi de 3,2 bilhões de litros. Para a safra de 2020/21, as exportações de etanol devem atingir 15,7 bilhões de litros, segundo as perspectivas.

Isso mostra que a despeito das barreiras comerciais impostas pelos Estados Unidos ao etanol brasileiro, a exportação desse produto deve crescer nos próximos anos, especialmente devido à entrada em novos mercados. E é importante salientar que essa diversificação de mercados já está sendo incentivada pelo governo brasileiro: para se ter uma idéia, as exportações brasileiras de etanol para a União Européia saltaram de 200 milhões de litros em 2003 para pouco mais de 900 milhões de litros em 2009. Aqui cabe destacar que, em 2008, o volume de etanol exportado para a EU superou 1,4 bilhão de litros, sendo que a retração no ano seguinte pode ser explicada pela crise econômica que afetou diretamente as economias daquele continente.

As exportações do etanol brasileiro para a Ásia também cresceram consideravelmente ao longo dos últimos anos. Para a Índia, por exemplo, a exportação de etanol passou de 9,9 milhões de litros em 2006 para 371 milhões de litros em 2009, um crescimento difícil até mesmo de ser expresso percentualmente. O Brasil também exportou mais etanol para a Coréia do Sul: 317 milhões de litros em 2009 contra 93 milhões de litros em 2006. Com a perspectiva de que a demanda por biocombustíveis cresça nos próximos anos tanto na Europa quanto na Ásia (influenciada até mesmo por tratados internacionais de despoluição) e também de que, no médio a longo prazo, os Estados Unidos retirem as barreiras comerciais à importação, estima-se um crescimento vigoroso das exportações do etanol brasileiro na próxima década.

Dessa maneira, embora tudo indique que o Congresso norte-americano deverá prorrogar as tarifas de importação e o subsídio ao etanol do milho, inviabilizando, assim, as exportações do etanol brasileiro para os Estados Unidos, as perspectivas para o mercado do etanol brasileiro são bastante positivas. A combinação de crescimento da demanda interna com a diversificação de países compradores do produto (especialmente na Europa e na Ásia) deve contribuir sobremaneira para que o setor sucroalcooleiro continue em ligeira expansão nos próximos anos.

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